Reflictamos, hoje, já que se trata de uma actividade a que pouco nos dedicamos nos restantes dias. Deixo aqui uma dica. A RTP 2, na sua rúbrica excelente, "Dia D", dedicada a uma série de brilhantes documentários sobre o 25 de abril, exibiu na madrugada passada (lamento apenas a hora tardia) este brilhante documentário ("Os Donos de Portugal") sobre as poucas famílias a quem Portugal efectivamente pertence, da autoria de Jorge Costa. Numa altura em que o raciocínio ideológico não parece conseguir sair do terreno de (des)culpabilizações em que tanto a crise quanto a peste negra e mais as derrotas das nossas equipas de futebol são culpa do Trócas; vale a pena pensar se a luta de classes é realmente coisa do passado e se a democracia será, ainda que vagamente, compatível com o lamacento mundo do capital. Pode-se consultar mais alguma informação sobre este documentário neste artigo do Público.
Aproveito também para perguntar ao senhor Relvas (vocês sabem, o Primeiro Ministro, o outro é apenas um Coelho-Ministro) se este tipo de documentários passaria numa RTP2 privatizada.
Interrogo-me frequentemente quem terá nomeado os doutos políticos, jornalistas, economistas e outros especialistas que nos bombardeiam em cadência horária com as suas opiniões, comentários e razões. Todos opinam, todos se fundamentam com o quer que lhes pareça conveniente mas a verdade, a história, essa, permanece intocada, encerrada no seu túmulo.
A essência do neo-liberalismo é o curto-prazo. Na verdade, este é o único conceito que as massas entendem. O lucro que preciso, hoje. O carro novo que quero, hoje. O belo tacho, hoje. Enfim, pode-se resumir esta essência numa palavra bem portuguesa: o Desenrascanço. As causas políticas e sociais do estado de Portugal, da Europa e do mundo capitalista em geral são também assim justificadas, diante da vista grosseira do curto-prazo.
Para os comentadores, tudo é simples. O país está doente. A causa: Sócrates. A solução: privatizar o que se pode privatizar, flexibilizar o mercado de trabalho, enfim deixar cair o estado social e transformar o mercado de trabalho num antro de precariedade. Mas já lá iremos. O pensamento neo-liberal, como já referi, é totalmente incapaz, por natureza, de formar um raciocínio numa escala de tempo mais alargada do que o prazo de governo. Esquecem-se os comentadores, no entanto, de vários dados importantes:
1) Quem nos transformou num paraíso da mão-de-obra barata para os empresários alemães foi o douto Cavaco, actual PR. Previsivelmente, para todos com mais testa do que o vulgar capitalista, o alargamento da UE a lesta trouxe, a médio prazo (lá está), um mercado de trabalho apetecivelmente mais barato. Será difícil recordar o fecho, quase diário de fábricas pertencentes a multinacionais centro-europeias há alguns anos atrás? Quantas vezes vimos os telejornais abrirem a sua emissão com imagens dos trabalhadores desolados à entrada de uma qualquer fábrica têxtil de onde os patrões, em muitos casos, tinham já retirado o equipamento sem que os operários soubessem sequer das intenções de encerramento? A culpa foi do Guterres? Do Sócrates? Não.
2) Caro precário: quem inventou os recibos verdes não foi o PS. Foi o PSD, mais uma vez, nas mãos do douto Cavaco.
3) Para continuar a falar deste senhor, convém relembrar que foi durante os seus mandatos que assisti a cargas da polícia sobre manifestantes. Exemplos: secos e molhados. Também foi graças a este senhor e à senhora Ferreira Leite que fiquei conhecido como “rasca” (sim, eu estava lá, mas não mostrei nenhuma parte impúdica de mim mesmo). Fala-se hoje de manipulação da imprensa. Esquecemo-nos dos falados telefonemas de um tal de Marques Mendes para a RTP?
4) A nossa economia não está na mão do estado. Muito menos nas mãos dos trabalhadores. Ao contrário do que pensa um fedelho qualquer do CDS que não me lembra agora o nome, não vivemos num PREC nem mesmo pós-PREC. A nossa economia continua a pertencer aos Mellos, Champalimauds, Espírito-Santos, Azevedos, Martins, e outros mais ou menos brasonados que já se sentavam à mesa do Estado Nove e que simultaneamente o alimentavam e dele se nutriam. Fugiram de medo com o 25 de Abril para viver vidas de exílio faustoso no Brasil, para regressarem pelas mãos do senhor Soares, com uma generosa recompensa monetária, diga-se. Estes senhores estão cada vez mais ricos. Quem tem dúvidas tenha a bondade de consultar as estatísticas dos mais ricos de Portugal reveladas recentemente. Curioso ninguém questionar estes clãs sobre a sua responsabilidade na economia e negócios deste país. Curioso também que a ninguém pareça obsceno que estes senhores enriqueçam desmesuradamente enquanto a classe média se encolhe. Curioso que ninguém se indigne com a mudança da Sede do Pingo Doce para a Holanda, para que assim o dinheiro dos clientes portugueses sirva apenas para o pecúlio dos contribuintes holandeses. Ninguém pergunta também, se a economia este tão má e se é preciso flexibilizar o mercado de trabalho, porque motivo os bancos de cá continuam a bater recordes de lucro e têm tantas benesses fiscais. Talvez devêssemos também perguntar sobre os esquemas de mascarar lucros através de pseudo-empresas subsidiárias, constantemente em falência técnica, de que se blindaram os grandes grupos económicos para não pagar impostos. Curiosos que esta gente venha regularmente, e principalmente através dos PSDs, exigir que se precarize ainda mais a mão-de-obra quando, aparentemente, dinheiro não lhes falta o luxo. São os nossos intocáveis, medrosos apenas da memória dos dois únicos casos, em toda a história da humanidade, em que os verdadeiramente poderosos verdadeiramente perderam: 1789 e 1917. Enoja-me pensar que um partido dito socialista também nada tenha feito para contrariar os todo-poderosos mas não me surpreende quando nem Guterres nem Sócrates os tiveram no sítio sequer para fazer frente aos seus próprios "boys".
5) “Devemos pagar devidamente aos trabalhadores pois eles são os consumidores”. Não, não foi Marx quem o disse. Nem Engels. Nem Lenine, Trotski, Cunhal ou mesmo Robespierre. Quem o disse foi um dos maiores capitalistas de todos os tempos, um tal de Henry Ford. Um indivíduo modelar enquanto empreendedor, ao conseguir encher-se de dinheiro nazi antes da entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial e, depois disso, dos contribuintes norte-americanos, cerca de 400 000 mil dos quais nunca regressaram à sua terra. Este pressuposto há décadas que foi esquecido e recalcado, mesmo depois da crise de ’29, causada pela falta de escoamento de produtos norte-americanos para um Europa em ruína absoluta. Mais uma, o pensamento a curto-prazo em acção: hoje aumenta-se o IVA, corta-se nos salários, obriga-se o cidadão comum a pagar por saúde, educação e transportes privados. Parece interessante mas alguém se deve estar a esquecer do efeito a médio prazo que retirar poder de compra aos cidadãos-comuns irá colapsar o comércio do qual toda a economia depende.
6) Porque quer, assumidamente ou não, a direita o FMI? Simples: trata-se da peça que faltava para o paraíso governativo. Já lhes cheira a maioria absoluta, têm um presidente amigo ou que, no mínimo, não chateia, podem culpar tudo no Sócrates e fazer nada pela qualidade de vida dos cidadãos dizendo que nada podem fazer, que o FMI manda e o BCE quer. Quem ganha com isto? Os PSDs e a nata da sociedade por trás deles (vede acima).
7) Salazar era um gajo tão porreiro e liderou tão bem que um milhão de Portugueses se foi embora do país, seguramente sem o intuito de ensinar ao resto do mundo o benzito que se fazia em Portugal. É também curioso pensar que esses senhores e os descendentes constituem uma amostrinha do mais conservadorzito e retrógrado que por aí anda. Andam também por aí uns mentecaptos que dizem que isto estava melhor antes do 25 de Abril. Nem antes do 25 de Abril nem há 20 anos atrás. Éramos no tempo da Velha senhora e da maioria absoluta do senhor Dom Cavaco, mais acomodados, sem as chatices de eleições, oposições sem ter direito a essa suprema complicação que é a capacidade de pensar. Aparentemente, o comodismo faz muita gente feliz.
8) Foi um golpe de génio, há que admiti-lo: transformar uma crise do capitalismo numa crise do estado social. O senhor Daniel Bessa que me desculpe, mas não lhe reconheço mais inteligência, sapiência ou outra ciência do que a mim próprio para engolir esta e outras. Não interessa, contudo. Façamos as contas a todos os défices de todos os países capitalistas do mundo e percebamos que vivemos num castelo de cartas que mesmo com este tipo de tapa-remendos não tem mais do que uma geração de vida. Seria dispensável mas parece inevitável: ninguém aceita reformas no sistema económico nem os ricos deixam que lhes vão aos bolsos. Enquanto isso, a riqueza continua a desaparecer dos mercados até ao final rebentar da bolha.
9) Criar ricos gera pobreza. Lamento mas é uma verdade aritmética. Um mais um são dois, independentemente de o capitalismo permitir que possam ser três, quatro ou mesmo zero, conforme a disposição dos mercados. Para alguém ter dois euros num mercado com três para três pessoas, há alguém que se fode. No mundo em que vivemos, isso resolve-se pedindo dinheiro emprestado. Até quando? Quem duvidar que atente nas causas da crise: a falência do pequeno crédito, usado pelo cidadão-comum norte-americano para se abastecer das futilidades apregoadas como parte do “american dream” precisamente porque não pode pagar esse mesmo sonho que, afinal, não passa de um grande embuste.
10) Há uma geração inteira à rasca. E uma outra que teve o 25 de Abril porque um punhado de militares lhes ofereceu. Seguiram-se os tachos na função pública, nas melhores empresas, as reformas, uma vida confortável. E nós, seus filhos? Comemos com os recibos verdes, as bolsas, o desemprego, os call-centers, essa aberração que é o "out-sourcing" e na volta ainda os contratos "orais" de que andou para aí a falar o betinho que aparentemente vai ser o fututo PM.
11) Nós somos nada. Somos mão-de-obra barata. Somos mercado de futilidades. Somos precários. E para quê? Para aumentar a margem de lucro de uns poucos. E somos burros. Muito burros. Burros porque nos aborrece pensar. Burros porque deixamos outros pensar por nós. Burros porque os políticos que deixamos que nos liderem são medíocres, tal como os que se lhes opõem. Sim, porque não é a esquerda "chic" da brigada anti-gravata (espécie de antecâmara dos PSDs) nem o repetivismo norte-coreano quem vai agregar os descontentes deste país, ou outros. Neste século não há cérebros nem líderes. Apenas cegos, à beira de um barranco.
Resta-me contratular por ninguém se interessar por nada do que aqui escrevo. Se vivêssemos no tempo da Velha Senhora, estaria já a caminho do Aljube.
1. Ao contrário do que defendem os laranjitas e outros direitinhas, o grande problemas do nosso nosso país não é a "estatização" da economia mas sim sim a privatização do estado. Quem não o acredita que repare bem nos governos, nas empresas públicas, na política em geral, e verá sempre as mesmas caras, os mesmos apelidos, as mesmas múmias. Perguntem por onde andam ex-ministros, secretários de estado e afins, que empresas regem (muitas criadas com dinheiro vindo dos contribuintes), que tachos arranjaram, que leis lhes são convenientes.
2. Até recentemente, o que os liberais (os neo- e os outros) mais queriam era que o estado os deixasse liderar a economia em paz, que eles, o "privado", tudo resolviam, tudo desenvolviam, tudo forneciam aos incultos cidadãos que nada percebem destas coisas da economia. Pedem agora apoios financeiros para isto e aquilo, regras para a economia e mais o raio que os parta? Será que o estado ainda serve para alguma coisa? Parece que sim, especialmente se envolver dinheiro dos contribuintes. No passado de vacas gordas eram os contratos públicos, agora são os "apoios".
3. Os "capitalistas" deste país e arredores acham o povo uma coisa bruta e ignorante. Falam de "cash", "spreads" e outros termos (ui! complicados!). Pois, de certeza que a economia faz a física quânica parecer a instrução primária... Ou não. Na verdade a economia capitalista não é dos inteligentes mas sim dos espertalhões. O povo é, na verdade, uma coisa bruta e ignorante. E eles também. Esta crise é tão previsível que mete raiva e nós, ignorantes de merda permitimos que acontecesse precisamente por sermos uma raças de brutos e ignorantes obcecados com a ilusão do luxo, do comodismo e da futilidade que o capitalismo nos atira à cara desde que nascemos.
4. O PSD é a imagem chapada do capitalismo: é um partido de medíocres, feito por medíocres para medíocres. Não é um partido de idealistas nem de ideais nem de ideias. É um partido onde se filiam aqueles que querem tirar dividendos políticos. Ainda bem que Sá Carneiro (essa Espírito Santo!) está morto, caso contrário já teriam levado umas quantas facadas nas costas. O PS não é muito diferente, com a dissemelhança de ainda conttar com uma ou outra alminha com algumas preocupações sociais. A democracia está em crise? Impossível não estar, quando os partidos são utilizados como catapulta para obter tachos e favores e todos acham isso bestialmente normal, dos finórios desta terra ao Joaquim dos Escapes.
5. O maior medo dos socialistas é o próprio Socialismo, caso contrário não teriam acabado com ele. Nunca percebi porquê. Aparentemente o Manuel Alegre também não. O Pina Moura, esse sim, percebeu. Muitos outros também. Talvez um dia nos expliquem, Manuel.
6. Para quem ainda não percebeu, a Justiça portuguesa não existe. É uma herança da Outra Senhora e, possivelmente, mais antiga do que isso, até. A corrupção compensa quando o é juíz lá da aldeia a julgar o presidente, quer seja do clube da terra, da câmara ou da junta. Tudo em família e os juízes querem mais tempo de férias do que todos os outros que trabalham. Informatização do sistema legal? Que horror! Será que ninguém percebe que isso excisar dos tribunais a desculpa mais clássica para a inépcia e a lendidão? Leis contra o enriquecimento ilícito? HA HA HA! O PSD ainda disse que sim durante uma semanita, agora já está dividido (ver ponto 4). O PS não vai nessa. Que chatice, ainda ficam sem deputados!
7. Agora a sério, sobre o 25 de Abril. Estou-me borrifando, para não dizer cagando, que Santa Comba tenha um praça com o nome de Salazar. A menos que alguém me diga que lá se comem as melhores caracoladas deste país, nem tenciono lá pôr os pés.
Em cada ano que passa torna-se mais notório que os direitinhas da casa se assanham contra os ideiais de Abril, ou simplesmente contra qualquer coisa vagamente de esquerda. Não estou admirado, contudo, o século XXI pertence-lhes. Aí está que depois do conturbado século XX voltaram os empregos precários (os simpléxes ou lá como se diz agora), a morte lenta do estado social, o definhar da democracia para uma autocracia rotativa entre dois partidos liberais, o aumento do preços dos bens de primeira necessidade (só verdadeiramente limitativos para o Zé Comum), o imperialismo (agora chamado de mercado global) e muitos outros fenómenos. Há muito estavam à espera, pobrezinhos dos fazendeiros retornados, dos orpimidos pelo regime Marxista imposto pelo 25 de Abril. Amanhã é o 1º de Maio. Que significa isto para o trabalhador do século XXI, essa criatura sonâmbula enterrada viva nos subúrbios, sem saber se estará a trabalhar no próximo mês, a contar tostões para comprar fraldas, pagar as contas e os impostos (e agora o arroz?!).
É sempre engraçado ouvir um discurso do senhor Presidente da República sobre o 25 de Abril, principalmente quando boa parte dele se baseia no alheamento dos jovens em relação ao 25 de Abril, aos seus ideais e da política que rege a sociedade no seu geral. Sinto-me num permanentemente num mundo Orwelliano, se calhar as manifestações de estudantes onde estive quando o senhor Cavaco Silva era Primeiro Ministro não passaram de uma alucinação colectiva, tal como a pretensão de reduzir (para acabar?) os festejos do 25 de Abril e o seu ensino nas escolas. O tempo em que o homem mandou no país foi o período em que mais bastonadas a polícia distribuiu pela populaça, sem esquecer uns tiritos e jactos de água. Foi o tempo do diálogo social nulo, o tempo em que eu e muitos, muitos, outros que hoje trabalham até cairem para o lado para pôr isto a funcionar sem que alguém se importe com os resultados e suas dificuldades, passámos a ser chamados de Rascas. Sim, eu estava lá, nesse preciso momento, e nem precisei de mostrar o traseiro para assim ser apelidado. Deve existir algum Ministério da Verdade a eliminar certos períodos da nossa história, só que em vez de se ficar pelos jornais e afins deve eliminá-los também da nossa memória colectiva. Só assim se explica que o homem tenha sido eleito para o cargo de Presidente da República.
Felizmente não se assistiu ao fedelho do CDS-PP falar no "PREC em que nos encontramos" tal como o fez num dos congressos do seu triste partido, transmitidos pela televisão como uma telenovela foleira. É patético ver um indivíduo com demasiados genes em homozigotia, vindo de uma família que viu o 25 de Abril como uma catástrofe falar desta data mas, infelizmente, alguns dos seus colegas ousaram fazê-lo na Assembleia da República, falando da família e dos seus problemas quando os queques, aristocratas, patos bravos e novos ricos que representam são os tipos que perguntam às mulheres que realizam uma entrevista de emprego se pretendem engravidar e que as despedem quando tal calamidade acontece. são os gajos que especulam com o valor do nosso dinheiro, das casas e dos bens de primeira necessidade em geral, tornando a nossa vida muito complicada, mesmo para quem não tem filhos. Os senhores do PP vivem numa espécie de realidade cor-de-rosa desconhecida para o povo comum, a realidade de quem tem dinheiro garantido à nascença e vê as políticas sociais como uma entrave (tipo PREC) para o seu enriquecimento.
Quem ouvir falar (e escrever) certos indivíduos, como o autor de um livro que fala da "revolução da perfídia" (entenda-se o 25 de Abril), como uma revolta marxista talvez fique convencido (ou não, pensando bem) que vivemos numa RSS. Não li este livro, acabei de ler sobre ele uma notícia num jornal. Espero estar redondamente equivocado sobre o seu conteúdo. Pois é. A inflacção, os juros bancários insuportáveis, a destruição das políticas sociais, a precariedade do emprego e outros, muitos outros problemas que se colocam aos portugueses (principalmente aos jovens trabalhadores que nada, absolutamente nada têm de garantido para o seu futuro, são fruto do bolchevismo em que vivemos. O capitalismo deve ser uma espécie de El-Dorado que nunca se chegou a concretizar. Talvez não seja necessário um Ministério da Verdade, enquanto ecrãs de plasma, automóveis de luxo, telemóveis e outras futilidades forem o que realmente importa para a população ocidental, o preço dos alimentos, das casas, da saúde e da educação continuarão a aumentar. Parece que precisamos de passar fome para abrirmos os olhitos. Começou com o arroz, mais se seguirão. É o custo da especulação que mantém a grandiosidade da nossa preciosa economia de mercado.
Para Pachecos Pereiras e outros fidalgos da direita gostaria de perguntar o que entendem por Democracia, porque ainda não percebi o que nos pretendem impingir. Talvez o que me custe mais a entender seja o conceito de mentira. Talvez o doutor Pacheco já se faça reger pelo novo acordo ortográfico, ao contrário de mim, mas para mim quando alguém expõe um vídeo onde se vêm os supostos laboratórios móveis de armas químicas do Iraque como pretexto para começar uma guerra que, afinal, nunca chegaram a existir, essa pessoa MENTE. Não é uma simples convicção. As convicções, por mais básicas que sejam, não pressupõem inventar coisas que nunca existiram. Quando tal acontece temos uma MENTIRA. Os governantes do mundo democrático não podem, por definição, MENTIR. Quando poucos fazem guerras, o que já é suficientemente mau, e o fazem por motivos obscuros, quando a maioria não quer não estamos na presença de uma decisão democrática. O doutor Pacheco está muito ofendido porque eu e muitos não concordamos com ele. O direito à discória faz parte, isso sim, da Democracia mas ele deve-se ter esquecido disso quando escreveu e publicou uma carta particularmente insultuosa a Mia Couto na sequência da decisão de invasão do Iraque. Parece-me que para o doutor Pacheco e outros a democracia é uma coisa maravilhosa sempre que toda a gente concorda com eles.
A democracia não se limita ao sufrágio, para quem ainda não percebeu. Os principais partidos (todos os dois deles) prefeririam revezar as suas maiorias absolutas, alternando cada dois mandatos. Se tal acontecesse, o sufrágio passaria a ser meramente simbólico, tal como o direito a discordar dos dois partidos, tal como o direito a negociar políticas sociais, leis e questões económicas. A Europa caminha para uma espécie de governos de direito privado. O capitalismo adoraria que os governos contratassem abertamente empresas que gerissem os povos. Digo abertamente porque isso já acontece nos bastidores. A promiscuidade entre corporações, ministros e secretários de estados (os políticos profissionais, essa elite) é doença crónica da democracia. Nós, o povito, estamos na mão de uma minoria. É isto a democracia? O que aconteceu à memória de Abril?
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