Quarta-feira, 30 de Abril de 2008

O rancor dos rancores

Em cada ano que passa torna-se mais notório que os direitinhas da casa se assanham contra os ideiais de Abril, ou simplesmente contra qualquer coisa vagamente de esquerda. Não estou admirado, contudo, o século XXI pertence-lhes. Aí está que depois do conturbado século XX voltaram os empregos precários (os simpléxes ou lá como se diz agora), a morte lenta do estado social, o definhar da democracia para uma autocracia rotativa entre dois partidos liberais, o aumento do preços dos bens de primeira necessidade (só verdadeiramente limitativos para o Zé Comum), o imperialismo (agora chamado de mercado global) e muitos outros fenómenos. Há muito estavam à espera, pobrezinhos dos fazendeiros retornados, dos orpimidos pelo regime Marxista imposto pelo 25 de Abril. Amanhã é o 1º de Maio. Que significa isto para o trabalhador do século XXI, essa criatura sonâmbula enterrada viva nos subúrbios, sem saber se estará a trabalhar no próximo mês, a contar tostões para comprar fraldas, pagar as contas e os impostos (e agora o arroz?!).


publicado por Harpad às 22:55
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Fominha (até) no mundo ocidental?

Admito que não estava à espera que acontecesse tão cedo mas aconteceu: os preços dos bens alimentares no mundo ocidental começou a disparar. A especulação agarrou-se aos cereais e outros alimentos essenciais como cão a quem falta osso melhor.  O que tinha aguentado os preços até recentemente era a política de agricultura subsidio-dependente dos países civilizados, já que a produção há muito se revela insuficiente para cobrir os crescentes custos de produção (a começar pelos combustíveis). Junte-se o fim desta ajuda (prioritários são os défices, não a comida) com a especulação que é a base deste nobre sistema económico em que vivemos, o capitalismo e aí está: vêm tempos de fomeca. Para nós é muito grave. Para os países em desenvolvimento é uma catástrofe. A fome já gerou muitas revoluções e guerras sangrentas mas como a humanidade não aprende, principalmente quando o que conta são os bens de luxo que são o cartão de visita do capitalismo e aos quais a populaça se agarra com unhas e dentes, sem melhor do que fazer do correr para os hipermercados aos fins-de-semana, pouco há a fazer.

 

Talvez nos faça bem voltar a aprender que há coisas muito mais importantes do que o tunning de automóveis, piscinas no quintal, passerelles, diamantes para a patroa e consolas para os putos. Talvez consigamos abrir os olhos para o facto de que a economia de mercado enriquece uma minoria enquanto obriga a mioria a contar tostões para pagar os bens de primeira necessidade, a mesma minoria que vem para os media falar para nós pobres idiotas que nada percebemos de competitividade empresarial, a mesma minoria que acha que o estado é um empecilho excepto quando os outros meninos da mesma minoria fazem batota ou quando os impostos pagam subsídios a privados e lhes dá obras públicas para executar. O mesmo tipo de corja que especula (e enriquece bem e facilmente) com aquilo de que precisamos também afunda, desmantela e deslocaliza empresas, não paga impostos sobre mais-valias bolsistas e merdas afins. Eu sei que o anti-capitalismo gera mais ódio do que todo o fanatismo religioso junto, os comunistas já o tinham percebido três quartos de século antes de Estaline sequer chegar ao poder, mas que ninguém se esqueça que há algo capaz de mobilizar muitos mais milhões em torno de uma diferente forma de ódio: a fome.

 


publicado por Harpad às 00:14
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Sexta-feira, 25 de Abril de 2008

25 de Abril - da liberdade, da memória e da falta de ambas

É sempre engraçado ouvir um discurso do senhor Presidente da República sobre o 25 de Abril, principalmente quando boa parte dele se baseia no alheamento dos jovens em relação ao 25 de Abril, aos seus ideais e da política que rege a sociedade no seu geral. Sinto-me num permanentemente num mundo Orwelliano, se calhar as manifestações de estudantes onde estive quando o senhor Cavaco Silva era Primeiro Ministro não passaram de uma alucinação colectiva, tal como a pretensão de reduzir (para acabar?) os festejos do 25 de Abril e o seu ensino nas escolas. O tempo em que o homem mandou no país foi o período em que mais bastonadas a polícia distribuiu pela populaça, sem esquecer uns tiritos e jactos de água. Foi o tempo do diálogo social nulo, o tempo em que eu e muitos, muitos, outros que hoje trabalham até cairem para o lado para pôr isto a funcionar sem que alguém se importe com os resultados e suas dificuldades, passámos a ser chamados de Rascas. Sim, eu estava lá, nesse preciso momento, e nem precisei de mostrar o traseiro para assim ser apelidado. Deve existir algum Ministério da Verdade a eliminar certos períodos da nossa história, só que em vez de se ficar pelos jornais e afins deve eliminá-los também da nossa memória colectiva. Só assim se explica que o homem tenha sido eleito para  o cargo de Presidente da República.

 

Felizmente não se assistiu ao fedelho do CDS-PP falar no "PREC em que nos encontramos" tal como o fez num dos congressos do seu triste partido, transmitidos pela televisão como uma telenovela foleira. É patético ver um indivíduo com demasiados genes em homozigotia, vindo de uma família que viu o 25 de Abril como uma catástrofe falar desta data mas, infelizmente, alguns dos seus colegas ousaram fazê-lo na Assembleia da República, falando da família e dos seus problemas quando os queques, aristocratas, patos bravos e novos ricos que representam são os tipos que perguntam às mulheres que realizam uma entrevista de emprego se pretendem engravidar e que as despedem quando tal calamidade acontece. são os gajos que especulam com o valor do nosso dinheiro, das casas e dos bens de primeira necessidade em geral, tornando a nossa vida muito complicada, mesmo para quem não tem filhos. Os senhores do PP vivem numa espécie de realidade cor-de-rosa desconhecida para o povo comum, a realidade de quem tem dinheiro garantido à nascença e vê as políticas sociais como uma entrave (tipo PREC) para o seu enriquecimento.

 

Quem ouvir falar (e escrever) certos indivíduos, como o autor de um livro que fala da "revolução da perfídia" (entenda-se o 25 de Abril), como uma revolta marxista talvez fique convencido (ou não, pensando bem) que vivemos numa RSS. Não li este livro, acabei de ler sobre ele uma notícia num jornal. Espero estar redondamente equivocado sobre o seu conteúdo. Pois é. A inflacção, os juros bancários insuportáveis, a destruição das políticas sociais, a precariedade do emprego e outros, muitos outros problemas que se colocam aos portugueses (principalmente aos jovens trabalhadores que nada, absolutamente nada têm de garantido para o seu futuro, são fruto do bolchevismo em que vivemos. O capitalismo deve ser uma espécie de El-Dorado que nunca se chegou a concretizar. Talvez não seja necessário um Ministério da Verdade, enquanto ecrãs de plasma, automóveis de luxo, telemóveis e outras futilidades forem o que realmente importa para a população ocidental, o preço dos alimentos, das casas, da saúde e da educação continuarão a aumentar. Parece que precisamos de passar fome para abrirmos os olhitos. Começou com o arroz, mais se seguirão. É o custo da especulação que mantém a grandiosidade da nossa preciosa economia de mercado.

 

Para Pachecos Pereiras e outros fidalgos da direita gostaria de perguntar o que entendem por Democracia, porque ainda não percebi o que nos pretendem impingir. Talvez o que me custe mais a entender seja o conceito de mentira. Talvez o doutor Pacheco já se faça reger pelo novo acordo ortográfico, ao contrário de mim, mas para mim quando alguém expõe um vídeo onde se vêm os supostos laboratórios móveis de armas químicas do Iraque como pretexto para começar uma guerra que, afinal, nunca chegaram a existir, essa pessoa MENTE. Não é uma simples convicção. As convicções, por mais básicas que sejam, não pressupõem inventar coisas que nunca existiram. Quando tal acontece temos uma MENTIRA. Os governantes do mundo democrático não podem, por definição, MENTIR. Quando poucos fazem guerras, o que já é suficientemente mau, e o fazem por motivos obscuros, quando a maioria não quer não estamos na presença de uma decisão democrática. O doutor Pacheco está muito ofendido porque eu e muitos não concordamos com ele. O direito à discória faz parte, isso sim, da Democracia mas ele deve-se ter esquecido disso quando escreveu e publicou uma carta particularmente insultuosa a Mia Couto na sequência da decisão de invasão do Iraque. Parece-me que para o doutor Pacheco e outros a democracia é uma coisa maravilhosa sempre que toda a gente concorda com eles.

 

A democracia não se limita ao sufrágio, para quem ainda não percebeu. Os principais partidos (todos os dois deles) prefeririam revezar as suas maiorias absolutas, alternando cada dois mandatos. Se tal acontecesse, o sufrágio passaria a ser meramente simbólico, tal como o direito a discordar dos dois partidos, tal como o direito a negociar políticas sociais, leis e questões económicas. A  Europa caminha para uma espécie de governos de direito privado. O capitalismo adoraria que os governos contratassem abertamente empresas que gerissem os povos. Digo abertamente porque isso já acontece nos bastidores. A promiscuidade entre corporações, ministros e secretários de estados (os políticos profissionais, essa elite) é doença crónica da democracia. Nós, o povito, estamos na mão de uma minoria. É isto a democracia? O que aconteceu à memória de Abril?


publicado por Harpad às 13:17
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