Foi interessante assistir ao debate, tornado público na TVI24, entre o senhor Conselheiro Nacional para a Ciência e dois indivíduos que nada sabem sobre a mesma e que, pouco ou nada aprenderam sobre o dito assunto. E o senhor Conselheiro falou de Factores de Impacto. E de bolseiros. E de É Érre Cês. E de outras coisas complicadíssimas aos olhos do jornalista e do economista que o escutavam como escutariam o Oráculo de Delfos, para não falar do grande público. E assim todos escutámos o senhor Conselheiro enquanto afirmava, com todas as certezas do mundo, que a grande maioria dos investigadores é medíocre porque não publica nas revistas em que ele próprio tanto deve publicar que já é para elas o que a Paula Bobone é para imprensa cor-de-rosa. E disse ainda que investigar em Ciências Sociais e Humanidades de pouco serve para o país. E que os investigadores devem trabalhar por ‘encomenda’, isto é, se tiverem o nível de publicar apenas nas mesmas revistas (e na mesma área científica, suponha-se), que o senhor Conselheiro Nacional.
Esquece-se o senhor Conselheiro Nacional que, há cerca, de duzentos anos atrás, um bando de betinhos andava pelas academias inglesas a brincar com uma atracção de circo, uma tal de ‘electricidade’ quando, na verdade, se se tratassem de verdadeiros patriotas, deveriam andar a cavar batatas ou a escrever sobre os benefícios do tabaco que tanto lucro gerava à coroa imperial. E que tal discutirmos essa carolice, feita sem ‘encomenda’ ou perspectiva de lucro, de dois tipos elaborarem a estrutura tridimensional de uma tal coisa sem aparente finalidade para o grande público chamado ácido desoxirribonucleico? Para não falar daquela gaja que tinha andado a sacar fotografias de raios-X (imagine-se!) a tal coisa.
Esquece-se, e emprego aqui o verbo esquecer pois desconhecer é grave para um homem de Ciência como o senhor Conselheiro Nacional, que a gestão dos recursos pesqueiros, por exemplo, assenta em ciência publicada em revistas científicas internacionais com um factor de impacto de um ou dois. Assunto que, o senhor Conselheiro habituado a publicar, certamente, em revista com dez, vinte ou trinta vezes esse dito factor de impacto, não tem qualquer capacidade para entender. Talvez também não saiba o senhor Conselheiro, nem ficaram a saber os outros dois senhores que o ouviram ou o público em geral, que Patterson publicou o seu artigo sobre essa coisa insignificante que é o envenenamento global de chumbo pelo uso de combustíveis aditivados, numa revista que ainda hoje tem um factor de impacto de dois. Sim, na altura a Science e a Nature já existiam e foram precisas décadas para que Patterson conseguisse publicar nestas revistas as suas conclusões. Antes disso, limitou-se a publicar em revistas ditas menores, nas tais que o senhor Conselheiro entende destinarem-se a investigadores menores, tendo passado uma boa porção da sua vida científica em tribunais porque, precisamente se recusou a entregar a sua ciência à ‘encomenda’ de grandes empresas petrolíferas e aos governos que as flanqueavam.
Desconhece o grande público, e assim o senhor Conselheiro faz por acontecer, que a Ciência a que os cidadãos devem mais trinta ou quarenta anos de esperança média de vida não foi feita por ‘encomenda’ de nenhuma empresa ou governo, mas sim pelo génio, vontade e esforço de uns quantos homens e mulheres que se dedicaram e dedicam ao seu trabalho por pura paixão pela descoberta. Desconhece o grande público que cada medicamento tem por trás ciência fundamental que não foi paga por nenhuma farmacêutica. Desconhece o grande público que hoje há um cientista, certamente bolseiro, precário, a quem o senhor Conselheiro de estado recomenda que mude de vida, que publicou numa revista com um índice de impacto ridículo aos olhos do Conselheiro a descoberta de uma nova molécula extraída de um qualquer verme aparentemente insignificante e que daqui a cinco, dez ou quinze anos poderá ser a base de síntese de um fármaco que irá revolucionar a luta contra o cancro.
Do grande público, não se espera que saiba nada disto. Nem dos economistas. Nem do primeiro-ministro, cujo cinzento passado académico não lhe confere qualquer mérito para se sentar à mesma mesa do que qualquer jovem candidato a doutoramento. No entanto, do senhor Conselheiro esperar-se-ia mais. O que sucede é que é que o senhor conselheiro sabe, e bem, como funciona a Ciência. E sabe que a Constituição defende o livre direito à criação intelectual, artística e científica. O que lhe convém, contudo, é colocar-se a ele próprio num pedestal destinado às elites, ou assim o julga, que só publica Sciences e Natures. Pois desengane-se, senhor Conselheiro, que o mundo pouco ou nada se irá lembrar de si como cientista. Ao contrário do bolseiro, precário, sem direitos básicos como o subsídio de desemprego, sem futuro ou perspectivas e que você pretende que vejam como uma espécie de chuleco a viver à custa de fundos públicos, que descobre uma substância qualquer extraída de um verme e que, daqui a uns anos, talvez lhe venha a salvar a vida.
Harpad
Biólogo.
Precário científico, vulgo investigador.
Indivíduo que se refere a ele mesmo como Investigador em Ciência e não como Cientista pois Cientistas foram Einstein, Marie Curie e Carl Sagan. E Newton. E Faraday (que nem formação académica tinha). E Lynn Margulis. E que recomenda que o senhor Conselheiro tenha a humildade de fazer o mesmo.
P.S. Se o senhor Conselheiro Nacional está tão preocupado com o bom uso dos fundos públicos que são utilizados para manter a investigação em Portugal, porque não dedica o seu tempo a explicar ao grande público a razão pela qual tantos inamovíveis de produção académica e científica nula se mantém nas escolas e laboratórios do estado. E interrogue-se também que fenómenos de compadrio político, familiar e negócios de aventais permitiram as suas colocações, em lugar do mérito.
Outro P.S. Explique também ao grande público, senhor Conselheiro, o motivo pelo qual a Dinamarca não é propriamente uma potência científica internacional. Ou a Hungria. Ou mesmo a Escandinávia. E explique, já agora, por que motivo Oxford (essa universidadezeca) limpa o traseiro às sua noções de ‘ciência por encomenda’.
Some Europeans must be wondering by now how was it possible that a financial crisis born within the deepest core of the capitalist principles in the U.S. suddenly became such a problem for Europeans. Not a problem to all of us, however, we should reckon that. The reasons are few and simple, regretfully to any conspiracy theory enthusiast, and can be summarized into three main issues: 1) the U.S. desperately needed to divert attention from the subprime mess and to guarantee the Dollar’s high value against its rival, the Euro, and thus obscure institutions run by obscurer individuals called the rating agencies quickly set the attack; 2) in a Europe almost entirely dominated by the right–wing, attacking the very essence of the social state by stating that it is just too expensive to keep was the ultimate, and long–wanted, leverage to revert the life of Europeans back to the Victorian age and 3) there are many of those in Europe that long realised that moving manufacturers and suppliers eastwards is not at all good business as once suspected – the best would be to have cheap labour within Schengen’s, therefore devoid of excessive tolls, taxes, long routes and products of uncontrolled quality. The Chinese are beginning to be a little tired of working themselves to the ground for a few bowls of rice, anyway, and their over–protective economy is not the ultimate capitalist El Dorado.
The obvious solution, as seen by Europe’s mediocre politicians, puppeteered by international banks and other corporations to whom human life is nothing else than collateral damage, was an old solution: the PIGS. In the past, Portugal, Ireland, Greece and Spain, all in famine, three of them in the hand of dictatorships supplied millions of cheap, semi–enslaved workers to the “developed” world, especially central and northern Europe. Imagine now what it would be for industrial corporations if they could settle in low–tax countries with cheap, compliant workers as a result of high unemployment, in a continent with tax–free borders. Forget about China. Or India. Or whoever. Portugal is the place for high–quality and low–cost fabrics. The Irish were once the cheap mill labourers of the British Isles.
Simple solutions generally imply simple requirements. Say their debts are too high and that you will not lend them any more money if they do not comply with your demands. Make wage reduction a demand and facilitate lay–offs and say that turns economy more competitive. Say they need to impoverish, an expression all too common nowadays, as if this would solve anyone’s problems. If you add old–fashioned, foolish nationalisms into it, you shall get all the favourable public opinion you need. Furthermore, right–wing politicians in these countries are only too keen to comply with all of this, if not for ideology, for personal benefit of just plain stupidity. For a few Masters–of–Europe this is a win–win situation to which is added the amazing profits of loansharking to indebted countries – the business of the hour for European and world–wide financial groups. Just look around: you will find a present, former of potential Goldman–Sachs employee at every political corner in the continent.
This means one thing, of course. One–fourth of the Europeans just lost their right to be Europeans. Yes, it’s true. More than one hundred millions PIGS lost their right to citizenship. Their right to fight for a better life and even to hope. And for what. To make a few Anglo–Saxon yuppies very very rich and very very happy. In any mid– or long–term perspective, the Germans the British the French and Scandinavians and many others (including in the U.S.) will lose more than one–hundred million consumers. Or one–hundred million European tax payers. Or potential scientists, engineers, artists, doctors, architects, politicians, why not, and other valuable assets to any nation. Not to mention the lost jobs from one region to another. Note that I do not write about human ethics. Or moral. Or humanity. There is no point in that, capitalism never had none of those and never will. Money and power speak only to money and power and understands nothing else. My appeal is not made to policy–makers, technocrats and to the fat of the land. I make it to Europeans. Yes, you and I. I am writing from Lisbon. In my quarter live people from all over Europe. We share these streets, our wealth, our well–being, our daily–bread. My call is to all of you. Let us think if we want to live inside guarded borders again. And inside regional hatred and envy. And imperialism. And divided by walls, especially those made from the bricks of prejudice. Think where that led us in the past.
Unite.
Para todos aqueles que, como eu, escreverem uma ou duas vezes alguma obscenidade numa parede degradada e assim obtiveram uma licenciatura em Conservação e Restauro pela Lusófona, este site é imperdível. Não percam também a excelente galeria criada pelos melhores especialistas da actualidade.
Aqui fica a criação deste vosso compadre.
em quanto tempo posso tirar uma licenciatura na universidade de Verão do PSD? Uma vez bifei vinte paus aos meus pais, guardando o troco de meio quilo de trinca de arroz na mercearia: a quantos créditos terei direito pelo feito? Terei equivalência directa à cadeira de xico-espertismo?
Faixa de boas vindas ao super-ministro dos Assuntos Parlamentares E Manobras Obscuras, em Díli, esta semana. Retirado do Público.
Ao que parece, o IEFP impõe requisitos de tal maneira apertados nas suas ofertas de emprego que até já os publicita pedindo pessoas com um nome específico, neste caso a oferta nº 587847025 para um educador de infância em Tavira.
Trata-se certamente de uma nova estratégia para prevenir evitar o célebre "cem cães a um osso" numa altura em que o nosso querido líder conseguiu altrapassar a fasquia dos 15% de desempregados no país, uma vez que o "simplex" não se aplica ainda à mudança de nome, ou, para os efeitos, de sexo. Já agora, penso que existe um "A" a mais nos requisitos definidos na rúbrica "Outros conhecimentos".
Na Suíça, agora os músicos "de rua" (sim, esse pessoal que também temos por cá) tem de se apresentar para um audição nas esquadras de polícias para receber aprovação da bófia local para poder trabalhar. Existe uma autorização em papel e tudo, que tem de estar visível ao público aquando da actuação.
Na esquadra, o júri é formado pelos especialistas locais em artes musicais e do espectáculo: na ausência do Abrunhosa em uniforme temos a senhora recepcionista, o equivalente suíço ao geninho de bigode ou mesmo o chefe. Enfim, quem quer que lá esteja (sim, o polícia local disse isto mesmo). Provavelmente até chamarão um ou outro reclusosito (por exemplo, um mau músico de rua detido por exercer sem licença) para debitar a sua postazinha de pescada.
Se eu fosse um tocador de pífaro da Rua do Carmo preferiria que me dessem duas bastonadas nos cornos, à la antiga.
Nos Estados Unidos, o candidato republicano ao Senado Todd Akin (candidato pelo Missouri), afirmou que, em casos de "violação legítima" (sim, legitimate rape), as mulheres dispõem de mecanismos naturais para impedir uma gravidez. Isto claro, para justificar a sua posição contrária a qualquer liberalização da interrupção voluntária da gravidez.
Entenda-se, portanto, que, se uma mulher chegar mesmo a engravidar como resultado de uma violação deverá tratar-se de uma rameira que, certamente, não só apreciou o acto como estava, de facto, a pedi-las.
As many of my fellow countrymen, I would be lying if I said I particularly admire this character. I admit, though, he probably made the speech of his lifetime. I strongly suggest you listen to it till the end.
For more than two-thousand years the Mediterranean world was the centre of civilization. Before it, the Middle–East and even Africa (remember the Nubians and the Egyptians). In parallel, great civilizations sprung in the Far–East and in the lands that today are known as Latin America. During more than two–thousand years, however, the Mediterranean people gave birth and rise to what we proudly call the Western Civilization. There were wars, massacres, slavery and deceit but amidst there were arts, philosophy, science, prosperous cities and the first concepts of democracy. It was a grand adventure that began with the Greeks, followed by the Romans and accompanied by others such as the Carthaginians and the Phoenicians. All of them are responsible for our culture and are indisputably the base stone of what we are today. What was left from the Roman Empire by Christianity was overrun by barbarian chiefdoms from the North and then came a thousand years of darkness. The Portuguese sprung out and the unlikely candidates to form the first overseas empire of the contemporary world and were followed by the Spanish, right about the same time the states now called Italy regained their throne, not as a military empire, rather as the cultural and financial centre of the world. When the bi–headed power of Feudalism and Catholicism eventually rendered into a blockade to our civilization’s development, the new–born Protestant ethics opened the doors to new prospects of human endeavour. England led the way through the iron attitude of Elizabeth, curiously the last inheriting monarch of a short, albeit rapidly decaying, Tudor dynasty. There followed the French, the Dutch, the German, the North Americans, the Scandinavian and their power and might reign throughout and whichever this five century–old re–born western civilization yields seems to be endlessly coveted by the rest of the world, from the Americas to the Far–East and hated by those who secretly seek but fail to achieve it.
The Mediterranean world now lays forgotten, humiliated, nothing more than a touristic destination for its sunny beaches and picturesque villages, statues and ruins of old. Here the Anglo–Saxons come to live their retirements while their grandchildren get drunk roaming through the warm streets by the night and their children attain high positions in blood–sucking multinationals, both attracted to the more permissive morality erroneously attributed to hindered societies. North Americans visit Europe and get bored because they expect instant bliss from everything. South Americans come to Europe to buy stuff. Rich Asians come here spend their time looking at the screens of their ultimate smartphones. Greece, the very foundation of the Western civilization, stands now humiliated, socially and economically shattered, dominated by world–class finance and ruled by second rate bank clerks. Meanwhile, three–thousand years of Mediterranean history and the strength and the genius of the men who built it are scorned by less than three centuries of the ultimate Anglo–Saxon creation, Capitalism. The southern Europeans are seen as lazy, corrupt, decadent, at best bullfight–exotic as portrayed by Hemingway. We are no more corrupt than our northern counterparts, nor do we escape taxes more than North Americans. We do not have oil or deal weapons as the Scandinavian, the British and the American, the two businesses that contribute the most for home revenues of many so–called developed countries, especially if combined with the High Finance.
The elder from Athens and Rome, those who once invented the concepts of Democracy and Republic, Philosophy, Justice, Literature and fine arts, men like Aristotle, Plato, Seneca, Michelangelo, Cervantes, and explorers like Columbus or Vasco da Gama, are now reduced to subservient little figures pouring pints of beer to the all–mighty men of Davos. Interestingly, much has been talked about the emergent powers, however, the aforementioned concepts were not invented in India, China, Brazil or even Russia and Japan. Or England, Sweden, Finland, Austria, Canada or the United States, as a fact. But everyone benefits from them. Perhaps there are many good things in our civilization that are worth fighting for, certainly not Fitch, Moody’s or Goldman–Sachs.
Meanwhile, the dollar versus euro war continues and the men from Davos keep getting richer and mightier. Southern Europe is the obvious target that appeases all courts of the Anglo–Saxon dominion: it serves the speculative interests of North–Americans, keeps European neo–liberals in power, puppeteered by loan sharks that lend money to the south countries at prohibitive rates, and serves just right to show how Mediterranean Europe is inferior. It is easily forgotten, or ignored, that after three–thousand years of civilization, Southern Europeans do not really care for the disputes between the English, the German and the French and certainly care much less for borders within Europe and little soldiers all around them. We do not fight each other anymore. We are Europeans and strive to be Europeans. Unlike the common cliché, the men and women of southern Europe work harder and cheaper than everyone else in the western world. How many of us build the U.S.A and reconstructed London after the Blitz and laid bricks in the flattened Dresden? We produce good art and science in Europe and all around the globe. Sure the southern Europeans have much to blame themselves: we spent decades, centuries, enthroning, electing and serving mediocre political, religious, and military leaders. And we still do. The appalling politic class that reign us right now are nothing than a troop of technocrats availed by the German Bundestag.
Capitalism and Anglo–Saxon nationalism are not just destroying the economy of modern Greece: they are destroying the history of the western civilization and no civilization will ever survive by destroying the very pillars it stands on. It is not expected that mediocre leaders such and Chancellor Merkel and Cameron to understand this, as well as any leader from the other side of the Atlantic, spawned from a culture for which history means last year. However, all these figures forget how much they owe to Mediterranean culture. And while the legacy of this same culture – an entire civilization – is on the outbreak of being destroyed, the great Anglo–Saxon power and might has rendered sixty million dead bodies in two world wars, a holocaust, a wall, national–socialism and weapons of mass destruction as collateral damage to smartphones and the Apollo program. Apollo was the ancient Greek god of the Sun. Remember Greece? Scientific thinking begun there, by the time that Germanic tribes and their chieftains were worshipping wooden poles in dark forests.
...et à quoi bon?...
Pois muito bem, pela minha parte, sempre temos uma notícia boa no meio desta espécie de idade das trevas da mediocracia. A pergunta que aqui deixo (propositadamente em francês, apenas que que fique claro o elevadíssimo valor intelectual do autor), tem, no entanto, razão de ser.
Para a batalha franco-alemã que se avizinha, Hollande tem, à partida, uma grande desvantagem do seu lado: é francês. E o último francês a levar a melhor sobre um alemão nem sequer era bem francês mas sim um corso. O meu pessimismo pós-realista, em guerra feroz com o positivismo humanista, conseguiu no passado Primeiro de Maio, atravessar essa zona desmilitarizada que é corpo caloso e agora ocupa ambos os hemisférios cerebrais, pelo que, sou dado a pensar que entre o chauvin franciú e o nacional-capitalismo que caracteriza todo e qualquer político saído da antiga Europa de leste, dez vez pior sendo alemão, quem se vai tramar é esse mexilhão chamado Europa.
Talvez a melhor notícia do dia venha da Grécia: não pela subida dos greco-nazis (cuja mera definição faz tanto sentido quanto um vegan canibal) mas porque aqueles tipos, na sua postura mediterrânica perceberam que não se entendem, nem se vão entender e provavelmente nem o querem. Se a Grécia se transformar em rastilho, talvez assistamos ao nascimento de algo democraticamente diferente, ou anarca (extrema direita não creio...), pois é claro que os gregos estão fartos - de tudo e de todos e acima de tudo de partidos envelhecidos e institucionalizados que, como em todo o lado, nada fazem nem sabem como (nem o fariam se soubessem) para resolver os verdadeiros problemas dos povos. Talvez os gregos sejam os primeiros a perceber que precisamos de uma verdadeira democracia - pela segunda vez na história da humanidade - pelo que a que temos precisa de ser melhorada, afastada de políticos de merda, de corruptos, de tecnocratas, de medíocres em geral, e, acima de tudo, desse cancro que tudo corrói chamado capitalismo. E não me parece que o senhor Hollande detenha este tipo de clarividência.
Ainda sobre o Pingo Doce, há que salientar que podemos estar na presença um de dois recorrentes fenómenos da lógica capitalista: ou o grupo do SDS praticou dumping, o que constitui (ainda) uma crime punível pela lei portuguesa, ou (tcha-rããã!) detém, tal como os restantes hipers, margens de lucro brutais.
Aparentemente, exceptuado quatro (!) produtos, o grupo do SDS tem, de facto, margens de lucro que chegam a rondar os 80%, o que constitui, efectivamente, uma prova indelével da ética capitalista, aprovada, apoiada e propagandeada pela ideologia neo-liberal. Eis, portanto um "vencedor".
Num mundo melhor, sem tanto empreendedorismo (adoro esta palavra!) capitalista, portanto, utópico, ridículo, retrógrado e essas coisas todas, essa margem de lucro seria reduzida para que os produtores pudessem receber mais pelos seus produtos e ainda sobraria boa margem para que os clientes finais pagassem menos por eles.
...sem falar de pagar dignamente aos seus empregados, sobre os ombros dos quais este tipo e a sua família sustentam a sua enorme riqueza...
Ao contrário do que muito se discute nos dias de hoje, creio que a famosa iniciativa de promoções empreendida pelo Pingo Doce no passado 1º de Maio foi um acontecimento bastante positivo, pois fez incidir sobre nós, povo, a magnânime luz da realidade. Em primeiro lugar, há que louvar o próprio Soares dos Santos (SDS), ou quem quer que da sua esfera de doutos pensadores, pela brilhande ideia de realizar o evento nesse preciso dia. Num outro dia dia qualquer seria simplesmente acusado de "dumping". Assim, conseguiu, ao mesmo tempo, irritar o Belmiro, agrilhoar os seus trabalhadores (perdão, colaboradores, que isso de "trabalhar" é feio) e transformar a celebração do dia do trabalhador numa patacoada que, às costas dos jornaleiros do costume (sim, leram bem), reduziu as notícias do dia (e seguintes) à promoção de uma cadeia de lojas. Conseguiu até fazer com que os deputados se sentissem livres para discutir contas de supermercado na Assembleia da República quando, anteriormente, o pudor lhes permitia apenas passar as manhãs a rabiscar a lista de legumes, acepipes e champô para a caspa, a levar para casa no fim do dia (antes escrevia-se a lista de compras num pedaço de cartão rasgado de um maço de SG Gigante, hoje os deputados podem até tuitár sobre a promoção de fraldas para incontinentes do Pão de Açúcar).
No entanto, O SDS, conseguiu mais, muito mais do que reduzir o dia do trabalhador a publicidade gratuita à cadeia de supermercados a que preside. Conseguiu demonstrar que o dia que marca a luta dos trabalhadores pelos seus direitos de nada vale. Salazar nunca conseguiiu tanto: limitou-se a proibir a coisa. O SDS conseguiu ridicularizá-la. Conseguiu demonstrar que os portugueses, esses pobrezinhos, coitaditos, não passam de carneiros de que elites dispõem como entendem. Este é tembém é o tipo que não há muito tempo queria criar cursos (pagos do seu próprio bolso... o mãos largas!) para ensinar os seus "colaboradores" a gerirem os seus ordenados humilhantes.
Agora imaginemos o seguinte: cem euros representa uma boa soma, demasiado grande para os bolsos dos verdadeiramente necessitados. Seguramente muitos destes não poderão dispender tanto dinheiro de uma só vez. Quem terão sido, então, os principais clientes do SDS no primeiro de Maio? Em boa parte, talvez uma classe média com medo do amanhã. Talvez. Mas das lojas voram também garrafas de bebidas espirituosas. Muitos clientes admitiram que gastaram ali muito mais dinheiro do que alguma vez pensariam e boa parte em merdices que pouca falta lhes fazem. O que aconteceu, então? Simples: mais uma vez, lá foram os carneiros armados em xicos-espertos, para onde os mandou o pastor.
Promoções? Méééé. Austeridade inevitável? Méééé. A culpa é do Sócrates? Méééé. Fio dental extra encerado com efeito branqueador agora apenas a um euro e noventa e nove? Méééé.
Aquilo que o SDS fez foi medíocre, pensado por um medíocre para outros medíocres. O governo da santíssima trindade Portas-Coelho-Relvas (PCR) não compreende o exagero: afinal é uma estratégia de negócio perfeitamente limpa. E é. Tal como a agiotagem do FMI, tal como as negociatas com activos tóxicos (lembram-se, despoletou esta crise - não a dívida soberana), tal como pagar odenados de treta, tal como mover sedes para paraísos fiscais, tal como comprar um jacto para uso particular mas facturá-lo à empresa para fugir aos impostos. Tudo isto é legítimo. Tudo isto é medíocre. Tudo isto é Capitalismo e, convenhamos, o Capitalismo assenta muito muito bem aos carneiros.
E o nosso coelho-ministro vai acumulando afirmações que ficarão guardadas nos anis da História. E a de hoje é: os portugueses têm de se habituar a níveis de desemprego a que não estão habituados.
Magnífica frase para um Primeiro de Maio.
Depois do célebre conselho enviados aos portugueses ("emigrem"), eis, portanto, mais uma indiscutível prova de que este indivíduo conseguiu "corajosamente" (sic) ir mais além do que a simples desistência de governar o país: conseguiu demonstrar que se está, efectivamente, borrifando para esse propósito (e que sempre esteve). Afinal, o laranjame já tem o que quer: tachos, PPPs à maneira e agradar àqueles que têm contas a fazer com os direitos conquistados por Abril.
Com a vossa licença, puta que pariu.
Reflictamos, hoje, já que se trata de uma actividade a que pouco nos dedicamos nos restantes dias. Deixo aqui uma dica. A RTP 2, na sua rúbrica excelente, "Dia D", dedicada a uma série de brilhantes documentários sobre o 25 de abril, exibiu na madrugada passada (lamento apenas a hora tardia) este brilhante documentário ("Os Donos de Portugal") sobre as poucas famílias a quem Portugal efectivamente pertence, da autoria de Jorge Costa. Numa altura em que o raciocínio ideológico não parece conseguir sair do terreno de (des)culpabilizações em que tanto a crise quanto a peste negra e mais as derrotas das nossas equipas de futebol são culpa do Trócas; vale a pena pensar se a luta de classes é realmente coisa do passado e se a democracia será, ainda que vagamente, compatível com o lamacento mundo do capital. Pode-se consultar mais alguma informação sobre este documentário neste artigo do Público.
Aproveito também para perguntar ao senhor Relvas (vocês sabem, o Primeiro Ministro, o outro é apenas um Coelho-Ministro) se este tipo de documentários passaria numa RTP2 privatizada.
Quando conceitos catitas como "empreendedorismo", "défice" e "troika" estão na ordem do dia e se infiltram no mundo da ciência, o resultado matemático da sua junção é o desinvestimento na investigação fundamental e entrega da investigação aplicada ao milagre do financiamento privado que, mesmo que exista (no nosso país, quase nada), não é sensível ao tempo, esforço e método em geral que determina o avanço da ciência. Desconhecem os políticos, empresários e público em geral que a grande maioria do conhecimento de que dependem tantas e tantas coisas no nosso dia a dia tem como base o trabalho árduo de uns poucos indivíduos fechados em laboratórios, mal pagos, explorados e esquecidos e que se dedicaram (por vezes toda a sua vida) a criar conhecimento aparentemente "inútil" para o mundo capitalista (entenda-se, sem comercialização imediata). Lembremo-nos da dupla hélice. Ou da tabela periódica. Ou da estrutura de um átomo. Ou do papel da flavina adenina dinucleótido. Este conhecimento fundamental, no entanto, integrado anos e décadas mais tarde com outras descobertas (algumas de dimensão aparentemente irrisória) e novas técnicas permitiu que hoje tenhamos medicina molecular, que não matemos os piolhos dos nossos filhos com DDT, que tagarelemos sem parar usando telemóveis e que tenhamos veículos mais ou menos ecológicos que se recusam a andar se nos esquecermos do cinto de segurança e de lavar os dentes.
... sacanas!... e não é que esta canalha quer viver mais do que recomenda o FMI?...
De acordo com o El País, 'El FMI pide bajar pensiones por "el riesgo de que la gente viva más de lo esperado".'
não pode ser não pode não pode não pode não pode não pode não pode não pode não pode não não não não pode ser não pode não é possível não pode não pode
não NÃO
po PO DE
de
SER !!!
ser
Mein Gott!
боже мой!
Mon Dieu!
Oh my God!
Dios mio!
Valha-nos Cristo!
Ω Θεέ μου!
e o ceú pariu um número
os padrecos querem vê-lo no rebanho
a polícia deu-lhe uma bastonada pelosimpelonão
governo e sindicatos dizem que é diferente
gente numa assembleia que só lá está para fazer número
não sabedoquesetrata
e os jornais cheios de séria gente de negócios
que posa de braços cruzados e meio sorriso na boca
e que falam de números e de terras
que não conhecem como se fossem números
e de números que são pessoas e de
pessoas que afinal não passam de números
e que estão contentes por serem números mesmo
que lhes tirem uns quantos zeros porque afinal
doisedoisnãosão quatro são o que os senhores e
senhoras de braços cruzados nos jornais dizem
e há quem seja um número de revista
uma boneca de plástico sem sítio na cabeça onde
colocar tanto ou tãopouco número que dizem que tem
os números certos para quem não sei
e há quem apareça porque tem uma data de letras no nome
mais do que tu mais do que eu e quem
seja capa de revista porque é uma vaca que pariu
uma data de vitelos alimentados por um senhor
que apareceu num jornal de braços cruzados e
mais quem tenha aumentado as tetas duas vezes
e há quem tinha a v i d a feita num número de circo
e
resumida a um número numa fila de espera para que lhe
digam que não há trabalho
assim dizem os números
mudedevocação
e agora fazes parte de mais um número
e chegas a casa e não há pão em número que chegue
e as contas têm demasiados algarismos
será que na casa dos senhores de braços cruzados e sorriso
de triunfo se passa o mesmo
divorcias-te e passas para uma outra lista de números
por favor morre não adoeças que lá vêm mais números
nem envelheças não aumentes esse número mais morto
que os mortos ninguém quer esperar que os velhos morram
num banco de jardim
não sejas jovem não sejas adulto
sê um número
e números e números e números
tivesse eu ao menos os números certos para poder aparecer
em capas de jornais e revista
e não precisaria de fazer tantas contas
mas acautela-te
tal como aprendi num banco de escola
diante de números que pouco me diziam
quantas vezes tremeu o homem do leme
e novevezesdoisdezoito
e doismaisdois são mesmo quatro
nada vezes nada continua a ser nada
e eu estou farto de nada
e quero que tefodasfodasfodas três vezes
Harpad 2012
O meu grande objectivo, de hoje em diante, será registar os inúmeros episódios de óbvia falta de inteligência que assola esta nosso admirável mundo (que nem por isso traz algo de novo). Espero um dia ser reconhecido (caso a humanidade sobreviva a esta hecatombe) por esta hercúlea tarefa. Serei um Zurara da mediocridade e a História far-me-á justiça, pois sem um cronista deste tema, jamais alguém acreditaria que isto aconteceu na realidade.
Aqui fica a amostra de hoje:
"[Cabe à PSP] acompanhar e analisar as notícias produzidas pelos órgãos de comunicação social e, consoante os assuntos noticiados, encaminhá-las para os competentes órgãos da PSP, sugerindo estratégias de combate às menos positivas." Fonte: Público.
Interpretem este excelente pedaço de literatura democrática como entenderem. Para onde quer que atire, é estúpido.
At the very beginning of a brand new millennium Europe is leaving behind almost three thousand years of history that gave birth and rise to the so-called Western Civilization and is now facing its definitive fall as an international reference. At the dawn of the twenty-first century we are now witnessing the definitive humiliation of Greece, mother of our civilization, followed by Italy, its second pillar, Portugal and Spain, the first overseas empires of the contemporary world. Others will follow at the hands of bureaucrats and technocrats and the ones they serve, namely old bourgeois families, remnants of old aristocrats, new local millionaires that made fortunes by every dubious mean and, most importantly, the yuppies to whom people, land and nation are nothing but collateral damage of their addiction to making millions.
Unlike what has been taught at schools, there were no winners or losers left in Europe after both World Wars. Europe lost. After centuries of foolish nationalisms, religious fundamentalisms, dictatorships, prejudice of all sort and, above all, fierce imperialism, Europe had lost its identity and its role in the World. However, our present leaders still insist to see Europe as a quilt made of unrelated patches, each regarding its neighbour as a vessel to draw money from and thus allegiances are made and lost to honour the most obscure benefits. In the process, Europeans were forgotten and are formatted to look at history as a succession of empires and the conflicts between them. As a result, the British rather become a protectorate of the US than work with their fellow neighbours. Germans and French easily criticize their southern counterparts regarding their finance, however submarines have been forcedly sold to indebted countries by unclear means that tend to leave a trail of corruption and waste. Rich countries forgot where their wealth is based on, meaning the cheap labour and commodity markets that are supplied by other countries. Not to mention who is benefiting from the abusive interest rates that are attacking poorer countries like ravaging swarms of wasps.
The mediocrity that grabbed the wheels of power is overwhelming. Unfortunately, this is not a problem restricted to our continent, of course, but such fact does not ameliorate the sadness of watching the motherland of so many philosophers, ideologists and revolutionaries so devoid of critical intellect. It is also clear that our leaders, high above in their pedestals, live in quite a different world from the one most Europeans dwell. Down here, our lives are played like if in a checkers game, mediocre politicians look at the very people they ought to serve like an embarrassing burden that makes statistics look bad. The very notion of the social state, which is the real reason why people came to live together, anyway, became an obstacle to finance, as once it was to the selfish objectives of sovereigns and dictators. Democracy itself is at its last when financial institutions now decide who is or not to govern a country. Remember Greece. And Ireland. And Portugal. And Spain. Others will, once again, follow. Meanwhile, our protests are ignored when not censored. Europeans are now collateral damage in their own home. History, however, repeats itself. Remember 1789 and 1917.
We should be fighting for our common home, without denying our ancestors, nationality or history. Europe should belong to all Europeans and all who wish to join us or become our allies. We should be proud that our home it the selection of all those who arrive at our shores in hope of a better life instead of chasing them away like unwanted beasts. We do not need more empires or weapons of mass destruction parading up and down the squares. And if we want oil, we shall simply buy it instead of supporting the dictator who may arrange the monopoly on our behalf. Our cities are now crowding with people from all over the continent, in fact from all over the world, taking benefit from free trade, liberty to travel anywhere and from our common currency which is under attack since it threatened the majestic USD. May all of us think if we wish to return to the era of fortified borders with little soldiers all around them. May we all look back and think if what we want is to return to the age of empires, dubious allegiances and treacheries that ultimately ended in two world wars, sixty-million dead bodies, a holocaust and a wall that divided the continent by the world’s new superpowers. May we think if we really want to go back to all that.
Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. — No fundo de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas de dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?
Almeida Garrett
(in Viagens na minha terra, 1846)
...ou assim desejariam uns quantos.
Proponho que sejam passadas em revistas todas as grandes vitórias do neo-liberalismo português, encimado por este nosso novo governo que tanto nos afoitámos por eleger:
1) Acabaram-se a saúde, educação e transportes verdadeiramente públicos e gratuitos ou de custo simbólico.
2) Acabaram-se os despedimentos com justa causa. Ficaram só os despedimentos.
3) Acabaram-se com as indemnizações dignas desse nome por despedimento seja de que tipo for.
4) Acabaram-se as férias pagas.
5) Acabou-se o conceito de bem de primeira necessidade. A electricidade é cara, o gás também, a água para lá caminha. Privatize-se o ar também, porque não.
Em troca recebemos:
1) Menos ordenado.
2) Maior carga fiscal.
3) Menor poder de compra.
4) Pior qualidade de vida.
E para quê, afinal? Para que os Amorins, Azevedos, van Zelleres, Mellos, Balsemões e outros figurões não paguem impostos em condições.
Assim sendo, todo um século de vitórias conseguidas a ferro pelos povos foi definitivamente enterrado. Eis-nos, portanto, regressados ao século XIX. Um detalhe curioso, contudo: no século XIX os estados já estavam endividados. Aparentemente,já então, esta merda toda de nada mais serviu, serve ou servirá, do que a manutenção do status quo de um punhado de ricos.
Sugiro que acordemos. Dia 15 para a rua.
Por mais que o desejem, por mais que o jurem os neo-liberais, por mais que culpem tudo e todos pelos seus insucessos (do estado social ao multiculturalismo), o capitalismo não é, nunca foi, nem será, sustentável. A aritmética do capital é simples: numa perspectiva neo–liberal, dois mais dois não são necessariamente quatro. Podem ser cinco, seis, ou zero, dependendo de onde sopram os ventos da especulação. No entanto, a aritmética real contradi–los: dois mais dois serão sempre quatro e assim, depois de sessenta anos de american dream, em que dois mais dois podia ser mudar de carro todos os anos, casa no subúrbio com piscina e consolas para os miúdos, eis que a matemática mais elementar chegou para cobrar. Afinal, o grande sonho americano, o grande horizonte capitalista não está ao alcance de maioria. A maioria, essa, endividou–se até ao tutano, deixou de pagar as contas e os juros do crédito que contraiu para se cercar de luxos inúteis e assim começaram a cair as empresas de crédito ao consumo. E depois os bancos que lhe emprestavam dinheiro. E por aí fora. Hoje, são os próprios países que estão em risco. É curioso pensar que o tal “efeito dominó” demonizado pelo senhor Kissinger afinal, não foi despoletado por ditaduras de loucos e genocidas que enterraram a esperança de milhões em Gulags e afins mas pela própria ilusão capitalista, se me é permitida esta fraca analogia.
A humanidade não pertence a ela própria. A humanidade pertence a uma elite. Esta elite não é de “esquerda” nem de “direita”, nem “democrata” nem “republicana” nem se identifica com “ismos”. Esta elite utiliza, isso sim, um “ismo” – o capitalismo – para exercer o seu domínio. Para esta elite, que detém, efectivamente, a quase totalidade da riqueza mundial, o resto da humanidade existe para a servir. O resto da humanidade é mão–de–obra e, simultaneamente, mercado. Nós, o resto, somos inferiores, o nosso propósito é a subserviência. Se existe fome, se existe miséria, se existe precariedade, para a elite, tal é um efeito secundário necessário para a manutenção do seu status, um fenómeno episódico que convém monitorizar e nada mais. Esta elite formou um grupo – arriscaria dizê–lo político se na verdade, não o soubéssemos acima de qualquer concepção de “política”. A democracia, para estes senhores, é algo com que as massas se entretêm para que se convençam de que são livres. A necessidade de financiar campanhas políticas e a eficácia dos grupos de pressão (ditos lobbies) garante–lhes o verdadeiro controlo sobre as nações. Colocaram–se de lado, para o efeito, rivalidades entre famílias, e criou–se o grupo Bilderberg, assim chamado pela localidade suíça onde ocorrem reuniões. Interessantemente, o tal senhor Kissinger tem sido o feliz cão–de–fila deste mesmo grupo. O capitalismo parece ser a ferramenta ideal para a manutenção do status deste grupo de poderosos, os verdadeiros senhores do universo: é apelativo – os humanos gostam de possuir e exibir as suas posses; é auto–sustentável ideologicamente – a grande maioria das pessoas prefere a ilusão de ser, um dia, parte da elite do que a certeza de que, levando uma vida honesta, poderão ter qualidade de vida garantida através de justiça social; e por fim, dinheiro cria dinheiro – quem é rico tem e terá as portas do mundo destrancadas, quem tem muito dinheiro, tem–nas escancaradas. Na prática, a receita é simples: privatiza–se tudo, garante–se um ensino de massas fácil, ilusório e estupidificante (veja–se Bolonha), tendo–se o cuidado de criar uma Ivy League para as elites que a possam pagar. O resto é o laissez faire capitalista e puro merchandising – é certo e sabido que as pessoas comuns mais depressa absorvem publicidade do que propaganda política. O sistema tem, contudo, falhas graves.
As elites, no seu conjunto umas poucas dezenas de famílias de todo o mundo, não foram, são, e dificilmente serão, afectadas pela crise financeira mundial. Ninguém lhes cobra mais impostos para cobrir défices e redistribuir a riqueza que andaram a acumular e cujo único propósito é a manutenção do status. Ninguém lhes pede para prestar contas pelo descalabro do sistema financeiro que divisaram e mantêm. Pelo contrário, estão cada vez mais ricos. O mercado económico dos comuns trabalhadores, esse, está cada vez mais depauperado de riqueza após a sangria desta para os bolsos da elite, ocorrido principalmente nos últimos sessenta anos, desde que os EUA tomaram conta do mundo (ou quase todo – mais do que uma questão ideológica, a questão soviética foi essencialmente geopolítica). Esta sangria de capital das classes média e inferiores, não apenas continua após a crise do sub–prime como aumentou com o pretexto dos défices avassaladores (e irrecuperáveis, convenhamos) que os países capitalistas acumularam para manter um estilo de vida que tanto apregoaram e que é, obviamente, insustentável. Assim, quando do que necessitávamos seria a redistribuição de riqueza pela humanidade, eis que as elites, recusando abrir a bolsa, forçaram governos a cobrar mais impostos à classe média, flexibilizar leis do trabalho, aumentar a precariedade laboral, entre outras medidas já bem conhecidas por todos nós. A curto prazo, poderá manter o capitalismo à tona de água – durante mais um ano, ou dois, ou três – mas não impedirá o navio de se afundar. A médio prazo (provavelmente mais curto do que se pensa), a massacrada e empobrecida classe trabalhadora deixará de poder consumir e sem consumo, não há economia de mercado. Onde estão, pergunta–se, as reformas que se adivinham necessárias: a tributação sobre as grandes fortunas, o fim dos paraísos fiscais, o controlo (ou eliminação) da especulação financeira (começando pelas agências de rating), o controlo dos custos das matérias–primas essenciais que tanto têm encarecido a produção primária à custa da cartelização (como no caso do petróleo), a implementação de um estado social justo em que se paguem (e bem) impostos mas onde saúde, segurança, transportes e educação sejam gratuitos para que sobre a quem trabalhe riqueza para poder comprar e assim manter um mercado saudável e auto–sustentável? Nada disto, contudo, foi feito. Pelo contrário, vivemos numa época de ditadura: ao invés do medo de uma qualquer polícia política temos agora o medo dos mercados e dos senhores do universo que os controlam. É a ditadura do dinheiro. É o capitalismo.
Esta elite, estes senhores do universo, apenas temem duas coisas – duas coisas apenas: 1789 e 1917. Estes dois números, ou melhor, duas datas, representam as duas únicas alturas em toda a história da humanidade em que foram derrotadas. É claro que antes tínhamos outras famílias, outros nomes para os senhores do universo mas as elites são as elites. O problema é que as pessoas são as pessoas. Um Rothschild e eu partilhamos o mesmo património genético. Eu não sou um senhor do universo nem quero sê–lo mas a mim, tal como a muitos outros, a paciência tende a esgotar–se. Aconteceu antes: em 1789 e em 1917. Robespierre e Estaline poderão ter enterrado o sonho mas os verdadeiros sonhos nunca morrerm. Pensem nisso, meus senhores. E paguem o que devem.
Deixo aqui este interessante vídeo sobre privatizações, medida de que o nosso actual governo tanto aprecia. O filme, em forma de documentário, diz respeito às medidas de privatização adoptadas pela administração Menem na Argentina, há alguns anos atrás. Relembro de que se trata do mesmo país que, algum tempo deois, mergulhou numa das mais severas crises económicas da história contemporânea, uma crise que, como nos devemos lembrar, faz a Grécia nos dias de hoje parecer um paraíso capitalista.
O vídeo tem origem no Brasil, tendo sido elaborado como resposta às medidas propostas pelo então candidato adversário de Lula, José Serra. As analogias que se podem retirar para as actuais propostas do nosso coelho-ministro e sua corte são aterradoras. Meditemos, portanto.
...e eis que - não ao sétimo, nem ao mesmo oitavo, mas ao fim de incontáveis dias - a implacável inércia da aristocracia política, social e económica da Europa se levantou! Às armas que a Itália está sobre fogo! Às armas que a especulação financeira nos estrangula! Às armas que tenho casa à beira do Lago Como!...
Não entendo:
-mas a especulação financeira não é a mãe, o pai, a avó e o gato Tareco deste glorioso mundo capitalista?
-a economia privada, ao invés de destruir nações, não iria levantá-las do chão para a glória do deus Capital?
-Portugal não fará parte da União Europeia, que nada fez para impedir este ataque? Tal como a Grécia? Tal Como a Irlanda?
-Portugal não faz parte da NATO, organização humanitária gerida pelo país que pretende destruir o Euro para não competir com o seu sobrevalorizado e ultra-especulado Dólar?
Bartoon por Luís, de 11 de Julho. Retirado do Público.
... e também...
-mas não é o Sócrates o culpado disto tudo?
-o governo não tinha caído pela excessiva severidade de um PEC qualquer? (Já vamos na versão quê? Cinco?)
Aqui deixo um excerto do exame nacional de matemática (B), 10 e 11º anos de escolaridade, que considero particularmente interessante. A prova pode ser consultada na íntegra no site do GAVE.
Portanto, se percebi bem, há um gajo qualquer chamado Rui que estuda acústica e que se interessa por marés. OK, tudo bem, eu sou biólogo e interesso-me por sofística pré-socrática. Faz sentido.
-Mas ó S'tôr, só há marés em Leixões? Já agora o que é acústica?
-Não, há marés em todo o lado e acústica relaciona-se com o som e sua propagação.
-Mas as marés fazem barulho?
-Bem... não, quer dizer... talvez... não sei.
-Mas nos lagos não há marés.
-Há, só que a massa de água não tem dimensão suficiente para que a maré se possa sentir.
-OK, mas esta cena do som tem que ver com aquilo de se ouvir melhor debaixo de água?
-Não... se bem que as marés se possam considerar oscilatórias, como qualquer vibração.
-Não percebi.
-Deixa estar isso e faz a porra do exercício.
-Deixar estar? Então e se isto é uma informação importante? Não falavam do raio da acústica se não fosse importante, pois não?
-Esquece essa merda! Só está aí porque o exercício seguinte fala de som!
-Ah! Então as marés sempre fazem barulho.
-Fod...
-Então e se o gajo se chamasse António? Tem mais letras, faz mais barulho?
-??
-Então e se fosse um canário? É que a minha avó tem um e mora em Vila do Conde... Já agora, os canários sabem nadar?
-???? Estás louco?
-Ó S'tôr, isto é uma rasteira, não é?
O nosso querido líder viajou recentemente para Bruxelas enquanto débutante da política europeia e, para prestar, como devido, vassalagem à cardeal-matriarca da economia europeia, a Fräu Merkel.
Como demonstrar aos eleitores portugueses que a austeridade é para lecar a sério e, simultaneamente, se exibir como exemplo de confiança e honestidade? Simples: viajar em classe turística pela TAP, ao invés de optar pela classe executiva.
Não está mal visto, não senhor! Salienta-se, no entanto, uma questão (detalhe mínimo, sem dúvida): a TAP NÃO COBRA tarifa aos membros do governo português. Como resultado, o dinheiro que foi, efectivamente, poupado, aos contribuintes portugueses foi ZERO. Demagogia e oportunismo, por outro lado, foram impingidos aos portugueses em abundância.
Enquanto cá se enche a Avenida da Liberdade de ervas em mais uma parolada à nacional; enquanto cá os futuros magistrados (sim, os tipos que supostamente serão pagos para apanhar os cidadãos desonestos) são apanhados a copiar em massa nos exames de acesso à carreira; enquanto por cá se fazem governos de incógnitos medíocres; enquanto por cá as transferências de Porto, Benfica e Sporting são notícia de primeira página, eis que surgem movimentos de revolta que se vão espalhando por essa Europa fora (incluindo por cá) sem que o Tuga se aperceba.
Mais do que questionar o nacional-porreirismo que nos rege, "o que se passa com o jornalismo, nos dias de hoje?" é a questão a colocar.
O que sucede a um dos pilares da Democracia, contituído pela liberdade e pela a idoneidade de informação (coloco-as assim, juntas, pois só unidas fazem sentido)? A resposa parece simples: desabou desabou debaixo de interesses económicos, políticos e da mediocridade geral que, por fim, avassalou o meio jornalístico.
O que cá começou com o descrédito de um primeiro-ministro eleito após o choque frontal com o senhor Belmiro de Azevedo, aquando do fracasso da sua OPA, continua com o ignorar das revoltas com a democracia podre em que vivemos em todos os países e locais onde não existam manifestações violentas (na Grécia, portanto). As notícias são poucas, mal explicadas, reduzidas a efemérides e cheias de incorrecções. Terão os media, portugueses e não só, receio de dar ideias aos povos dos seus países? Se sim, quem tal lho pediu?
Em Espanha, a polícia infiltra-se entre os manifestantes para os incitar à violência (sucedeu em Barcelona, no dia do bloqueio ao parlamento). Por cá, passou uma notícia (em rodapé, quase), anunciando que o movimento 15-M perde popularidade por se ter tornado violento. Hoje, foi publicada esta notícia no Publico Online. Atente-se na notícia de que as manifestações se espalham por todo o continente. PArece-me tema para encher todos os canais de notícias e para se convocarem debates, comentários & etc. Então porque tenho ouvido mais acerca do interesse do Inter em Villas-Boas do que neste assunto?
Em Espanha, o El País parece ser uma excepção à cegueira total. Afinal, há quem tenha reconhecido uma farsa. Há pelo menos um jornalista que não se deixa iludir. Veja-se esta notícia.
Já agora, veja-se também o filme onde se compova esta farsa:
O que está a acontecer ao mundo dito democrático? Porque motivo estamos a deixar que isto nos aconteça?
A sorte dos povos ocidentais, contudo, é que a globalização e a tecnologia trouxeram a grande vantagem de se poder, agora, captar, partilhar e comentar notícias sem ter que pedir licença e, felizmente, sem ter que apresentar carteira de jornalista profissional.
Aproveitemos também para obter alguns esclarecimentos sobre o movimentos dos "indignados", pelas palavras do economista catalão José Luis Sampedro:
E para terminar: que merda é esta do Pacto do Euro e porque não está na ordem do dia cá na aldeia?
...eis a questão. Depois da crise de 2007, que reformas foram efectivamente feitas na economia de mercado (vulgo, "capitalismo"; vulgo "liberalismo"). Zero. Após um ano de FMI a Grécia está pior. Para que serviram os grandes economistas e gestores? Nada. O que aconteceu à Islândia e à Irlanda, esses grandes modelos capitalistas? O descalabro total. Afinal vamos ter uma nova crise em 2013, diz o economista que previu a de 2007. Fantástico - Marx já tinha previsto o acumular de crises até à ruptura final do capitalismo, ainda antes de meados do século XIX! Afinal enganei-me, parece-me que houve um economista que foi, efectivamente, capaz de debitar informação original. Pena que esteja morto.
Vejamos se ficou claro:
1) os alemães não sabem lavar os legumes.
2) sem qualquer conhecimento de causa ou facto que lhe pudesse servir de sustento, os alemães (autoridade e comunidade civil) apressam-se a fazer cair as culpas do surto de Escherichia coli sobre os agricultores espanhóis, sendo Espanha um país, já por si, em grandes dificuldades sociais e económicas.
3) afinal o problema advém dos rebentos de soja cultivados numa quinta alemã.
4) os alemães pouco lamentam, dizem que a quinta teve "pouca sorte, apenas" e mais nada.
5) a UE, entenda-se, os contribuintes europeus que paguem o erro, a xenofobia e a incompetência geral demonstrada nesta situação.
Porque tenho eu, entre outros, que pagar por isto, afinal? Talvez fosse mais útil para a UE atacar este tipo de mentalidade onde mais dói: no bolso dos alemães.
. a grande desinformação ci...
. the conspiracy against Eu...
. ...epá... maior discrição...
. something for the Europea...
. behold the great anglo-sa...
Harpad© 2014