Quando conceitos catitas como "empreendedorismo", "défice" e "troika" estão na ordem do dia e se infiltram no mundo da ciência, o resultado matemático da sua junção é o desinvestimento na investigação fundamental e entrega da investigação aplicada ao milagre do financiamento privado que, mesmo que exista (no nosso país, quase nada), não é sensível ao tempo, esforço e método em geral que determina o avanço da ciência. Desconhecem os políticos, empresários e público em geral que a grande maioria do conhecimento de que dependem tantas e tantas coisas no nosso dia a dia tem como base o trabalho árduo de uns poucos indivíduos fechados em laboratórios, mal pagos, explorados e esquecidos e que se dedicaram (por vezes toda a sua vida) a criar conhecimento aparentemente "inútil" para o mundo capitalista (entenda-se, sem comercialização imediata). Lembremo-nos da dupla hélice. Ou da tabela periódica. Ou da estrutura de um átomo. Ou do papel da flavina adenina dinucleótido. Este conhecimento fundamental, no entanto, integrado anos e décadas mais tarde com outras descobertas (algumas de dimensão aparentemente irrisória) e novas técnicas permitiu que hoje tenhamos medicina molecular, que não matemos os piolhos dos nossos filhos com DDT, que tagarelemos sem parar usando telemóveis e que tenhamos veículos mais ou menos ecológicos que se recusam a andar se nos esquecermos do cinto de segurança e de lavar os dentes.
Deixo aqui este interessante vídeo sobre privatizações, medida de que o nosso actual governo tanto aprecia. O filme, em forma de documentário, diz respeito às medidas de privatização adoptadas pela administração Menem na Argentina, há alguns anos atrás. Relembro de que se trata do mesmo país que, algum tempo deois, mergulhou numa das mais severas crises económicas da história contemporânea, uma crise que, como nos devemos lembrar, faz a Grécia nos dias de hoje parecer um paraíso capitalista.
O vídeo tem origem no Brasil, tendo sido elaborado como resposta às medidas propostas pelo então candidato adversário de Lula, José Serra. As analogias que se podem retirar para as actuais propostas do nosso coelho-ministro e sua corte são aterradoras. Meditemos, portanto.
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