Admito que não estava à espera que acontecesse tão cedo mas aconteceu: os preços dos bens alimentares no mundo ocidental começou a disparar. A especulação agarrou-se aos cereais e outros alimentos essenciais como cão a quem falta osso melhor. O que tinha aguentado os preços até recentemente era a política de agricultura subsidio-dependente dos países civilizados, já que a produção há muito se revela insuficiente para cobrir os crescentes custos de produção (a começar pelos combustíveis). Junte-se o fim desta ajuda (prioritários são os défices, não a comida) com a especulação que é a base deste nobre sistema económico em que vivemos, o capitalismo e aí está: vêm tempos de fomeca. Para nós é muito grave. Para os países em desenvolvimento é uma catástrofe. A fome já gerou muitas revoluções e guerras sangrentas mas como a humanidade não aprende, principalmente quando o que conta são os bens de luxo que são o cartão de visita do capitalismo e aos quais a populaça se agarra com unhas e dentes, sem melhor do que fazer do correr para os hipermercados aos fins-de-semana, pouco há a fazer.
Talvez nos faça bem voltar a aprender que há coisas muito mais importantes do que o tunning de automóveis, piscinas no quintal, passerelles, diamantes para a patroa e consolas para os putos. Talvez consigamos abrir os olhos para o facto de que a economia de mercado enriquece uma minoria enquanto obriga a mioria a contar tostões para pagar os bens de primeira necessidade, a mesma minoria que vem para os media falar para nós pobres idiotas que nada percebemos de competitividade empresarial, a mesma minoria que acha que o estado é um empecilho excepto quando os outros meninos da mesma minoria fazem batota ou quando os impostos pagam subsídios a privados e lhes dá obras públicas para executar. O mesmo tipo de corja que especula (e enriquece bem e facilmente) com aquilo de que precisamos também afunda, desmantela e deslocaliza empresas, não paga impostos sobre mais-valias bolsistas e merdas afins. Eu sei que o anti-capitalismo gera mais ódio do que todo o fanatismo religioso junto, os comunistas já o tinham percebido três quartos de século antes de Estaline sequer chegar ao poder, mas que ninguém se esqueça que há algo capaz de mobilizar muitos mais milhões em torno de uma diferente forma de ódio: a fome.
. Fominha (até) no mundo oc...
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