Sexta-feira, 4 de Maio de 2012

doces carneiros

Ao contrário do que muito se discute nos dias de hoje, creio que a famosa iniciativa de promoções empreendida pelo Pingo Doce no passado 1º de Maio foi um acontecimento bastante positivo, pois fez incidir sobre nós, povo, a magnânime luz da realidade. Em primeiro lugar, há que louvar o próprio Soares dos Santos (SDS), ou quem quer que da sua esfera de doutos pensadores, pela brilhande ideia de realizar o evento nesse preciso dia. Num outro dia dia qualquer seria simplesmente acusado de "dumping". Assim, conseguiu, ao mesmo tempo, irritar o Belmiro, agrilhoar os seus trabalhadores (perdão, colaboradores, que isso de "trabalhar" é feio) e transformar a celebração do dia do trabalhador numa patacoada que, às costas dos jornaleiros do costume (sim, leram bem), reduziu as notícias do dia (e seguintes) à promoção de uma cadeia de lojas. Conseguiu até fazer com que os deputados se sentissem livres para discutir contas de supermercado na Assembleia da República quando, anteriormente, o pudor lhes permitia apenas passar as manhãs a rabiscar a lista de legumes, acepipes e champô para a caspa, a levar para casa no fim do dia (antes escrevia-se a lista de compras num pedaço de cartão rasgado de um maço de SG Gigante, hoje os deputados podem até tuitár sobre a promoção de fraldas para incontinentes do Pão de Açúcar).

 

No entanto, O SDS, conseguiu mais, muito mais do que reduzir o dia do trabalhador a publicidade gratuita à cadeia de supermercados a que preside. Conseguiu demonstrar que o dia que marca a luta dos trabalhadores pelos seus direitos de nada vale. Salazar nunca conseguiiu tanto: limitou-se a proibir a coisa. O SDS conseguiu ridicularizá-la. Conseguiu demonstrar que os portugueses, esses pobrezinhos, coitaditos, não passam de carneiros de que elites dispõem como entendem. Este é tembém é o tipo que não há muito tempo queria criar cursos (pagos do seu próprio bolso... o mãos largas!) para ensinar os seus "colaboradores" a gerirem os seus ordenados humilhantes.

 

Agora imaginemos o seguinte: cem euros representa uma boa soma, demasiado grande para os bolsos dos verdadeiramente necessitados. Seguramente muitos destes não poderão dispender tanto dinheiro de uma só vez. Quem terão sido, então, os principais clientes do SDS no primeiro de Maio? Em boa parte, talvez uma classe média com medo do amanhã. Talvez. Mas das lojas voram também garrafas de bebidas espirituosas. Muitos clientes admitiram que gastaram ali muito mais dinheiro do que alguma vez pensariam e boa parte em merdices que pouca falta lhes fazem. O que aconteceu, então? Simples: mais uma vez, lá foram os carneiros armados em xicos-espertos, para onde os mandou o pastor. 

 

Promoções? Méééé. Austeridade inevitável? Méééé. A culpa é do Sócrates? Méééé. Fio dental extra encerado com efeito branqueador agora apenas a um euro e noventa e nove? Méééé.

 

Aquilo que o SDS fez foi medíocre, pensado por um medíocre para outros medíocres. O governo da santíssima trindade Portas-Coelho-Relvas (PCR) não compreende o exagero: afinal é uma estratégia de negócio perfeitamente limpa. E é. Tal como a agiotagem do FMI, tal como as negociatas com activos tóxicos (lembram-se, despoletou esta crise -  não a dívida soberana), tal como pagar odenados de treta, tal como mover sedes para paraísos fiscais, tal como comprar um jacto para uso particular mas facturá-lo à empresa para fugir aos impostos. Tudo isto é legítimo. Tudo isto é medíocre. Tudo isto é Capitalismo e, convenhamos, o Capitalismo assenta muito muito bem aos carneiros.


publicado por Harpad às 00:16
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Sexta-feira, 25 de Março de 2011

XXI Ocidental - III

Interrogo-me frequentemente quem terá nomeado os doutos políticos, jornalistas, economistas e outros especialistas que nos bombardeiam em cadência horária com as suas opiniões, comentários e razões. Todos opinam, todos se fundamentam com o quer que lhes pareça conveniente mas a verdade, a história, essa, permanece intocada, encerrada no seu túmulo.

 

A essência do neo-liberalismo é o curto-prazo. Na verdade, este é o único conceito que as massas entendem. O lucro que preciso, hoje. O carro novo que quero, hoje. O belo tacho, hoje. Enfim, pode-se resumir esta essência numa palavra bem portuguesa: o Desenrascanço. As causas políticas e sociais do estado de Portugal, da Europa e do mundo capitalista em geral são também assim justificadas, diante da vista grosseira do curto-prazo.

 

Para os comentadores, tudo é simples. O país está doente. A causa: Sócrates. A solução: privatizar o que se pode privatizar, flexibilizar o mercado de trabalho, enfim deixar cair o estado social e transformar o mercado de trabalho num antro de precariedade. Mas já lá iremos. O pensamento neo-liberal, como já referi, é totalmente incapaz, por natureza, de formar um raciocínio numa escala de tempo mais alargada do que o prazo de governo. Esquecem-se os comentadores, no entanto, de vários dados importantes:

 

1) Quem nos transformou num paraíso da mão-de-obra barata para os empresários alemães foi o douto Cavaco, actual PR. Previsivelmente, para todos com mais testa do que o vulgar capitalista, o alargamento da UE a lesta trouxe, a médio prazo (lá está), um mercado de trabalho apetecivelmente mais barato. Será difícil recordar o fecho, quase diário de fábricas pertencentes a multinacionais centro-europeias há alguns anos atrás? Quantas vezes vimos os telejornais abrirem a sua emissão com imagens dos trabalhadores desolados à entrada de uma qualquer fábrica têxtil de onde os patrões, em muitos casos, tinham já retirado o equipamento sem que os operários soubessem sequer das intenções de encerramento? A culpa foi do Guterres? Do Sócrates? Não.

 

2) Caro precário: quem inventou os recibos verdes não foi o PS. Foi o PSD, mais uma vez, nas mãos do douto Cavaco.

 

3) Para continuar a falar deste senhor, convém relembrar que foi durante os seus mandatos que assisti a cargas da polícia sobre manifestantes. Exemplos: secos e molhados. Também foi graças a este senhor e à senhora Ferreira Leite que fiquei conhecido como “rasca” (sim, eu estava lá, mas não mostrei nenhuma parte impúdica de mim mesmo). Fala-se hoje de manipulação da imprensa. Esquecemo-nos dos falados telefonemas de um tal de Marques Mendes para a RTP?

 

4) A nossa economia não está na mão do estado. Muito menos nas mãos dos trabalhadores. Ao contrário do que pensa um fedelho qualquer do CDS que não me lembra agora o nome, não vivemos num PREC nem mesmo pós-PREC. A nossa economia continua a pertencer aos Mellos, Champalimauds, Espírito-Santos, Azevedos, Martins, e outros mais ou menos brasonados que já se sentavam à mesa do Estado Nove e que simultaneamente o alimentavam e dele se nutriam. Fugiram de medo com o 25 de Abril para viver vidas de exílio faustoso no Brasil, para regressarem pelas mãos do senhor Soares, com uma generosa recompensa monetária, diga-se. Estes senhores estão cada vez mais ricos. Quem tem dúvidas tenha a bondade de consultar as estatísticas dos mais ricos de Portugal reveladas recentemente. Curioso ninguém questionar estes clãs sobre a sua responsabilidade na economia e negócios deste país. Curioso também que a ninguém pareça obsceno que estes senhores enriqueçam desmesuradamente enquanto a classe média se encolhe. Curioso que ninguém se indigne com a mudança da Sede do Pingo Doce para a Holanda, para que assim o dinheiro dos clientes portugueses sirva apenas para o pecúlio dos contribuintes holandeses. Ninguém pergunta também, se a economia este tão má e se é preciso flexibilizar o mercado de trabalho, porque motivo os bancos de cá continuam a bater recordes de lucro e têm tantas benesses fiscais. Talvez devêssemos também perguntar sobre os esquemas de mascarar lucros através de pseudo-empresas subsidiárias, constantemente em falência técnica, de que se blindaram os grandes grupos económicos para não pagar impostos. Curiosos que esta gente venha regularmente, e principalmente através dos PSDs, exigir que se precarize ainda mais a mão-de-obra quando, aparentemente, dinheiro não lhes falta o luxo. São os nossos intocáveis, medrosos apenas da memória dos dois únicos casos, em toda a história da humanidade, em que os verdadeiramente poderosos verdadeiramente perderam: 1789 e 1917. Enoja-me pensar que um partido dito socialista também nada tenha feito para contrariar os todo-poderosos mas não me surpreende quando nem Guterres nem Sócrates os tiveram no sítio sequer para fazer frente aos seus próprios "boys".

 

5) “Devemos pagar devidamente aos trabalhadores pois eles são os consumidores”. Não, não foi Marx quem o disse. Nem Engels. Nem Lenine, Trotski, Cunhal ou mesmo Robespierre. Quem o disse foi um dos maiores capitalistas de todos os tempos, um tal de Henry Ford. Um indivíduo modelar enquanto empreendedor, ao conseguir encher-se de dinheiro nazi antes da entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial e, depois disso, dos contribuintes norte-americanos, cerca de 400 000 mil dos quais nunca regressaram à sua terra. Este pressuposto há décadas que foi esquecido e recalcado, mesmo depois da crise de ’29, causada pela falta de escoamento de produtos norte-americanos para um Europa em ruína absoluta. Mais uma, o pensamento a curto-prazo em acção: hoje aumenta-se o IVA, corta-se nos salários, obriga-se o cidadão comum a pagar por saúde, educação e transportes privados. Parece interessante mas alguém se deve estar a esquecer do efeito a médio prazo que retirar poder de compra aos cidadãos-comuns irá colapsar o comércio do qual toda a economia depende.

 

6) Porque quer, assumidamente ou não, a direita o FMI? Simples: trata-se da peça que faltava para o paraíso governativo. Já lhes cheira a maioria absoluta, têm um presidente amigo ou que, no mínimo, não chateia, podem culpar tudo no Sócrates e fazer nada pela qualidade de vida dos cidadãos dizendo que nada podem fazer, que o FMI manda e o BCE quer. Quem ganha com isto? Os PSDs e a nata da sociedade por trás deles (vede acima).

 

7) Salazar era um gajo tão porreiro e liderou tão bem que um milhão de Portugueses se foi embora do país, seguramente sem o intuito de ensinar ao resto do mundo o benzito que se fazia em Portugal. É também curioso pensar que esses senhores e os descendentes constituem uma amostrinha do mais conservadorzito e retrógrado que por aí anda. Andam também por aí uns mentecaptos que dizem que isto estava melhor antes do 25 de Abril. Nem antes do 25 de Abril nem há 20 anos atrás. Éramos no tempo da Velha senhora e da maioria absoluta do senhor Dom Cavaco, mais acomodados, sem as chatices de eleições, oposições sem ter direito a essa suprema complicação que é a capacidade de pensar. Aparentemente, o comodismo faz muita gente feliz.

 

8) Foi um golpe de génio, há que admiti-lo: transformar uma crise do capitalismo numa crise do estado social. O senhor Daniel Bessa que me desculpe, mas não lhe reconheço mais inteligência, sapiência ou outra ciência do que a mim próprio para engolir esta e outras. Não interessa, contudo. Façamos as contas a todos os défices de todos os países capitalistas do mundo e percebamos que vivemos num castelo de cartas que mesmo com este tipo de tapa-remendos não tem mais do que uma geração de vida. Seria dispensável mas parece inevitável: ninguém aceita reformas no sistema económico nem os ricos deixam que lhes vão aos bolsos. Enquanto isso, a riqueza continua a desaparecer dos mercados até ao final rebentar da bolha.

 

9) Criar ricos gera pobreza. Lamento mas é uma verdade aritmética. Um mais um são dois, independentemente de o capitalismo permitir que possam ser três, quatro ou mesmo zero, conforme a disposição dos mercados. Para alguém ter dois euros num mercado com três para três pessoas, há alguém que se fode. No mundo em que vivemos, isso resolve-se pedindo dinheiro emprestado. Até quando? Quem duvidar que atente nas causas da crise: a falência do pequeno crédito, usado pelo cidadão-comum norte-americano para se abastecer das futilidades apregoadas como parte do “american dream” precisamente porque não pode pagar esse mesmo sonho que, afinal, não passa de um grande embuste.

 

10) Há uma geração inteira à rasca. E uma outra que teve o 25 de Abril porque um punhado de militares lhes ofereceu. Seguiram-se os tachos na função pública, nas melhores empresas, as reformas, uma vida confortável. E nós, seus filhos? Comemos com os recibos verdes, as bolsas, o desemprego, os call-centers, essa aberração que é o "out-sourcing" e na volta ainda os contratos "orais" de que andou para aí a falar o betinho que aparentemente vai ser o fututo PM. 

 

11) Nós somos nada. Somos mão-de-obra barata. Somos mercado de futilidades. Somos precários. E para quê? Para aumentar a margem de lucro de uns poucos. E somos burros. Muito burros. Burros porque nos aborrece pensar. Burros porque deixamos outros pensar por nós. Burros porque os políticos que deixamos que nos liderem são medíocres, tal como os que se lhes opõem. Sim, porque não é a esquerda "chic" da brigada anti-gravata (espécie de antecâmara dos PSDs) nem o repetivismo norte-coreano quem vai agregar os descontentes deste país, ou outros. Neste século não há cérebros nem líderes. Apenas cegos, à beira de um barranco.

 

Resta-me contratular por ninguém se interessar por nada do que aqui escrevo. Se vivêssemos no tempo da Velha Senhora, estaria já a caminho do Aljube.

 


publicado por Harpad às 23:41
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Domingo, 20 de Fevereiro de 2011

o colapso dos ideais

Se há característic aue irá caracterizar, para os futuros historiadores, o início deste nosso novo século é o total desgaste dos ideais. Começou como algo natural, por hábito e desinteresse, com o fim da Guerra Fria. Simplesmente, deixaram de fazer sentido, para gáudio dos que não pretendem pensar e dos que temem quem o faça. Não devemos confundir ideiais com ideias: ideias todos as têm, numa distribuição de carácter contínuo, da mais expepcionalmente inteligente até ao infinito da mais pura cagada. Sim, porque se há distinção entre a inteligência e a estupidez é que a primeira tem limites.

 

Não é difícil verificar, basta escutar as conversas de café, os jornais e, talvez mais importante ainda, os comentários do público comum e geral colocados na Internet ao suposto abrigo do anonimato, que o que resta dos idealismos, essas torrentes de ideias que moldaram o destino dos Homens ao longo dos séculos, está reduzido ao nível intelectual do confronto entre adeptos de clubes de futebol. Existe a "esquerda" e a "direita"como existem os "vermelhos" e os "azuis", para utilizar uma metáfora que bem entendemos. E a mediocridade geral que caracteriza a nossa classe política (dentro e fora do país e da Europa, entenda-se), reflecte isto mesmo. Veja-se bem: quem outrora defendeu a invasão "comunista" do Afeganistão defendeu com unhas e dentes a re-invasão do mesmo da forma idiota com que foi realizada e, ainda mais absurda, a do Iraque. Porque sim. Há quem se intitule comunista e defenda regimes fundamentalistas religiosos. Veja-se como se transformou uma crise do capitalismo numa crise do estado social: subitamente, as embrutecedoras políticas financeiras de "direita" viraram o problema para o "socialismo" que persiste ainda em alguns países (entre os quais, supostamente nós, como se alguma vez tivéssemos sido socialistas). Vejam como um pobre diabo, mal pago, endividado e perto de ser despedido para deslocalização da fábrica onde trabalha se revela um acérrimo defensor dos mesmos "ideais" que o enterram cada vez mais na base da pirâmide social.

 

Acabaram-se os "ismos" para bem de um "ismo" supremo. que, passo a passo, nos conduz ao vazio - o Capitalismo - ao vazio intelectual, ao vazio social e ao vazio individual. Já não somos seres que pensam mas entidades que compram. Somos clientes de empresas e estados, clones ávidos de comprar, ter e exibir dos quais artigos pouco ou nada precisamos mas que estimulam, tal como outros vícios, a libertação de endorfinas. Se surgir, nalgum ponto ou outro deste mundo, alguma réstea de um ideal que se lhe oponha, surge um coro de vozes ofendidas e ofensivas, odiosas, mesmo, de cajados e bastões na mão dispostos a defendê-lo. Estamos onde nos querem: por mais pobres, por mais injustiçados, por mais despojados que sejamos dos direitos que aqueles que lutaram por outros "ismos" nos deixaram por herança,  somos já capazes de injuriar, odiar e porque não, no futuro talvez até de matar pelo Capitalismo.

 

Percebe-se bem de onde vem tanta confusão, apesar de tudo. Veja-se como um bando de medíocres destruiu o sonho de milhões debaixo das ruínas do Muro de Berlim e enviou a esperança para o Gulag. Veja-se como os tipos que se auto-proclamam os vencedores da Guerra Fria, em nome da paz e da liberdade invadem, torturam, mentem e escutam as conversas de tudo e todos com total complecência do seu próprio povo, a quem os ideais nunca disseram fosse o que fosse. Os ideais são coisas dos europeus. E os europeus estão em coma. Terminou a era da luta pela justiça social, da luta por uma sociedade que sirva a maioria.


publicado por Harpad às 22:12
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Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2011

Abram a pestana, seus camelos

Abram os olhinhos e abram-nos bem: estamos à beira de ser ocupados, escravizados e manipulados por interesses privados estrangeiros. Imaginem perder tudo o que andaram a construir e a poupar, tudo pelo que lutaram a vossa vida inteira às mãos de especuladores: os vossos negócios, as vossas carreiras, a segurança das vossas reformas e o conforto e a educação dos vossos filhos! Para quê? Para que os muito ricos não tenham de pagar a crise, para satisfazer a ganância dos que especulam com as nossas vidas, para enfiar no poleiro do poder os Passos Coelho deste país!

Abram os olhos, seus carneiros! Vejam bem a ilusão que vos vendem faz décadas, a ilusão do Capitalismo onde tudo é possível desde que se endividem até ao tutano dos ossos para lucro de poucos. Vejam bem se sofrem com a crise os ricos e poderosos. Vejam bem se o comércio de bens de luxo foi afectado e perceberão que são vocês, carneiros de classe média, que têm de alombar com as consequências, à escala mundial, da contínua sangria de capital dos mercados para os bolsos de muito, muito poucos.


publicado por Harpad às 22:28
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Domingo, 19 de Dezembro de 2010

A importância de se ser carneiro

estou farto farto farto ouviram farto farto de acordar em sobressalto a perguntar se já fomos invadidos pelo fmi pela gripe das aves pela gripe dos porcos há hi ho já nem há açúcar a gasolina vai aumentar o défice continua a crescer o ordenado vai descer vai-se acabar o subsídio de desemprego ora que porra nunca tive direito a ele por mais que tivesse trabalhado afinal é mais fácil ser despedido mas que interessa se o que faço nem consta como trabalho estou farto farto farto da merda destes jornaleiros dizem que se acabou o açúcar o bacalhau e o papel de limpar o rabo que vai ser de nós agora que o mundo está a aquecer quando o que eu tenho é um frio do caralho e nem posso fazer nada quanto a isso porque já me vão aumentar a electricidade e o combustível faz mal ao ambiente porra ai iu eles falam e lá vão os carneiros para o supermercado encher os carrinhos de açúcar que lhes vai chegar até às rabanadas do próximo século mas quem quem porra são estes comentadores académicos políticos e economistas que fazem da minha vida um inferno com quem pensam estes gajos que estão a falar eu sei ler e escrever eu trabalho eu penso eu existo porque tenho que ouvir dia após dia os devaneios alarmistas de brochistas à procura de poleiro de senhores de letras com doutoramentos em filologia eu que tenho um em ciências eu que passo ano após ano a tentar ensinar que o mal está em ser-se medíocre porque tenho que dormir pouco e mal e fugir de tudo e de todos para ter dois segundos de paz mas não posso fugir não posso atravessar sequer a estrada porque vou ser atropelado pelos carneiros que vão ao supermercado a correr comprar o açúcar que ai ui se vai acabar e o fmi que está a chegar porque tenho que ver este mar de cabeças de gado que ruminam lugares-comuns e nada mais para além de abanar o badalo quando o cão-pastor lhes diz para mudar de pasto ruim para pasto de coisa nenhuma e eles vão oh sim eles vão a dizer que a culpa é do aquecimento global a culpa é do trocas a culpa é do carneiro ao lado a culpa é da chuva do frio do preço do pitróil quando o pastor está a guardar o melhor pasto para engordar a vaca que encontrou num bar de rameiras oxigenadas da linha de cascais e venham depois as meninas de bem dizer que abortar é mau e que o papa é bom e que os pobrezinhos são sujos e viva el-rei esta canalha que nunca sujou as mãos na terra de onde saem as couves que não destrói a espinha a acarretar os baldes de massa com que lhes constroem gigantescas casas de putas e desmancham na suíça se engravidam do preto que lhes amanha o jardim da mansão onde vivem mantidas pelo filhos dum cabrão que enriquecem à custa de despedir mentir e fugir aos impostos e já agora porque pago eu vinte por cento com a merda do recibo inventado pela alimária que vocês carneiros elegeram para presidente quando gajos que vivem em palácios pagam quarenta e ganham dez cem mil vezes mais porque querem foder a vida a todos nós por seis sete ou nove ou sejam dez por cento de défice quando economias paralelas fugas aos impostos luvas e mais valias sem direito a tributação foda-se abram os olhos seus carneiros de merda que vos querem foder a vida para não pisar os calos aos ricos aos corruptos e aos espertalhões ponham coelhos no poder e vão vê-los a comer as cenouras e vocês nem a rama

 

pensam que podem falar assim com toda a gente quem pensam que estão enganar estes velhos estes jornalistas de segundas estes meninos betinhos quando dia após dia me atiram tanta desgraça à cara quem são estes gajos com a peida bem sentada no topo da cadeia alimentar para dizer que isto está mal mal mas mesmo muito mal vão-se embora então desapareçam da minha vista nós pegamos na merda que fizeram por incompetência oportunismo e negligência e pomo-la a andar direitinho seus inúteis não pensem que a economia é difícil por mais termos catitas que inventem seus pentelhos ai au o spin-off ai ui o spread difícil seria eu tentar explicar-vos para que serve uma citocromo c oxidase e como funciona seus energúmenos e garanto-vos isso sim que sem ela não vivem por mais que venha por aí o fundo merdoso internacional dizer que vai invadir a minha terra e pôr o meu povo de grilhetas tudo tudo para que os mesmos cabrões que daqui saíram com o cuzinho apertado assim que soou o vinte-e-cinco de Abril borrados de medo para o Brasil não paguem os impostos que devem para terem dinheiro para engordar as putas vacas gordas de que tanto gostam abram os olhos seus carneiros de merda que vos mentem todos os dias todas as outras e vocês comem toda a aldrabice que vos atiram à cara nos jornais na televisão na rádio na internet essa coisa que serve para os ignorantes inventarem e propagarem a sua própria História mémémé abram os olhos seus cornos de merda que vos vão abrir para costeletas e bofes para alimentar os ricos e fartos desta terra e arredores que no fundo vocês adorariam ser méééé dizem que o diabo inventou os impostos e vocês morrem a pensar que com o ar se constroem escolas e hospitais vá encham-se encham-se de tralha de que não precisam mééééééé irão lembrar-se do serviço nacional de saúde quando estiveram a apodrecer numa cama de pardieiro porque não podem pagar seguro de saúde mémémééé porque se o fizessem não haveria consola para o fedelho analfabeto que criaram em casa à vossa triste imagem porque não há impostos para pagar ensino público e o que mais me fode no meio disto tudo é não ter o tempo o talento e frequentemente a vontade para vos dar um chuto no cu maior do que escrever esta merda de texto para ver se acordam seus coirões abram os olhos e aprendam a pensar pelas vossas próprias cabeças que não são os futebóis quem vos põe o pãozinho na mesa e enquanto discutem vocês o lance já vos pregaram uma rasteira à liberdade que a tantos custou a ganhar


publicado por Harpad às 16:46
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