Domingo, 29 de Maio de 2011

o grande feito neo-liberal

Torna-se cada vez mais evidente que o debate político ganha contornos futebolísticos. Fala-se de "esquerda" e "direita" como se se falasse de "Porto" e "Benfica" ou "Benfica" e "Sporting". Etc. De um lado temos os "vermelhos" que, convenhamos, pouco ou nada mais têm apresentado do que demagogia e repetitivismo. Do outro lado temos os neo-liberais, a direita política e social, que parece basear os seus argumentos em tudo menos nos factos, na história e na simples aritmética. Aparentemente, será esta gente que os portugueses irão eleger para o próximo governo, tal como muitos outros europeus antes o fizeram. Ou não. 

 


O problema de Portugal não é apenas um problema de Portugal. A globalização assim o dita. O problema é mundial e está enraizado na própria essência do neo-liberalismo: o laissez-faire, o individualismo, a ganância, a riqueza imediata, todos conceitos-pilar de um sistema económico sem hipótese de futuro mas, admitamos, atraente para a grande maioria da população humana. 

Para os economistas liberais, dois mais dois não são quatro. Podem ser cinco. Ou mesmo seis. Ou talvez três ou zero se os mercados assim o entenderem. Quando forem menos que quatro, o problema resolve-se pedindo crédito. A assim rebentou a bolha do sub-prime: mais de meio século da imposição dessa ilusão que é o american dream ao proletariado: tenha uma casa enorme, uma piscina, consolas para os putos, mude de carro todos os anos, vista roupa de marca. Não o pode pagar? Não faz mal. Aceitamos crédito. 

Há que admitir mérito na estratégia neo-liberal. Ao invés de reformar o capitalismo e de devolver a esse mercado que o mantém realmente a funcionar - a classe média - a riqueza que tem vindo (e continua) a ser acumulada por muito poucos pelo mundo fora. Acumulada por drenagem, literalmente da classe trabalhadora. Pois. Dois mais dois continuam a ser quatro e o dinheiro não cresce nas árvores: se entre duas pessoas existirem duas moedas, para que uma tenha duas a outra tem zero. Simples. Um economista diria que não mas também, os economistas são os tipos que ganham prémios-nobel por introduzirem o comércio da poluição. 

 

Poder-se-ia introduzir um sistema de reformas que refreasse a oferta de crédito ao desbarato, a especulação financeira e o apelo ao consumismo desmesurado, entre outras medidas. Nada foi feito por se tratarem de conceitos avessos ao laissez-faire. Poder-se-ia obrigar os muitos ricos a pagarem impostos a valer sobre as suas desmesuradas fortunas. Como alternativa, investir em actividades que criassem verdadeiros postos de trabalho, a troco de regalias fiscais. Nem pensar. O bolso é o órgão onde mais lhes dói. Em Portugal, estamos há demasiado tempo dependentes da mesma economia corporativista que governava a Outra Senhora. Sim, é verdade, Belmiros, Champalimauds e muitos outros já se sentavam à mesa do Estado-Novo. Mas a culpa é dos portugueses que são pouco produtivos. A culpa é dos impostos. A culpa é do estado. A culpa é to Sócras. A culpa é da CGD. A culpa é dos sindicatos. A culpa é do Trocas-te. A culpa é dos cabrões que querem ter ordenados mínimos, contratos de trabalho, despedimentos com justa causa e indemnizações e outros conceitos totalmente avessos ao ideal empreendedorista neo-liberal, sempre atreito a ao lucro fácil e imediato mas nunca à noção de que, espremendo a classe média, acaba-se a economia de mercado porque deixa de haver poder de compra. Afinal tudo se resume a uma linha: a classe trabalhadora que alombe com a austeridade para que os ricos continuem a enriquecer.

 

É isto. 

 

E apenas isto.

 

Dúvidas? Foram publicadas recentemente as listas dos mais ricos do mundo - lá estão todos e mais ricos ainda. Afinal, quem se fodeu (desculpem a expressão) com a crise iniciada em 2007?

Elejamos, portanto, o Grande Coelho Laranja para novo líder de um barco a afundar-se com o peso, não do estado, mas do liberalismo. Engulamos as falácias capitalistas de austeridade, entreguemos os direitos pelos quais lutamos há tanto tempo. Escutemo-lo a apresentar o seu programa eleitoral ultra-liberal a prometer mais austeridade do que o próprio FMI considera necessário. Deleitemo-nos a tentar explicar porque é que os portugueses deviam pagar, e bem, pela saúde privatizada, esse direito essencial para quem o pode pagar, entre outras medidas similares. Isto ajuda o capitalismo? Como é que tal sucederá com mais uma machadada no poder de compra da classe média? Ouçamos este betinho de Massamá divagar sobre as Novas Oportunidades, chamando a este alunos de medíocres, quando ele próprio tirou o seu curso (em oito anos, consta) em que universidade? Lusófona? Do Atlântico? Quem é este fantoche de ricos e poderosos, afinal? Mas quem é este indivíduo, afinal? Quem são os tipos que o seguem? Quem são os titeteiros atrás dele? Já agora, quem são estes comentadores políticos, economistas de treta, jornalistas e outros bardamerdas que tal, que de cada vez que abrem a boca ajudam a enterrar o meu país no lodaçal da especulação financeira internacional? Quem são estes gajos a quem não reconheço mais inteligência, clarividência, conhecimento ou seja o que for, do que a mim próprio, para governar um país, modificar mentalidades ou impôr candidatos?


Meus caros, o neo-liberalismo terá, quanto muito mais dez anos de vida. É inevitável: todo o mundo capitalista flutua sobre riqueza que não detém para que muito poucas famílias se possam continuar a sentar no topo do mundo. Tudo o resto, com a vossa licença, é conversa de merda.  


publicado por Harpad às 22:17
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Sexta-feira, 27 de Maio de 2011

sobre a higiene urbana em Espanha

Pois é, aparentemente, há vários dias que se amontoava uma enorme pilha de lixo na Praça Catalunha. De acordo com os responsáveis pela higiene urbana, a maior parte deste lixo era constituído por um tipo de dejecto nefando intitulado de "pessoas".

A polícia local, os "Mossos D'Esquadra", conseguiu remover tal imundície bastonando os indesejáveis, divididos por classes como "jovens", "idosos" e "famílias", entre outros. Segundo o cacique local, há que limpar o local para os festejos da vitória do Barça sobre o Man United, a suceder não sei bem quando. 

 

Ainda bem, assim sempre se evita a disseminação de maleitas potencialmente pandémicas como "pensar" e "protestar".

 

Veja-se, por exemplo, aqui.


publicado por Harpad às 19:04
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Quinta-feira, 26 de Maio de 2011

o asco - 4

 

O Grande Coelho Laranja continua a sua extradinária saga com o intuito de, em simultâneo, reaver os votos entretanto perdidos para o CDS e colocar o Paulinho das Feiras no seu devido lugar, indivíduo este que muito empinado tem trazido o nariz, pois bem sabe que o GCL precisa bem mais dele do que o oposto, na verdade. Para quem tem seguido as notícias de hoje certamente reparou no insólita de ver o GCL alternar entre a defesa da liberalização do aborto e o "ha e tal, podemos rever isso e o catano..." ou então "nós, referendar não, mas se houver um movimento popular..." E mais não sei o quê (e o camandro).

 

 

Percebe-se bem, claro: há que papar votos do CDS e manter a vaga componente social democrata que ainda existe no PSD a seu lado, ou pelo menos não chatear (a começar pela Paula Teixeira Pinto, a pessoa desse partido que consegue demonstrar cérebro porque tem, de facto, cérebro para demonstrar).


publicado por Harpad às 22:46
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...já agora...

Gostaria que o senhor Coelho me indicasse o nome de alguns prémios Nobel em ciência que tivessem desenvolvido o trabalho pelo qual foram laureados sendo financiados por empresas. 

 

É que assim de repente, de repente, não me lembro de algum...


publicado por Harpad às 00:14
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Quarta-feira, 25 de Maio de 2011

morte ao conhecimento

O Grande Coelho Laranja já anunciou que vai retirar financiamento à ciência, a começar pelos post-docs que têm o seu lugar, sic, é nas empresas. Esquece-seeste senhor que as empresas não fazem investigação fundamental porque não dá lucro e mesmo a maior parte da investigação aplicada é feita em universidades e laboratórios do estado. Quanto muito, algumas (poucas, principalmente por cá) pegam no conhecimento produzido, nessas pequenas e pequenas peças de ciência e aplicam-no em algo que possa ser comercializável. Exemplo: farmacêutica. Explicar a este indivíduo e seus semelhantes de cor o que é ciência é inútil e cansativo porque não lhe(s) reconheço capacidade de apreensão e compreensão para tal mas possa dar um um exemplo: a descoberta da dupla hélice de DNA não foi exactamente patrocinada pela Coca-Cola. Abramos um telemóvel: as peças são concebidas e criadas por uma empresa mas a ciência fundamental atrás do seu financiamente foi, garanto absolutamente, financiada por um estado qualquer e produzida por miríades de investigadores, a maior parte deles anónimos e precários. E Portugal e por esse mundo fora - até nos ultra-liberais EUA.

Os investigadores pós-doutorados e os estudantes de doutoramento são, efectivamente, a força motriz do conhecimento científico no mundo inteiro. Esta alimária, na falta de melhor nome, quer acabar com eles? Comigo, pois encontrom-me nesta situação? Muito bem. E quem vai produzir conhecimento? Talvez o próprio betinho de Massamá. Talvez esse devesse trocar de lugar com um de nós por uns meses, por um ano ou dois. Passar-lhe-ia o neo-liberalismo assim que experimentasse pedir um empréstimo para uma casa, concorrer a uma bolsa, ver um cargo recusado por sobre-formação académica ou ver os medíocres ocuparem todos os belos tachos na função pública enquanto tipos com valor não passam de bolseiros pós-docs: sem férias, sem 13º e muito menos 14º mês, sem direito a subsídio de desemprego, sem ver a sua carreira oficialmente reconhecida como tal. Mas pelo menos temos tido oportunidade de trabalhar! E como trabalhamos - A produção científica em Portugal, muitos desconhecê-lo-ão está entre as melhores das melhores.

 

E não há problema. Nós até ficamos felizes com a nossa bolsa paga por fundos públicos e da União: assim podemos produzir ciência, publicá-la e, passinho a passinho, fazer alguma coisa pela humanidade. Assim têm feito todos os que se dedicam à Ciência desde que a Humanidade aprendeu a pensar. Assim se tem conseguido fazer com que os idiotas deste mundo tenham mais quarenta anos de esperança média de vida comparativamente aos idiotas da Idade Média. Talvez um dia o Grande Coelho Laranja e os acéfalos que o seguem, quando tomarem um medicamento, quando utilizarem um electrodoméstico, conduzirem um veículo ou pensarem porque motivo o DDT foi proibido se lembrem de que existe uma massa anónima de gajos a trabalhar para eles por pouco dinheiro, muito esforço, nulo reconhecimento e sem lucro ou hipótese de tal - financiados pelos contribuintes a quem efectivamente servimos - os mesmos que vão colocar esta escumalha neo-liberal no poder?...


publicado por Harpad às 23:17
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Segunda-feira, 2 de Maio de 2011

epá...

...por mim tudo bem, ainda bem que lhe limparam o sarampo mas... no meio de tanta superpotência não se arranjaria uma montagenzita menos foleira?...

 

 

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publicado por Harpad às 21:27
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