Quando conceitos catitas como "empreendedorismo", "défice" e "troika" estão na ordem do dia e se infiltram no mundo da ciência, o resultado matemático da sua junção é o desinvestimento na investigação fundamental e entrega da investigação aplicada ao milagre do financiamento privado que, mesmo que exista (no nosso país, quase nada), não é sensível ao tempo, esforço e método em geral que determina o avanço da ciência. Desconhecem os políticos, empresários e público em geral que a grande maioria do conhecimento de que dependem tantas e tantas coisas no nosso dia a dia tem como base o trabalho árduo de uns poucos indivíduos fechados em laboratórios, mal pagos, explorados e esquecidos e que se dedicaram (por vezes toda a sua vida) a criar conhecimento aparentemente "inútil" para o mundo capitalista (entenda-se, sem comercialização imediata). Lembremo-nos da dupla hélice. Ou da tabela periódica. Ou da estrutura de um átomo. Ou do papel da flavina adenina dinucleótido. Este conhecimento fundamental, no entanto, integrado anos e décadas mais tarde com outras descobertas (algumas de dimensão aparentemente irrisória) e novas técnicas permitiu que hoje tenhamos medicina molecular, que não matemos os piolhos dos nossos filhos com DDT, que tagarelemos sem parar usando telemóveis e que tenhamos veículos mais ou menos ecológicos que se recusam a andar se nos esquecermos do cinto de segurança e de lavar os dentes.
. (des)investimento em ciên...
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