o conceito de Democracia, para tipos como o Pacheco Pereira é como a cor dos modelos T para Henry Ford: "podem escolher a cor que quiserem, desde que seja preto".
Pois é. A CIA mentiu sobre os motivos que levaram à invasão do Iraque (que novidade), baseados nas mentiras (pelos vistos já sobejamente conhecidas) de um tipo que diz que derrubar um tiranete justifica a morte de muitos milhares de seus conterrâneos, fome, miséria, ocupação estrangeira, terrorismo e funtamentalismo religioso (como alternativa a ser um tretas patológico). Pois.
Das duas uma: ou a CIA é o mais imbecil e incompetente serviço secreto do mundo (o termo "intelligence" reveste-se, aqui, de um certo humor) ou então estava a par de tudo e decidiu dar uma ajudinha aos accionistas das empresas de armamento, petróleo e contrução que chafurdam (ainda) no Iraque e que por coincidência financiaram a campanha do então presidente.
Por cá, tal como lá, ou como em todo o lado, para o efeito, a direita agarrou-se a esta guerra como se estivesse a jogar ao bate-pé. Aparentemente, as democracias podem mentir, enganar e enviar cidadãos para guerras de legalidade, no mínimo, duvidosa, desde que tal sirva os desígnios de poucos e, acima de tudo, chateie a "esquerda". Quem quer que seja. Faz lembrar fantasmas antigos: antes das purgas de Estaline, os comunistas eram injuriosamente apelidados de "pacifistas" e, pior ainda, de "promotores do amor-livre". Lembro-me que na altura foi muito interessante ler a crónica deste senhor Pacheco, respondendo ao escritor Mia Couto, muito ou pouco comunista mas bastante pacifista. Para quem a leu, fica claro o verdadeiro significado de Democracia para a massa intelectual de direita. Pode propagandear alarvidades militaristas e outras tretas, prender sem justa causa, torturar, matar e ainda exigir aos contribuintes que paguem tudo isso. Em nome de mentiras convenientes. Considerando a enorme vantagem financeira que alguém arrecadou com esta (e outras) guerras, o termo capitalistamente correcto a aplicar a este caso é "empreendedorismo" de sucesso.
O novo século trouxe uma nova guerra e uma nova arma. Esqueçam as bombas, da A à H. A nova arma é a especulação financeira. Para quem não percebeu: existe uma guerra entre os EUA e a China e a Europa é uma nova planície de Verdun. Os países da orla europeia, entenda-se os PIGS (nós, os gregos os espanhóis e os irlandeses), são os alvos mais fáceis, como se de fracas, velhas e obsoletas fortalezas nos tratássemos. A arma é simples: alguém especula que não conseguimos pagar as dívidas e lá vem o espectro do fim do Euro, da UE e da perda de uma enorme fonte de receita para os Chineses, que detêm a maior reserva da moeda fora da União. Um dia talvez que expliquem quem manda da Moody's e a soldo de quem, embora talvez as explicações não venham trazer nada de novo.
Agradecem os Coelhos Laranja que já salivam diante do trono do poder & seus amiguitos. Talvez até gostem da ideia de ter o FMI a mandar nisto em vez deles - é a suprema desresponsabilização. Como a carneirada como toda a erva que lhe atiram comentadores de treta e políticos oportunistas, co-adjuvados por uns carneiros pantomineiros que se auto-intitulam de jornalistas mas que não passam de jornaleiros, tudo é possível. Até mesmo, veja-se!, transformar uma crise gerada pelos mais básicos princípios capitalistas numa crise do estado social, numa altura em que mais necessitamos dele.
Patético continente este. Sem líderes, sem cérebros, sem europeus. Colonizados estamos desde o plano Marshall, colonizados continuaremos enquanto os líderes que nos regem preferirem ser as rameiras de potências estrangeiras a trabalhar com os antigos rivais de outras guerras.
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