Continua a saga do casamento do BPI com o BCP. E o pai da noiva que não se decide se fica se vai. É caso para dizer que nem o pai morre nem a gente almoça. A economia nacional é uma telenovela da TVI: sempre os mesmos actores, sempre o mesmo péssimo enredo e sempre o mesmo público a fazer as vezes de ignorante. A economia portuguesa não passa disto: os grandes fazem opazinhas uns aos outros enquanto se riem de nós, pobres matarruanos que não percebemos nada de economia. E "mais do que isto é Jesus Cristo que não sabia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca".
Os espanhóis não se cansam de abrir sucursais em Portugal enquanto as nossas maiores empresas continuam a ver quem é o maior da aldeia. E eu, provavelmente como Cristo e que não percebo nada disto, continuo a não entender porque razão têm os bancos tantas benesses fiscais principalmente numa altura de sobreendividamento dos portugueses que é um festim para estes cavalheiros. Imagino qual a percentagem do défice que seria abatida se este pessoal pagasse impostos como gente grande já que pouco ou nada investe na sociedade, nos seus trabalhadores e muito menos no estrangeiro (onde há o graveto), de quem aliás, têm medo de morte.
Estão de regresso novas polémicas e novas discussões públicas sobre o ensino público em Portugal, como costuma acontecer sempre que nossa ministra da educação e seu gangue mexe em algo fundamental no sistema de ensino. Para esta malta do induquês e afins, na sua grande maioria professores frustrados demasiado tempo afastados das verdadeiras fileiras do ensino público, é fácil teorizar e escrever imensos livros, normas e leis sobre um assunto que desconhecem inteiramente e cuja finalidade nunca entenderam completamente. Este, contudo, não é um problema exclusivamente nosso mas sim uma linha de pensamento comum à União Europeia e ao resto do mundo dito civilizado.
O ensino público existe para que toda a população tenha acesso integral à educação, logo, às mesmas hipóteses de integração no panorama intelectual e profissional, de todas as classes sociais, algo que, por motivos óbvios, o ensino privado jamais irá garantir, independentemente da qualidade. Não é, portanto, de estranhar, que se assanhem as trincheiras neo–liberais, cuja última coisa que pretendem é ver malta saída dos bairros e subúrbios mais desfavorecidos a lutar de igual para igual com os filhos e netos. Por outro lado, o ensino público, gratuito e uniforme em conteúdos e exigência deveria começar a inculcar uma cultura de mérito às gerações mais jovens, ou seja, a ideia de que por esforço e trabalho e não por direito de paternidade, riqueza e influência se pode chegar a qualquer lado. E ainda hoje não é isto que acontece: um miúdo de um meio pobre sair de casa dos pais iletrados que largaram a pele para que ele pudesse estudar em cada milhão de putos não é um bom resultado, por mais crónicas e propaganda que disso se faça, mas sim um outlier, estatisticamente falando.
O ensino público, ao contrário de tudo aquilo que defende esta nossa Europa liberal, não representa a percentagem de um défice, mas sim uma mais–valia colectável a médio e longo prazo (um conceito que o capitalismo absolutamente abomina) e uma mais–valia indispensável na manutenção na democracia e da superioridade do mundo democrático a todos os níveis – do científico e cultural ao económico e até militar. Com a destruição do ensino público estamos, portanto, a entregar os postos sociais de topo a uma elite que pode pagar o ensino privado e assim atiramos para o esquecimento todo o potencial da grande maioria da população que não tem pais ricos e que nem pode pedir dinheiro ao banco. E tudo isto enquanto vamos ficando dependente da mão–de–obra qualificada importada do estrangeiro, como fazem há muito os norte–americanos, o que representa uma estratégia bestial no que respeita a contenção de custos: os países pobres que invistam em cérebros que nós ficamos com eles para trabalharem por nós e para nós. País atrasado como somos, ainda estamos na fase de exportação de matéria cinzenta. Até ver.
O facilitismo que os ministérios da educação de sucessivos governos (sim, porque este problema já se arrasta há muito) pretendem entranhar no nosso ensino não passa de uma e, entenda–se, de apenas mais uma, tentativa de desacreditar, a pouco e pouco, todo e qualquer sistema de ensino público. Recentemente, o maior passo dado neste sentido até à data foi a ratificação do Tratado de Bolonha – e este a nível europeu o que prova até que ponto a União está interessada em desinvestir em políticas sociais de educação e de criar uma espécie de elite intelectual europeia na mão de algumas (poucas) universidades e escolas (e de países?). Paralelamente a esta questão segue a substituição e humilhação dos professores competentes e a destruição da sua, já de si complicada, carreira e a progressiva redução dos programas lectivos a uma espécie de cartilha maternal para mentecaptos cujo único objectivo é dar de forma barata, rápida e fácil diplomas aos europeus, preferencialmente aos brancos, indígenas e ricos.
Não é por acaso que a fidalguia neo–liberal se eriça contra tudo o que seja social, especialmente o ensino, e assim é por motivos mais viscerais do que simplesmente a desintegração do estado social em várias oportunidades de negócio: é que a Democracia, por definição, não se compadece com o alastramento da ignorância e da iliteracia (ainda que premiados por um diploma) nem o conhecimento com a tirania, incluindo a tirania do luxo que se tenta vender como Liberdade.
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