Sábado, 5 de Maio de 2012

puro empreendedorismo

Ainda sobre o Pingo Doce, há que salientar que podemos estar na presença um de dois recorrentes fenómenos da lógica capitalista: ou o grupo do SDS praticou dumping, o que constitui (ainda) uma crime punível pela lei portuguesa, ou (tcha-rããã!) detém, tal como os restantes hipers, margens de lucro brutais. 

 

Aparentemente, exceptuado quatro (!) produtos, o grupo do SDS tem, de facto, margens de lucro que chegam a rondar os 80%, o que constitui, efectivamente, uma prova indelével da ética capitalista, aprovada, apoiada e propagandeada pela ideologia neo-liberal. Eis, portanto um "vencedor".

 

Num mundo melhor, sem tanto empreendedorismo (adoro esta palavra!) capitalista, portanto, utópico, ridículo, retrógrado e essas coisas todas, essa margem de lucro seria reduzida para que os produtores pudessem receber mais pelos seus produtos e ainda sobraria boa margem para que os clientes finais pagassem menos por eles. 

 

...sem falar de pagar dignamente aos seus empregados, sobre os ombros dos quais este tipo e a sua família sustentam a sua enorme riqueza...


publicado por Harpad às 03:42
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Sexta-feira, 4 de Maio de 2012

doces carneiros

Ao contrário do que muito se discute nos dias de hoje, creio que a famosa iniciativa de promoções empreendida pelo Pingo Doce no passado 1º de Maio foi um acontecimento bastante positivo, pois fez incidir sobre nós, povo, a magnânime luz da realidade. Em primeiro lugar, há que louvar o próprio Soares dos Santos (SDS), ou quem quer que da sua esfera de doutos pensadores, pela brilhande ideia de realizar o evento nesse preciso dia. Num outro dia dia qualquer seria simplesmente acusado de "dumping". Assim, conseguiu, ao mesmo tempo, irritar o Belmiro, agrilhoar os seus trabalhadores (perdão, colaboradores, que isso de "trabalhar" é feio) e transformar a celebração do dia do trabalhador numa patacoada que, às costas dos jornaleiros do costume (sim, leram bem), reduziu as notícias do dia (e seguintes) à promoção de uma cadeia de lojas. Conseguiu até fazer com que os deputados se sentissem livres para discutir contas de supermercado na Assembleia da República quando, anteriormente, o pudor lhes permitia apenas passar as manhãs a rabiscar a lista de legumes, acepipes e champô para a caspa, a levar para casa no fim do dia (antes escrevia-se a lista de compras num pedaço de cartão rasgado de um maço de SG Gigante, hoje os deputados podem até tuitár sobre a promoção de fraldas para incontinentes do Pão de Açúcar).

 

No entanto, O SDS, conseguiu mais, muito mais do que reduzir o dia do trabalhador a publicidade gratuita à cadeia de supermercados a que preside. Conseguiu demonstrar que o dia que marca a luta dos trabalhadores pelos seus direitos de nada vale. Salazar nunca conseguiiu tanto: limitou-se a proibir a coisa. O SDS conseguiu ridicularizá-la. Conseguiu demonstrar que os portugueses, esses pobrezinhos, coitaditos, não passam de carneiros de que elites dispõem como entendem. Este é tembém é o tipo que não há muito tempo queria criar cursos (pagos do seu próprio bolso... o mãos largas!) para ensinar os seus "colaboradores" a gerirem os seus ordenados humilhantes.

 

Agora imaginemos o seguinte: cem euros representa uma boa soma, demasiado grande para os bolsos dos verdadeiramente necessitados. Seguramente muitos destes não poderão dispender tanto dinheiro de uma só vez. Quem terão sido, então, os principais clientes do SDS no primeiro de Maio? Em boa parte, talvez uma classe média com medo do amanhã. Talvez. Mas das lojas voram também garrafas de bebidas espirituosas. Muitos clientes admitiram que gastaram ali muito mais dinheiro do que alguma vez pensariam e boa parte em merdices que pouca falta lhes fazem. O que aconteceu, então? Simples: mais uma vez, lá foram os carneiros armados em xicos-espertos, para onde os mandou o pastor. 

 

Promoções? Méééé. Austeridade inevitável? Méééé. A culpa é do Sócrates? Méééé. Fio dental extra encerado com efeito branqueador agora apenas a um euro e noventa e nove? Méééé.

 

Aquilo que o SDS fez foi medíocre, pensado por um medíocre para outros medíocres. O governo da santíssima trindade Portas-Coelho-Relvas (PCR) não compreende o exagero: afinal é uma estratégia de negócio perfeitamente limpa. E é. Tal como a agiotagem do FMI, tal como as negociatas com activos tóxicos (lembram-se, despoletou esta crise -  não a dívida soberana), tal como pagar odenados de treta, tal como mover sedes para paraísos fiscais, tal como comprar um jacto para uso particular mas facturá-lo à empresa para fugir aos impostos. Tudo isto é legítimo. Tudo isto é medíocre. Tudo isto é Capitalismo e, convenhamos, o Capitalismo assenta muito muito bem aos carneiros.


publicado por Harpad às 00:16
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Sábado, 15 de Outubro de 2011

uma coisinha de nada...

...ou assim desejariam uns quantos. 

 


publicado por Harpad às 01:36
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Sexta-feira, 14 de Outubro de 2011

...ora aí está...

Proponho que sejam passadas em revistas todas as grandes vitórias do neo-liberalismo português, encimado por este nosso novo governo que tanto nos afoitámos por eleger:

 

1) Acabaram-se a saúde, educação e transportes verdadeiramente públicos e gratuitos ou de custo simbólico.

2) Acabaram-se os despedimentos com justa causa. Ficaram só os despedimentos.
3) Acabaram-se com as indemnizações dignas desse nome por despedimento seja de que tipo for.

4) Acabaram-se as férias pagas.

5) Acabou-se o conceito de bem de primeira necessidade. A electricidade é cara, o gás também, a água para lá caminha. Privatize-se o ar também, porque não.

 

Em troca recebemos:

 

1) Menos ordenado.

2) Maior carga fiscal.

3) Menor poder de compra.

4) Pior qualidade de vida.

 

E para quê, afinal? Para que os Amorins, Azevedos, van Zelleres, Mellos, Balsemões e outros figurões não paguem impostos em condições.

 

Assim sendo, todo um século de vitórias conseguidas a ferro pelos povos foi definitivamente enterrado. Eis-nos, portanto, regressados ao século XIX. Um detalhe curioso, contudo: no século XIX os estados já estavam endividados. Aparentemente,já então, esta merda toda de nada mais serviu, serve ou servirá, do que a manutenção do status quo de um punhado de ricos. 

 

 

Sugiro que acordemos.  Dia 15 para a rua.


publicado por Harpad às 00:14
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Terça-feira, 9 de Agosto de 2011

XXI Ocidental - IV

Por mais que o desejem, por mais que o jurem os neo-liberais, por mais que culpem tudo e todos pelos seus insucessos (do estado social ao multiculturalismo), o capitalismo não é, nunca foi, nem será, sustentável. A aritmética do capital é simples: numa perspectiva neo–liberal, dois mais dois não são necessariamente quatro. Podem ser cinco, seis, ou zero, dependendo de onde sopram os ventos da especulação. No entanto, a aritmética real contradi–los: dois mais dois serão sempre quatro e assim, depois de sessenta anos de american dream, em que dois mais dois podia ser mudar de carro todos os anos, casa no subúrbio com piscina e consolas para os miúdos, eis que a matemática mais elementar chegou para cobrar. Afinal, o grande sonho americano, o grande horizonte capitalista não está ao alcance de maioria. A maioria, essa, endividou–se até ao tutano, deixou de pagar as contas e os juros do crédito que contraiu para se cercar de luxos inúteis e assim começaram a cair as empresas de crédito ao consumo. E depois os bancos que lhe emprestavam dinheiro. E por aí fora. Hoje, são os próprios países que estão em risco. É curioso pensar que o tal “efeito dominó” demonizado pelo senhor Kissinger afinal, não foi despoletado por ditaduras de loucos e genocidas que enterraram a esperança de milhões em Gulags e afins mas pela própria ilusão capitalista, se me é permitida esta fraca analogia.

 

A humanidade não pertence a ela própria. A humanidade pertence a uma elite. Esta elite não é de “esquerda” nem de “direita”, nem “democrata” nem “republicana” nem se identifica com “ismos”. Esta elite utiliza, isso sim, um “ismo” – o capitalismo – para exercer o seu domínio. Para esta elite, que detém, efectivamente, a quase totalidade da riqueza mundial, o resto da humanidade existe para a servir. O resto da humanidade é mão–de–obra e, simultaneamente, mercado. Nós, o resto, somos inferiores, o nosso propósito é a subserviência. Se existe fome, se existe miséria, se existe precariedade, para a elite, tal é um efeito secundário necessário para a manutenção do seu status, um fenómeno episódico que convém monitorizar e nada mais. Esta elite formou um grupo – arriscaria dizê–lo político se na verdade, não o soubéssemos acima de qualquer concepção de “política”. A democracia, para estes senhores, é algo com que as massas se entretêm para que se convençam de que são livres. A necessidade de financiar campanhas políticas e a eficácia dos grupos de pressão (ditos lobbies) garante–lhes o verdadeiro controlo sobre as nações. Colocaram–se de lado, para o efeito, rivalidades entre famílias, e criou–se o grupo Bilderberg, assim chamado pela localidade suíça onde ocorrem reuniões. Interessantemente, o tal senhor Kissinger tem sido o feliz cão–de–fila deste mesmo grupo. O capitalismo parece ser a ferramenta ideal para a manutenção do status deste grupo de poderosos, os verdadeiros senhores do universo: é apelativo – os humanos gostam de possuir e exibir as suas posses; é auto–sustentável ideologicamente – a grande maioria das pessoas prefere a ilusão de ser, um dia, parte da elite do que a certeza de que, levando uma vida honesta, poderão ter qualidade de vida garantida através de justiça social; e por fim, dinheiro cria dinheiro – quem é rico tem e terá as portas do mundo destrancadas, quem tem muito dinheiro, tem–nas escancaradas. Na prática, a receita é simples: privatiza–se tudo, garante–se um ensino de massas fácil, ilusório e estupidificante (veja–se Bolonha), tendo–se o cuidado de criar uma Ivy League para as elites que a possam pagar. O resto é o laissez faire capitalista e puro merchandising – é certo e sabido que as pessoas comuns mais depressa absorvem publicidade do que propaganda política. O sistema tem, contudo, falhas graves.

 

As elites, no seu conjunto umas poucas dezenas de famílias de todo o mundo, não foram, são, e dificilmente serão, afectadas pela crise financeira mundial. Ninguém lhes cobra mais impostos para cobrir défices e redistribuir a riqueza que andaram a acumular e cujo único propósito é a manutenção do status. Ninguém lhes pede para prestar contas pelo descalabro do sistema financeiro que divisaram e mantêm. Pelo contrário, estão cada vez mais ricos. O mercado económico dos comuns trabalhadores, esse, está cada vez mais depauperado de riqueza após a sangria desta para os bolsos da elite, ocorrido principalmente nos últimos sessenta anos, desde que os EUA tomaram conta do mundo (ou quase todo – mais do que uma questão ideológica, a questão soviética foi essencialmente geopolítica). Esta sangria de capital das classes média e inferiores, não apenas continua após a crise do sub–prime como aumentou com o pretexto dos défices avassaladores (e irrecuperáveis, convenhamos) que os países capitalistas acumularam para manter um estilo de vida que tanto apregoaram e que é, obviamente, insustentável. Assim, quando do que necessitávamos seria a redistribuição de riqueza pela humanidade, eis que as elites, recusando abrir a bolsa, forçaram governos a cobrar mais impostos à classe média, flexibilizar leis do trabalho, aumentar a precariedade laboral, entre outras medidas já bem conhecidas por todos nós. A curto prazo, poderá manter o capitalismo à tona de água – durante mais um ano, ou dois, ou três – mas não impedirá o navio de se afundar. A médio prazo (provavelmente mais curto do que se pensa), a massacrada e empobrecida classe trabalhadora deixará de poder consumir e sem consumo, não há economia de mercado. Onde estão, pergunta–se, as reformas que se adivinham necessárias: a tributação sobre as grandes fortunas, o fim dos paraísos fiscais, o controlo (ou eliminação) da especulação financeira (começando pelas agências de rating), o controlo dos custos das matérias–primas essenciais que tanto têm encarecido a produção primária à custa da cartelização (como no caso do petróleo), a implementação de um estado social justo em que se paguem (e bem) impostos mas onde saúde, segurança, transportes e educação sejam gratuitos para que sobre a quem trabalhe riqueza para poder comprar e assim manter um mercado saudável e auto–sustentável? Nada disto, contudo, foi feito. Pelo contrário, vivemos numa época de ditadura: ao invés do medo de uma qualquer polícia política temos agora o medo dos mercados e dos senhores do universo que os controlam. É a ditadura do dinheiro. É o capitalismo.

 

Esta elite, estes senhores do universo, apenas temem duas coisas – duas coisas apenas: 1789 e 1917. Estes dois números, ou melhor, duas datas, representam as duas únicas alturas em toda a história da humanidade em que foram derrotadas. É claro que antes tínhamos outras famílias, outros nomes para os senhores do universo mas as elites são as elites. O problema é que as pessoas são as pessoas. Um Rothschild e eu partilhamos o mesmo património genético. Eu não sou um senhor do universo nem quero sê–lo mas a mim, tal como a muitos outros, a paciência tende a esgotar–se. Aconteceu antes: em 1789 e em 1917. Robespierre e Estaline poderão ter enterrado o sonho mas os verdadeiros sonhos nunca morrerm. Pensem nisso, meus senhores. E paguem o que devem. 


publicado por Harpad às 23:57
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Quinta-feira, 21 de Julho de 2011

a falácia das privatizações

Deixo aqui este interessante vídeo sobre privatizações, medida de que o nosso actual governo tanto aprecia. O filme, em forma de documentário, diz respeito às medidas de privatização adoptadas pela administração Menem na Argentina, há alguns anos atrás. Relembro de que se trata do mesmo país que, algum tempo deois, mergulhou numa das mais severas crises económicas da história contemporânea, uma crise que, como nos devemos lembrar, faz a Grécia nos dias de hoje parecer um paraíso capitalista.

 

O vídeo tem origem no Brasil, tendo sido elaborado como resposta às medidas propostas pelo então candidato adversário de Lula, José Serra. As analogias que se podem retirar para as actuais propostas do nosso coelho-ministro e sua corte são aterradoras. Meditemos, portanto.

 

 


publicado por Harpad às 00:34
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Terça-feira, 12 de Julho de 2011

os abutres e as alforrecas

...e eis que - não ao sétimo, nem ao mesmo oitavo, mas ao fim de incontáveis dias - a implacável inércia da aristocracia política, social e económica da Europa se levantou! Às armas que a Itália está sobre fogo! Às armas que a especulação financeira nos estrangula! Às armas que tenho casa à beira do Lago Como!...

 

Não entendo:

 

-mas a especulação financeira não é a mãe, o pai, a avó e o gato Tareco deste glorioso mundo capitalista?

 

-a economia privada, ao invés de destruir nações, não iria levantá-las do chão para a glória do deus Capital?

 

-Portugal não fará parte da União Europeia, que nada fez para impedir este ataque? Tal como a Grécia? Tal Como a Irlanda?

-Portugal não faz parte da NATO, organização humanitária gerida pelo país que pretende destruir o Euro para não competir com o seu sobrevalorizado e ultra-especulado Dólar?

 

Bartoon por Luís, de 11 de Julho. Retirado do Público.

 

 

... e também...

 

-mas não é o Sócrates o culpado disto tudo?

 

-o governo não tinha caído pela excessiva severidade de um PEC qualquer? (Já vamos na versão quê? Cinco?)

 

 

 

 

 

 

 


publicado por Harpad às 01:16
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Quarta-feira, 15 de Junho de 2011

afinal, para que serve um economista?

...eis a questão. Depois da crise de 2007, que reformas foram efectivamente feitas na economia de mercado (vulgo, "capitalismo"; vulgo "liberalismo"). Zero. Após um ano de FMI a Grécia está pior. Para que serviram os grandes economistas e gestores? Nada. O que aconteceu à Islândia e à Irlanda, esses grandes modelos capitalistas? O descalabro total. Afinal vamos ter uma nova crise em 2013, diz o economista que previu a de 2007. Fantástico - Marx já tinha previsto o acumular de crises até à ruptura final do capitalismo, ainda antes de meados do século XIX! Afinal enganei-me, parece-me que houve um economista que foi, efectivamente, capaz de debitar informação original. Pena que esteja morto.


publicado por Harpad às 23:38
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Domingo, 29 de Maio de 2011

o grande feito neo-liberal

Torna-se cada vez mais evidente que o debate político ganha contornos futebolísticos. Fala-se de "esquerda" e "direita" como se se falasse de "Porto" e "Benfica" ou "Benfica" e "Sporting". Etc. De um lado temos os "vermelhos" que, convenhamos, pouco ou nada mais têm apresentado do que demagogia e repetitivismo. Do outro lado temos os neo-liberais, a direita política e social, que parece basear os seus argumentos em tudo menos nos factos, na história e na simples aritmética. Aparentemente, será esta gente que os portugueses irão eleger para o próximo governo, tal como muitos outros europeus antes o fizeram. Ou não. 

 


O problema de Portugal não é apenas um problema de Portugal. A globalização assim o dita. O problema é mundial e está enraizado na própria essência do neo-liberalismo: o laissez-faire, o individualismo, a ganância, a riqueza imediata, todos conceitos-pilar de um sistema económico sem hipótese de futuro mas, admitamos, atraente para a grande maioria da população humana. 

Para os economistas liberais, dois mais dois não são quatro. Podem ser cinco. Ou mesmo seis. Ou talvez três ou zero se os mercados assim o entenderem. Quando forem menos que quatro, o problema resolve-se pedindo crédito. A assim rebentou a bolha do sub-prime: mais de meio século da imposição dessa ilusão que é o american dream ao proletariado: tenha uma casa enorme, uma piscina, consolas para os putos, mude de carro todos os anos, vista roupa de marca. Não o pode pagar? Não faz mal. Aceitamos crédito. 

Há que admitir mérito na estratégia neo-liberal. Ao invés de reformar o capitalismo e de devolver a esse mercado que o mantém realmente a funcionar - a classe média - a riqueza que tem vindo (e continua) a ser acumulada por muito poucos pelo mundo fora. Acumulada por drenagem, literalmente da classe trabalhadora. Pois. Dois mais dois continuam a ser quatro e o dinheiro não cresce nas árvores: se entre duas pessoas existirem duas moedas, para que uma tenha duas a outra tem zero. Simples. Um economista diria que não mas também, os economistas são os tipos que ganham prémios-nobel por introduzirem o comércio da poluição. 

 

Poder-se-ia introduzir um sistema de reformas que refreasse a oferta de crédito ao desbarato, a especulação financeira e o apelo ao consumismo desmesurado, entre outras medidas. Nada foi feito por se tratarem de conceitos avessos ao laissez-faire. Poder-se-ia obrigar os muitos ricos a pagarem impostos a valer sobre as suas desmesuradas fortunas. Como alternativa, investir em actividades que criassem verdadeiros postos de trabalho, a troco de regalias fiscais. Nem pensar. O bolso é o órgão onde mais lhes dói. Em Portugal, estamos há demasiado tempo dependentes da mesma economia corporativista que governava a Outra Senhora. Sim, é verdade, Belmiros, Champalimauds e muitos outros já se sentavam à mesa do Estado-Novo. Mas a culpa é dos portugueses que são pouco produtivos. A culpa é dos impostos. A culpa é do estado. A culpa é to Sócras. A culpa é da CGD. A culpa é dos sindicatos. A culpa é do Trocas-te. A culpa é dos cabrões que querem ter ordenados mínimos, contratos de trabalho, despedimentos com justa causa e indemnizações e outros conceitos totalmente avessos ao ideal empreendedorista neo-liberal, sempre atreito a ao lucro fácil e imediato mas nunca à noção de que, espremendo a classe média, acaba-se a economia de mercado porque deixa de haver poder de compra. Afinal tudo se resume a uma linha: a classe trabalhadora que alombe com a austeridade para que os ricos continuem a enriquecer.

 

É isto. 

 

E apenas isto.

 

Dúvidas? Foram publicadas recentemente as listas dos mais ricos do mundo - lá estão todos e mais ricos ainda. Afinal, quem se fodeu (desculpem a expressão) com a crise iniciada em 2007?

Elejamos, portanto, o Grande Coelho Laranja para novo líder de um barco a afundar-se com o peso, não do estado, mas do liberalismo. Engulamos as falácias capitalistas de austeridade, entreguemos os direitos pelos quais lutamos há tanto tempo. Escutemo-lo a apresentar o seu programa eleitoral ultra-liberal a prometer mais austeridade do que o próprio FMI considera necessário. Deleitemo-nos a tentar explicar porque é que os portugueses deviam pagar, e bem, pela saúde privatizada, esse direito essencial para quem o pode pagar, entre outras medidas similares. Isto ajuda o capitalismo? Como é que tal sucederá com mais uma machadada no poder de compra da classe média? Ouçamos este betinho de Massamá divagar sobre as Novas Oportunidades, chamando a este alunos de medíocres, quando ele próprio tirou o seu curso (em oito anos, consta) em que universidade? Lusófona? Do Atlântico? Quem é este fantoche de ricos e poderosos, afinal? Mas quem é este indivíduo, afinal? Quem são os tipos que o seguem? Quem são os titeteiros atrás dele? Já agora, quem são estes comentadores políticos, economistas de treta, jornalistas e outros bardamerdas que tal, que de cada vez que abrem a boca ajudam a enterrar o meu país no lodaçal da especulação financeira internacional? Quem são estes gajos a quem não reconheço mais inteligência, clarividência, conhecimento ou seja o que for, do que a mim próprio, para governar um país, modificar mentalidades ou impôr candidatos?


Meus caros, o neo-liberalismo terá, quanto muito mais dez anos de vida. É inevitável: todo o mundo capitalista flutua sobre riqueza que não detém para que muito poucas famílias se possam continuar a sentar no topo do mundo. Tudo o resto, com a vossa licença, é conversa de merda.  


publicado por Harpad às 22:17
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Quinta-feira, 26 de Maio de 2011

...já agora...

Gostaria que o senhor Coelho me indicasse o nome de alguns prémios Nobel em ciência que tivessem desenvolvido o trabalho pelo qual foram laureados sendo financiados por empresas. 

 

É que assim de repente, de repente, não me lembro de algum...


publicado por Harpad às 00:14
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Quarta-feira, 13 de Abril de 2011

sem tirar nem pôr

É isto.

 

É exactamente isto que sente o rasca do autor deste blog e que já sentia no dia da manifestação, sentimento provavelmente partilhado por outras poucas centenas de milhar de rascas, à rascas e à rasquinhas.

 

 

rasca1


publicado por Harpad às 23:25
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Sexta-feira, 25 de Março de 2011

XXI Ocidental - III

Interrogo-me frequentemente quem terá nomeado os doutos políticos, jornalistas, economistas e outros especialistas que nos bombardeiam em cadência horária com as suas opiniões, comentários e razões. Todos opinam, todos se fundamentam com o quer que lhes pareça conveniente mas a verdade, a história, essa, permanece intocada, encerrada no seu túmulo.

 

A essência do neo-liberalismo é o curto-prazo. Na verdade, este é o único conceito que as massas entendem. O lucro que preciso, hoje. O carro novo que quero, hoje. O belo tacho, hoje. Enfim, pode-se resumir esta essência numa palavra bem portuguesa: o Desenrascanço. As causas políticas e sociais do estado de Portugal, da Europa e do mundo capitalista em geral são também assim justificadas, diante da vista grosseira do curto-prazo.

 

Para os comentadores, tudo é simples. O país está doente. A causa: Sócrates. A solução: privatizar o que se pode privatizar, flexibilizar o mercado de trabalho, enfim deixar cair o estado social e transformar o mercado de trabalho num antro de precariedade. Mas já lá iremos. O pensamento neo-liberal, como já referi, é totalmente incapaz, por natureza, de formar um raciocínio numa escala de tempo mais alargada do que o prazo de governo. Esquecem-se os comentadores, no entanto, de vários dados importantes:

 

1) Quem nos transformou num paraíso da mão-de-obra barata para os empresários alemães foi o douto Cavaco, actual PR. Previsivelmente, para todos com mais testa do que o vulgar capitalista, o alargamento da UE a lesta trouxe, a médio prazo (lá está), um mercado de trabalho apetecivelmente mais barato. Será difícil recordar o fecho, quase diário de fábricas pertencentes a multinacionais centro-europeias há alguns anos atrás? Quantas vezes vimos os telejornais abrirem a sua emissão com imagens dos trabalhadores desolados à entrada de uma qualquer fábrica têxtil de onde os patrões, em muitos casos, tinham já retirado o equipamento sem que os operários soubessem sequer das intenções de encerramento? A culpa foi do Guterres? Do Sócrates? Não.

 

2) Caro precário: quem inventou os recibos verdes não foi o PS. Foi o PSD, mais uma vez, nas mãos do douto Cavaco.

 

3) Para continuar a falar deste senhor, convém relembrar que foi durante os seus mandatos que assisti a cargas da polícia sobre manifestantes. Exemplos: secos e molhados. Também foi graças a este senhor e à senhora Ferreira Leite que fiquei conhecido como “rasca” (sim, eu estava lá, mas não mostrei nenhuma parte impúdica de mim mesmo). Fala-se hoje de manipulação da imprensa. Esquecemo-nos dos falados telefonemas de um tal de Marques Mendes para a RTP?

 

4) A nossa economia não está na mão do estado. Muito menos nas mãos dos trabalhadores. Ao contrário do que pensa um fedelho qualquer do CDS que não me lembra agora o nome, não vivemos num PREC nem mesmo pós-PREC. A nossa economia continua a pertencer aos Mellos, Champalimauds, Espírito-Santos, Azevedos, Martins, e outros mais ou menos brasonados que já se sentavam à mesa do Estado Nove e que simultaneamente o alimentavam e dele se nutriam. Fugiram de medo com o 25 de Abril para viver vidas de exílio faustoso no Brasil, para regressarem pelas mãos do senhor Soares, com uma generosa recompensa monetária, diga-se. Estes senhores estão cada vez mais ricos. Quem tem dúvidas tenha a bondade de consultar as estatísticas dos mais ricos de Portugal reveladas recentemente. Curioso ninguém questionar estes clãs sobre a sua responsabilidade na economia e negócios deste país. Curioso também que a ninguém pareça obsceno que estes senhores enriqueçam desmesuradamente enquanto a classe média se encolhe. Curioso que ninguém se indigne com a mudança da Sede do Pingo Doce para a Holanda, para que assim o dinheiro dos clientes portugueses sirva apenas para o pecúlio dos contribuintes holandeses. Ninguém pergunta também, se a economia este tão má e se é preciso flexibilizar o mercado de trabalho, porque motivo os bancos de cá continuam a bater recordes de lucro e têm tantas benesses fiscais. Talvez devêssemos também perguntar sobre os esquemas de mascarar lucros através de pseudo-empresas subsidiárias, constantemente em falência técnica, de que se blindaram os grandes grupos económicos para não pagar impostos. Curiosos que esta gente venha regularmente, e principalmente através dos PSDs, exigir que se precarize ainda mais a mão-de-obra quando, aparentemente, dinheiro não lhes falta o luxo. São os nossos intocáveis, medrosos apenas da memória dos dois únicos casos, em toda a história da humanidade, em que os verdadeiramente poderosos verdadeiramente perderam: 1789 e 1917. Enoja-me pensar que um partido dito socialista também nada tenha feito para contrariar os todo-poderosos mas não me surpreende quando nem Guterres nem Sócrates os tiveram no sítio sequer para fazer frente aos seus próprios "boys".

 

5) “Devemos pagar devidamente aos trabalhadores pois eles são os consumidores”. Não, não foi Marx quem o disse. Nem Engels. Nem Lenine, Trotski, Cunhal ou mesmo Robespierre. Quem o disse foi um dos maiores capitalistas de todos os tempos, um tal de Henry Ford. Um indivíduo modelar enquanto empreendedor, ao conseguir encher-se de dinheiro nazi antes da entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial e, depois disso, dos contribuintes norte-americanos, cerca de 400 000 mil dos quais nunca regressaram à sua terra. Este pressuposto há décadas que foi esquecido e recalcado, mesmo depois da crise de ’29, causada pela falta de escoamento de produtos norte-americanos para um Europa em ruína absoluta. Mais uma, o pensamento a curto-prazo em acção: hoje aumenta-se o IVA, corta-se nos salários, obriga-se o cidadão comum a pagar por saúde, educação e transportes privados. Parece interessante mas alguém se deve estar a esquecer do efeito a médio prazo que retirar poder de compra aos cidadãos-comuns irá colapsar o comércio do qual toda a economia depende.

 

6) Porque quer, assumidamente ou não, a direita o FMI? Simples: trata-se da peça que faltava para o paraíso governativo. Já lhes cheira a maioria absoluta, têm um presidente amigo ou que, no mínimo, não chateia, podem culpar tudo no Sócrates e fazer nada pela qualidade de vida dos cidadãos dizendo que nada podem fazer, que o FMI manda e o BCE quer. Quem ganha com isto? Os PSDs e a nata da sociedade por trás deles (vede acima).

 

7) Salazar era um gajo tão porreiro e liderou tão bem que um milhão de Portugueses se foi embora do país, seguramente sem o intuito de ensinar ao resto do mundo o benzito que se fazia em Portugal. É também curioso pensar que esses senhores e os descendentes constituem uma amostrinha do mais conservadorzito e retrógrado que por aí anda. Andam também por aí uns mentecaptos que dizem que isto estava melhor antes do 25 de Abril. Nem antes do 25 de Abril nem há 20 anos atrás. Éramos no tempo da Velha senhora e da maioria absoluta do senhor Dom Cavaco, mais acomodados, sem as chatices de eleições, oposições sem ter direito a essa suprema complicação que é a capacidade de pensar. Aparentemente, o comodismo faz muita gente feliz.

 

8) Foi um golpe de génio, há que admiti-lo: transformar uma crise do capitalismo numa crise do estado social. O senhor Daniel Bessa que me desculpe, mas não lhe reconheço mais inteligência, sapiência ou outra ciência do que a mim próprio para engolir esta e outras. Não interessa, contudo. Façamos as contas a todos os défices de todos os países capitalistas do mundo e percebamos que vivemos num castelo de cartas que mesmo com este tipo de tapa-remendos não tem mais do que uma geração de vida. Seria dispensável mas parece inevitável: ninguém aceita reformas no sistema económico nem os ricos deixam que lhes vão aos bolsos. Enquanto isso, a riqueza continua a desaparecer dos mercados até ao final rebentar da bolha.

 

9) Criar ricos gera pobreza. Lamento mas é uma verdade aritmética. Um mais um são dois, independentemente de o capitalismo permitir que possam ser três, quatro ou mesmo zero, conforme a disposição dos mercados. Para alguém ter dois euros num mercado com três para três pessoas, há alguém que se fode. No mundo em que vivemos, isso resolve-se pedindo dinheiro emprestado. Até quando? Quem duvidar que atente nas causas da crise: a falência do pequeno crédito, usado pelo cidadão-comum norte-americano para se abastecer das futilidades apregoadas como parte do “american dream” precisamente porque não pode pagar esse mesmo sonho que, afinal, não passa de um grande embuste.

 

10) Há uma geração inteira à rasca. E uma outra que teve o 25 de Abril porque um punhado de militares lhes ofereceu. Seguiram-se os tachos na função pública, nas melhores empresas, as reformas, uma vida confortável. E nós, seus filhos? Comemos com os recibos verdes, as bolsas, o desemprego, os call-centers, essa aberração que é o "out-sourcing" e na volta ainda os contratos "orais" de que andou para aí a falar o betinho que aparentemente vai ser o fututo PM. 

 

11) Nós somos nada. Somos mão-de-obra barata. Somos mercado de futilidades. Somos precários. E para quê? Para aumentar a margem de lucro de uns poucos. E somos burros. Muito burros. Burros porque nos aborrece pensar. Burros porque deixamos outros pensar por nós. Burros porque os políticos que deixamos que nos liderem são medíocres, tal como os que se lhes opõem. Sim, porque não é a esquerda "chic" da brigada anti-gravata (espécie de antecâmara dos PSDs) nem o repetivismo norte-coreano quem vai agregar os descontentes deste país, ou outros. Neste século não há cérebros nem líderes. Apenas cegos, à beira de um barranco.

 

Resta-me contratular por ninguém se interessar por nada do que aqui escrevo. Se vivêssemos no tempo da Velha Senhora, estaria já a caminho do Aljube.

 


publicado por Harpad às 23:41
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Sábado, 12 de Março de 2011

de rascas e afins

Foi interessante ter participado nesta manifestação despois de ter, há já tanto tempo atrás, ter participado numa outra em que um jornaleiro medíocre apelidou, a mim e á minha geração de "rasca". Foi ainda mais interessante por ter reunido tanta e tão variada gente, num acontecimento que fez quase desaparecer partidos, sindicatos e outros costumeiros abutres do bate-pé político. Duas coisas importantes ficam: 1) muita gente está farta do "sistema" (gostei particularmente de ver, muitos e muitos manifestante anti-capitalismo, inclusivamente) e 2) as massas ainda vivem. Não somos ainda carneiros. Politiqueiros, comentadeiros e outros medíocres que se cuidem. Os que estão no poleiro e os outros. Fica ainda uma nota sobre o saudável humor e pacifismo da manifestação e um louvor para quem a "organizou".


publicado por Harpad às 23:35
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Domingo, 20 de Fevereiro de 2011

o colapso dos ideais

Se há característic aue irá caracterizar, para os futuros historiadores, o início deste nosso novo século é o total desgaste dos ideais. Começou como algo natural, por hábito e desinteresse, com o fim da Guerra Fria. Simplesmente, deixaram de fazer sentido, para gáudio dos que não pretendem pensar e dos que temem quem o faça. Não devemos confundir ideiais com ideias: ideias todos as têm, numa distribuição de carácter contínuo, da mais expepcionalmente inteligente até ao infinito da mais pura cagada. Sim, porque se há distinção entre a inteligência e a estupidez é que a primeira tem limites.

 

Não é difícil verificar, basta escutar as conversas de café, os jornais e, talvez mais importante ainda, os comentários do público comum e geral colocados na Internet ao suposto abrigo do anonimato, que o que resta dos idealismos, essas torrentes de ideias que moldaram o destino dos Homens ao longo dos séculos, está reduzido ao nível intelectual do confronto entre adeptos de clubes de futebol. Existe a "esquerda" e a "direita"como existem os "vermelhos" e os "azuis", para utilizar uma metáfora que bem entendemos. E a mediocridade geral que caracteriza a nossa classe política (dentro e fora do país e da Europa, entenda-se), reflecte isto mesmo. Veja-se bem: quem outrora defendeu a invasão "comunista" do Afeganistão defendeu com unhas e dentes a re-invasão do mesmo da forma idiota com que foi realizada e, ainda mais absurda, a do Iraque. Porque sim. Há quem se intitule comunista e defenda regimes fundamentalistas religiosos. Veja-se como se transformou uma crise do capitalismo numa crise do estado social: subitamente, as embrutecedoras políticas financeiras de "direita" viraram o problema para o "socialismo" que persiste ainda em alguns países (entre os quais, supostamente nós, como se alguma vez tivéssemos sido socialistas). Vejam como um pobre diabo, mal pago, endividado e perto de ser despedido para deslocalização da fábrica onde trabalha se revela um acérrimo defensor dos mesmos "ideais" que o enterram cada vez mais na base da pirâmide social.

 

Acabaram-se os "ismos" para bem de um "ismo" supremo. que, passo a passo, nos conduz ao vazio - o Capitalismo - ao vazio intelectual, ao vazio social e ao vazio individual. Já não somos seres que pensam mas entidades que compram. Somos clientes de empresas e estados, clones ávidos de comprar, ter e exibir dos quais artigos pouco ou nada precisamos mas que estimulam, tal como outros vícios, a libertação de endorfinas. Se surgir, nalgum ponto ou outro deste mundo, alguma réstea de um ideal que se lhe oponha, surge um coro de vozes ofendidas e ofensivas, odiosas, mesmo, de cajados e bastões na mão dispostos a defendê-lo. Estamos onde nos querem: por mais pobres, por mais injustiçados, por mais despojados que sejamos dos direitos que aqueles que lutaram por outros "ismos" nos deixaram por herança,  somos já capazes de injuriar, odiar e porque não, no futuro talvez até de matar pelo Capitalismo.

 

Percebe-se bem de onde vem tanta confusão, apesar de tudo. Veja-se como um bando de medíocres destruiu o sonho de milhões debaixo das ruínas do Muro de Berlim e enviou a esperança para o Gulag. Veja-se como os tipos que se auto-proclamam os vencedores da Guerra Fria, em nome da paz e da liberdade invadem, torturam, mentem e escutam as conversas de tudo e todos com total complecência do seu próprio povo, a quem os ideais nunca disseram fosse o que fosse. Os ideais são coisas dos europeus. E os europeus estão em coma. Terminou a era da luta pela justiça social, da luta por uma sociedade que sirva a maioria.


publicado por Harpad às 22:12
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Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2011

este país não é para jovens

Eu, tal como muitos outros, pertenço, em teoria, à chamada “geração rasca”. Ou à “geração à rasca”. Ou à "geração deolinda”. Ou o quer que se nos lembrem de chamar. Não é importante o nome, aqui. Importante, isso sim, é que somos a primeira geração em muitas com um nível de vida inferior ao dos nossos pais. Importante é sermos todos parte de uma geração urbana e instruída que, pela primeira vez em muito tempo, trabalha para o dia-a-dia e não para o futuro.

 

Somos a geração sacrificada em nome das estatísticas do nível de ensino. Somos a geração sacrificada em prol da “competitividade” e da “flexibilização”, conceitos que não significam mais do que meios de melhoramento da margem de lucro de uns poucos privilegiados. Somos uma geração jovem a tentar sobreviver num país dominado por velhos onde o conceito de mérito facilmente se confunde com a mera passagem do tempo. Somos uma geração habituada a ver velhos atribuírem prémios, títulos e regalias a outros velhos por terem produzido numa vida inteira aquilo que somos obrigados a fazer num ano a recibos verdes e sem qualquer crédito. Não há lugar para nós nesta terra. Todos os bons lugares já foram ocupados por gente muitas vezes com menos mérito, talento e vontade.

 

Que parvos que somos todos nós. Deixamos que os media e velhos contabilistas e outros miserabilistas nos digam que não temos futuro. Mas temos. Vão-te todos embora, digo eu. Se tudo está assim tão mau, que desapareçam eles todos daqui, abdiquem dos cargos, salários e reformas, já agora, que nós tratamos disto. Nós conseguiremos, eles já tiveram uma oportunidade. Nem lhes passa pela cabeça do que somos capazes da fazer nem da nossa capacidade de trabalho. Vejo-o todos os dias, a toda a hora. Para já não passamos de uma massa vergada sobre o peso do trabalho ou da ausência dele, exaurida pelo sentimento de injustiça, unidos em torno de coisas simples de modesto significado, como uma simples música. Mas lá iremos.

 

Para já ainda nos podemos esquecer de que o capitalismo, hoje, tal como ontem e tal como o continuará a ser, se alimenta de gerações inteiras para dar guarida a muito, muito poucos. A história, no entanto, tem muito a ensinar: as massas não se esmagam, quanto muito vergam – e só até um certo ponto.


publicado por Harpad às 22:49
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Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2011

Abram a pestana, seus camelos

Abram os olhinhos e abram-nos bem: estamos à beira de ser ocupados, escravizados e manipulados por interesses privados estrangeiros. Imaginem perder tudo o que andaram a construir e a poupar, tudo pelo que lutaram a vossa vida inteira às mãos de especuladores: os vossos negócios, as vossas carreiras, a segurança das vossas reformas e o conforto e a educação dos vossos filhos! Para quê? Para que os muito ricos não tenham de pagar a crise, para satisfazer a ganância dos que especulam com as nossas vidas, para enfiar no poleiro do poder os Passos Coelho deste país!

Abram os olhos, seus carneiros! Vejam bem a ilusão que vos vendem faz décadas, a ilusão do Capitalismo onde tudo é possível desde que se endividem até ao tutano dos ossos para lucro de poucos. Vejam bem se sofrem com a crise os ricos e poderosos. Vejam bem se o comércio de bens de luxo foi afectado e perceberão que são vocês, carneiros de classe média, que têm de alombar com as consequências, à escala mundial, da contínua sangria de capital dos mercados para os bolsos de muito, muito poucos.


publicado por Harpad às 22:28
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Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2010

Bombas para quê

O novo século trouxe uma nova guerra e uma nova arma. Esqueçam as bombas, da A à H. A nova arma é a especulação financeira. Para quem não percebeu: existe uma guerra entre os EUA e a China e a Europa é uma nova planície de Verdun. Os países da orla europeia, entenda-se os PIGS (nós, os gregos os espanhóis e os irlandeses), são os alvos mais fáceis, como se de fracas, velhas e obsoletas fortalezas nos tratássemos. A arma é simples: alguém especula que não conseguimos pagar as dívidas e lá vem o espectro do fim do Euro, da UE e da perda de uma enorme fonte de receita para os Chineses, que detêm a maior reserva da moeda fora da União. Um dia talvez que expliquem quem manda da Moody's e a soldo de quem, embora talvez as explicações não venham trazer nada de novo.

 

Agradecem os Coelhos Laranja que já salivam diante do trono do poder & seus amiguitos. Talvez até gostem da ideia de ter o FMI a mandar nisto em vez deles - é a suprema desresponsabilização. Como a carneirada como toda a erva que lhe atiram comentadores de treta e políticos oportunistas, co-adjuvados por uns carneiros pantomineiros que se auto-intitulam de jornalistas mas que não passam de jornaleiros, tudo é possível. Até mesmo, veja-se!, transformar uma crise gerada pelos mais básicos princípios capitalistas numa crise do estado social, numa altura em que mais necessitamos dele.

 

Patético continente este. Sem líderes, sem cérebros, sem europeus. Colonizados estamos desde o plano Marshall, colonizados continuaremos enquanto os líderes que nos regem preferirem ser as rameiras de potências estrangeiras a trabalhar com os antigos rivais de outras guerras.


publicado por Harpad às 01:54
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Domingo, 3 de Outubro de 2010

O século de todas as ilusões - 1

O século XXI é o século de todas as ilusões. No auge de (mais uma) crise do capitalismo eis que, perante os impávidos e embrutecidos olhos dos europeus, como gado que pasta languidamente num campo, os neo–liberais conseguiram transformar uma consequência do saque a que colocaram o mundo numa pseudo–catástrofe gerada pelo estado social. Como? Injectando, mais uma vez, nas nossas pobres, e já de si conturbadas, mentes o problema secular do défice. Fazem–nos crer que a crise se deve ao défice e este, por sua vez, assenta no incompreensível esbanjar de dinheiro para servir os pobrezinhos e outros inhos que constituem a inerte massa de quem trabalha.

 

A História deixou de existir. Pela mão de uma nova geração de políticos liberais a quem podemos apontar todos os defeitos menos o de serem portadores de ideais, sustentados por um exército de historiadores da blogosfera e dos motores de busca da Internet (mas cheios da pompa de quem é detentor da razão pura) transformou–se o pobre capitalismo numa inocente vítima desses monstros que defendem que os estados devem servir uma maioria e não uma exígua clientela com posses.

 

Para quem ainda não reparou, esta crise começou com o colapso dessa ilusão que é o american dream. Afinal, era tudo mentira: não podemos todos ter uma grande vivenda recheada de electrodomésticos de última geração, um grande carrão à entrada, uma piscina e uma consola para os putos se entreterem. Pois é. Para se ter isso tudo um tipo tem que se endividar até à ponta dos cabelos e quando são milhões a endividar–se até à ponta dos cabelos, as empresas de crédito podem começar a falir. E com elas tudo o resto, porque vivemos num castelo de cartas. E afinal o que tem que ver o défice público, as constas do estado–providência, os ordenados dos funcionários públicos (e os outros) com isto?

 

Absolutamente nada.

 


publicado por Harpad às 03:01
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Segunda-feira, 17 de Maio de 2010

Feios, Porcos e Maus

Portuguese, Irish, Greeks, Spanish. PIGS. Isso mesmo: porcos. Eis como nos vêem os nossos paisanos da Europa nortenha dita civilizada, industrial, estável. O mediterranismo cria muita confusãozinha naquelas cabecitas nórdicas e centro–europeias. E agora fartaram–se nós e o ataque começa sob a forma da pior forma de especulação financeira. A Europa do eixo franco–alemão é um fracasso. Não só se relevou incapaz de escapar a uma crise começada no outro lado do Atlântico como, agora que nela estamos atolados até ao pescoço, consegue apresentar uma medida que seja para a resolver, se não contarmos, claro, com a artificialidade do défice de três porcento. A senhora Merkel e o senhor Bruni estão indignados com a Europa mediterrânica e o seu despesismo, a sua falta de produtividade e competitividade, no entato, é bom relembrar, que passaram uma década a pagar para que deixássemos de produzir para que não pudéssemos concorrer com a sua agricultura e a transformar–nos em mercado e fonte de mar–de–obra barata. De nada lhes serviu, convenhamos, os agricultores centro–europeus continuam na fossa por que não conseguem suportar os custos de produção sem venderem os seus produtos a preços que condenariam à fome os europeus e a produtividade franco–alemã muito se ressente de anos de capitalismo selvagem onde o conceito de investimento a longo prazo é tabu, incapaz de resistir à crise financeira mundial e ao assalto asiático. Fomos transformados, coma lânguida complacência do cavaquismo, no campo de golfe de alemães, franceses e ingleses, os mesmos que se indignam com a nossa falta de produtividade, os mesmos que nos pagaram para que deixássemos de ser competitivos. Afinal, tanta competência junta corre o risco de ser incapaz de salvar o próprio euro.

 

A União é uma excelente ideia empreendida por tontos. Tontos esses que desprezam o Sul com toda a sua aparente inércia, inépcia comercial, corrupção e caos a todos os níveis. Arrase–se a Grécia, mãe da nossa civilização. Destrua–se Portugal, que já era uma potência mundial quando muitos germânicos ainda tinham saudades de adorar ídolos de pau no meio dos bosques. Avizinha–se já o próximo alvo, a Espanha. Não se deveria preocupar tanto a senhora Merkel e afins: sobrevivemos ao nascimento e queda de um império com o qual os alemães apenas puderam sonhar, a meio século de ditadura fascista, a séculos de monarquia incompetente, ao pior sismo registado na Europa, sobrevivemos, imagine–se, a nós próprios. Cá estamos e, mesmo lutando contra o nosso intrínseco pessimismo, cá havemos de continuar, um dia de cada vez, um porcento do défice de cada vez, um mau governo de cada vez. Talvez até sobrevivamos ao capitalismo, essa aberração idealizada por medíocres ao dispor de medíocres que até consegue destruir países inteiros pela força da mais pura e abjecta especulação, para riqueza de uns e gáudio de outros.


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Segunda-feira, 27 de Julho de 2009

XXI Ocidental - II

A História é cíclica. Parece repetir-se com um movimento pendular. O século XXI inicia-se em moldes semelhantes aos do século que lhe precedeu: a sociedade voltou ao falso puritanismo, ao conservadorismo, ao louvor da riqueza e da posse e até ao nacionalismo. Libertas do fardo da Guerra Fria e do inevitável debate "esquerda"/direita" que despoletou, as massas renegaram os ideais e tornaram-se sedentas de luxo. A sangria de riqueza dos mercados para os bolsos de poucos levaram milhões a endividar-se, afinal, numa tentativa de perseguir vã de perseguir o Grande Sonho Capitalista que lhes é prometido pelo menos desde a XX Grande Guerra. O resultado é uma Crise, aparentemente uma de entre muitas apregoadas como bandeiras de propaganda política (e como justificação da inépcia). Dir-se-iam consecutivas, embora esta pareça mais real e mais forte.

A abstenção aumenta em todos os países desenvolvidos. Por todo o lado despontam críticos mas não verdadeiros pensadores. Os novos meios de comunicação, ao invés de se tornarem veículos de ideais e ideais são refúgios solitários onde poucos escapam à regra do anonimato porque a tal luxo se podem dar. Existem represálias, sim. Casos não faltam, murmurados pelos cantos dos jornais. Anos antes seriam considerados verdadeiros escândalos, de momento ninguém se interessa. Agora não são necessárias polícias políticas mas apenas uma sociedade perfeitamente capaz de se auto-censurar com tenacidade. A liberdade perde valor, a democracia nada significa para muitos que dela usufruem. De bom grado ambas são trocadas pela ilusão do Grande Sonho.

Os verdadeiros valores foram esquecidos. Longe dos tempos de fome, os habitantes do mundo civilizado pouco se interessam pelo social, por tudo o que não seja imediatamente satisfatório, pelo vizinho. Não há líderes, apenas críticos e oportunistas. A política democrática, ao invés de estar nas mãos dos povos está entregue a um grupo de políticos profissionais que vieram substituir a aristocracia de tempos idos mas que representa, ainda e sempre, os interesses da burguesia. Longe dos tempos de fome? A história repete-se, convém lembrarmo-nos. Pela primeira vez em muito tempo existe uma geração de jovens trabalhadores de países desenvolvidos com menos qualidade de vida, e futuro, do que os seus pais. Crise? A História repete-se. E mesmo quando esta crise se encontra prevista desde 1847 .


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Domingo, 18 de Janeiro de 2009

XXI Ocidental - I

Não consigo deixar de julgar extraordinário o modo como um uníssono coro de vozes se ergue no ar para defender o Capitalismo cada vez que um acontecimento abana as frágeis fundações deste castelo de cartas em que vivemos. Do mais iletrado dos viciados em telemóveis ao supremo intelectual neo–liberal há toda uma fauna que teme que venham os malvados dos comunas, outra vez, chocalhar o nosso plácido charcozinho. De todos os regimes sócio–económicos que existiram, exceptuando o nacional–socialismo, pois nada há de mais medíocre do que crer que os seres humanos se dividem em “raças” e que entre estas umas são superiores, o Capitalismo é o único que depende integralmente da mediocridade humana. Se os seres humanos fossem intrinsecamente bons viveríamos em Anarquia, sem necessidade de leis, governos ou fronteiras. Até o Feudalismo seria auto–sustentável, com um lorde justo, empreendedor e respeitador da vontade da plebe. Mas não o Capitalismo. O Capitalismo não só fomenta a mediocridade como se alimenta dela. Depende da ganância, da avareza, da sede de dinheiro, poder e de bens de consumo. Especular sobre o preço de bens de primeira necessidade, prejudicando o seu acesso aos méis desfavorecidos é ser–se medíocre. Especular sobre os preços dos terrenos, forçando milhões para longe das cidades em direcção a subúrbios inertes, é ser–se medíocre. Deslocalizar uma empresa condenando centenas e milheres ao desemprego para conseguir mão–de–obra barata, é ser–se medíocre. Preterir–se mão–de–obra qualificada ou recusar pagá–la com o valor que merece é ser–se medíocre. Despedir uma mulher que engravida é ser–se medíocre. Privatizar a saúde e a educação, tornando–as acessíveis apenas a uma elite, é ser–se medíocre. Consumir desenfreadamente e atolar a família em dívidas para esse efeito, é ser–se medíocre. Recusar aumentar os salários dos trabalhadores e comprar um novo automóvel desportivo, é ser–se medíocre. Forçar os contribuintes a pagar uma autoestrada e entregar a sua gestão a um privado que nada investe mas tudo recebe, é ser–se medíocre. Impedir o acesso a medicação barata, é ser–se medíocre. Dizer–se que não deve existir segurança social porque não se quer dar dinheiro a pobrezinhos, é ser–se medíocre. Um sistema que esgota a riqueza em circulação ao acumulá–la nos bolsos de poucos, obrigando famílias a endividar–se para comprar merdas de que não necessitam até não poderem pagar os empréstimos e assim gerar uma reacção em cascata de falências nos sistema financeiro, é medíocre. Um sistema que depende de catástrofes financeiras para repor a riqueza no mercado, é medíocre. Um sistema que depende da exploração de povos e países para deles extrair riqueza continuamente para compensar o endividamento e a inflação, é medíocre. Um sistema em que o humanista crítico é um pária ou, pior, um comunista, e o espertalhão um grande líder, um economista genial, é medíocre. Achar que o Capitalismo é auto–sustentável supera ser–se medíocre, é ser–se estúpido, é ser–se ignorante. Os intelectuais neo–liberais é muito que se esforçam por nos convencer de que Capitalismo e Democracia são a mesma coisa. Não são. O Capitalismo é muito superior: a sua existência demonstra que somos capazes de trocar o livre–pensamento por uma consola de jogos.


publicado por Harpad às 01:21
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Quarta-feira, 30 de Abril de 2008

Fominha (até) no mundo ocidental?

Admito que não estava à espera que acontecesse tão cedo mas aconteceu: os preços dos bens alimentares no mundo ocidental começou a disparar. A especulação agarrou-se aos cereais e outros alimentos essenciais como cão a quem falta osso melhor.  O que tinha aguentado os preços até recentemente era a política de agricultura subsidio-dependente dos países civilizados, já que a produção há muito se revela insuficiente para cobrir os crescentes custos de produção (a começar pelos combustíveis). Junte-se o fim desta ajuda (prioritários são os défices, não a comida) com a especulação que é a base deste nobre sistema económico em que vivemos, o capitalismo e aí está: vêm tempos de fomeca. Para nós é muito grave. Para os países em desenvolvimento é uma catástrofe. A fome já gerou muitas revoluções e guerras sangrentas mas como a humanidade não aprende, principalmente quando o que conta são os bens de luxo que são o cartão de visita do capitalismo e aos quais a populaça se agarra com unhas e dentes, sem melhor do que fazer do correr para os hipermercados aos fins-de-semana, pouco há a fazer.

 

Talvez nos faça bem voltar a aprender que há coisas muito mais importantes do que o tunning de automóveis, piscinas no quintal, passerelles, diamantes para a patroa e consolas para os putos. Talvez consigamos abrir os olhos para o facto de que a economia de mercado enriquece uma minoria enquanto obriga a mioria a contar tostões para pagar os bens de primeira necessidade, a mesma minoria que vem para os media falar para nós pobres idiotas que nada percebemos de competitividade empresarial, a mesma minoria que acha que o estado é um empecilho excepto quando os outros meninos da mesma minoria fazem batota ou quando os impostos pagam subsídios a privados e lhes dá obras públicas para executar. O mesmo tipo de corja que especula (e enriquece bem e facilmente) com aquilo de que precisamos também afunda, desmantela e deslocaliza empresas, não paga impostos sobre mais-valias bolsistas e merdas afins. Eu sei que o anti-capitalismo gera mais ódio do que todo o fanatismo religioso junto, os comunistas já o tinham percebido três quartos de século antes de Estaline sequer chegar ao poder, mas que ninguém se esqueça que há algo capaz de mobilizar muitos mais milhões em torno de uma diferente forma de ódio: a fome.

 


publicado por Harpad às 00:14
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Sexta-feira, 25 de Abril de 2008

25 de Abril - da liberdade, da memória e da falta de ambas

É sempre engraçado ouvir um discurso do senhor Presidente da República sobre o 25 de Abril, principalmente quando boa parte dele se baseia no alheamento dos jovens em relação ao 25 de Abril, aos seus ideais e da política que rege a sociedade no seu geral. Sinto-me num permanentemente num mundo Orwelliano, se calhar as manifestações de estudantes onde estive quando o senhor Cavaco Silva era Primeiro Ministro não passaram de uma alucinação colectiva, tal como a pretensão de reduzir (para acabar?) os festejos do 25 de Abril e o seu ensino nas escolas. O tempo em que o homem mandou no país foi o período em que mais bastonadas a polícia distribuiu pela populaça, sem esquecer uns tiritos e jactos de água. Foi o tempo do diálogo social nulo, o tempo em que eu e muitos, muitos, outros que hoje trabalham até cairem para o lado para pôr isto a funcionar sem que alguém se importe com os resultados e suas dificuldades, passámos a ser chamados de Rascas. Sim, eu estava lá, nesse preciso momento, e nem precisei de mostrar o traseiro para assim ser apelidado. Deve existir algum Ministério da Verdade a eliminar certos períodos da nossa história, só que em vez de se ficar pelos jornais e afins deve eliminá-los também da nossa memória colectiva. Só assim se explica que o homem tenha sido eleito para  o cargo de Presidente da República.

 

Felizmente não se assistiu ao fedelho do CDS-PP falar no "PREC em que nos encontramos" tal como o fez num dos congressos do seu triste partido, transmitidos pela televisão como uma telenovela foleira. É patético ver um indivíduo com demasiados genes em homozigotia, vindo de uma família que viu o 25 de Abril como uma catástrofe falar desta data mas, infelizmente, alguns dos seus colegas ousaram fazê-lo na Assembleia da República, falando da família e dos seus problemas quando os queques, aristocratas, patos bravos e novos ricos que representam são os tipos que perguntam às mulheres que realizam uma entrevista de emprego se pretendem engravidar e que as despedem quando tal calamidade acontece. são os gajos que especulam com o valor do nosso dinheiro, das casas e dos bens de primeira necessidade em geral, tornando a nossa vida muito complicada, mesmo para quem não tem filhos. Os senhores do PP vivem numa espécie de realidade cor-de-rosa desconhecida para o povo comum, a realidade de quem tem dinheiro garantido à nascença e vê as políticas sociais como uma entrave (tipo PREC) para o seu enriquecimento.

 

Quem ouvir falar (e escrever) certos indivíduos, como o autor de um livro que fala da "revolução da perfídia" (entenda-se o 25 de Abril), como uma revolta marxista talvez fique convencido (ou não, pensando bem) que vivemos numa RSS. Não li este livro, acabei de ler sobre ele uma notícia num jornal. Espero estar redondamente equivocado sobre o seu conteúdo. Pois é. A inflacção, os juros bancários insuportáveis, a destruição das políticas sociais, a precariedade do emprego e outros, muitos outros problemas que se colocam aos portugueses (principalmente aos jovens trabalhadores que nada, absolutamente nada têm de garantido para o seu futuro, são fruto do bolchevismo em que vivemos. O capitalismo deve ser uma espécie de El-Dorado que nunca se chegou a concretizar. Talvez não seja necessário um Ministério da Verdade, enquanto ecrãs de plasma, automóveis de luxo, telemóveis e outras futilidades forem o que realmente importa para a população ocidental, o preço dos alimentos, das casas, da saúde e da educação continuarão a aumentar. Parece que precisamos de passar fome para abrirmos os olhitos. Começou com o arroz, mais se seguirão. É o custo da especulação que mantém a grandiosidade da nossa preciosa economia de mercado.

 

Para Pachecos Pereiras e outros fidalgos da direita gostaria de perguntar o que entendem por Democracia, porque ainda não percebi o que nos pretendem impingir. Talvez o que me custe mais a entender seja o conceito de mentira. Talvez o doutor Pacheco já se faça reger pelo novo acordo ortográfico, ao contrário de mim, mas para mim quando alguém expõe um vídeo onde se vêm os supostos laboratórios móveis de armas químicas do Iraque como pretexto para começar uma guerra que, afinal, nunca chegaram a existir, essa pessoa MENTE. Não é uma simples convicção. As convicções, por mais básicas que sejam, não pressupõem inventar coisas que nunca existiram. Quando tal acontece temos uma MENTIRA. Os governantes do mundo democrático não podem, por definição, MENTIR. Quando poucos fazem guerras, o que já é suficientemente mau, e o fazem por motivos obscuros, quando a maioria não quer não estamos na presença de uma decisão democrática. O doutor Pacheco está muito ofendido porque eu e muitos não concordamos com ele. O direito à discória faz parte, isso sim, da Democracia mas ele deve-se ter esquecido disso quando escreveu e publicou uma carta particularmente insultuosa a Mia Couto na sequência da decisão de invasão do Iraque. Parece-me que para o doutor Pacheco e outros a democracia é uma coisa maravilhosa sempre que toda a gente concorda com eles.

 

A democracia não se limita ao sufrágio, para quem ainda não percebeu. Os principais partidos (todos os dois deles) prefeririam revezar as suas maiorias absolutas, alternando cada dois mandatos. Se tal acontecesse, o sufrágio passaria a ser meramente simbólico, tal como o direito a discordar dos dois partidos, tal como o direito a negociar políticas sociais, leis e questões económicas. A  Europa caminha para uma espécie de governos de direito privado. O capitalismo adoraria que os governos contratassem abertamente empresas que gerissem os povos. Digo abertamente porque isso já acontece nos bastidores. A promiscuidade entre corporações, ministros e secretários de estados (os políticos profissionais, essa elite) é doença crónica da democracia. Nós, o povito, estamos na mão de uma minoria. É isto a democracia? O que aconteceu à memória de Abril?


publicado por Harpad às 13:17
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Domingo, 25 de Novembro de 2007

A atracção pelo capitalismo - I

Este fim–de–semana um homem aproximou–se de mim enquanto eu aproveitava os últimos raios de sol numa esplanada e pediu–me uma esmola. Explicou–me que só precisava do suficiente para um bilhete de comboio para voltar para casa. É romeno, tem quatro filhos e não tem trabalho. E é engenheiro agrário. Dei–lhe os poucos trocos que tinha e tudo o mais que pude fazer foi desejar–lhe boa sorte.
 
No mesmo fim–de–semana em que surgiram na imprensa novas notícias sobre a exploração de trabalhadores portugueses em países tão civilizados e tão europeus quanto a Holanda, é caso para perguntar o que, afinal, nós, mundo ocidental capitalista, dito civilizado e democrático, temos para oferecer. Aos cidadãos–comuns, àqueles que estão na trincheira das cidades, das empresas, postos públicos, nas filas de espera de centros de emprego, segurança social e hospitais não muito, na verdade. O que acenamos diante da prole é tudo aquilo que é irrisório parente a necessidade de um homem alimentar os seus quatro filhos, são os electrodomésticos, as roupas de marca, os leitores portáteis de mp3, os telemóveis de n–ésima geração e os automóveis velozes. E fazemo–lo confiantes de que isto é a verdadeira democracia. A democracia já não é o livre pensamento nem a livre escolha dos nossos governantes mas sim a livre escolha de produtos em escaparates de supermercados e similares.
 
Nós trocamos a vida dos nossos semelhantes pelo direito ao luxo e pela crença de que um dia teremos direito aos nossos quinze minutos de glória. Fazemo–lo porque o luxo não é compatível com um estado social: o mundo capitalista vive muito acima das suas capacidades, como se pode comprovar pelo aumento da inflação, do endividamento e da necessidade de se obter um crescimento económico apreciável para que ainda consigamos ser sustentáveis. Não abdicamos do luxo em prol do investimento, da criação de emprego nem da manutenção de um estado que consiga salvaguardar o bem–estar da maioria, incluindo o dos imigrantes de quem tanto dependemos.  Quanto muito, manifestamo–nos quando as filas dos hospitais são já incomportáveis, como se estivéssemos à espera que a riqueza necessária para manter os serviços públicos essenciais caísse das árvores. Para tal, há que pagar impostos e cobrar mais aos ricos, para quem muitas leis são feitas por corrupção e favorecimento, e que claramente preferem mudar de carro a empregar mais um trabalhador quando os lucros sopram de feição. No nosso país é flagrante como os empresários preferem lanças opazinhas uns aos outros a criar sucursais, investir no estrangeiro e a permitir carreiras de sucesso aos seus trabalhadores.
 
E nós, clamamos por justiça, ou no fundo invejamos aqueles a quem a injustiça social mais favorece?

publicado por Harpad às 18:20
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