Sexta-feira, 14 de Outubro de 2011

...ora aí está...

Proponho que sejam passadas em revistas todas as grandes vitórias do neo-liberalismo português, encimado por este nosso novo governo que tanto nos afoitámos por eleger:

 

1) Acabaram-se a saúde, educação e transportes verdadeiramente públicos e gratuitos ou de custo simbólico.

2) Acabaram-se os despedimentos com justa causa. Ficaram só os despedimentos.
3) Acabaram-se com as indemnizações dignas desse nome por despedimento seja de que tipo for.

4) Acabaram-se as férias pagas.

5) Acabou-se o conceito de bem de primeira necessidade. A electricidade é cara, o gás também, a água para lá caminha. Privatize-se o ar também, porque não.

 

Em troca recebemos:

 

1) Menos ordenado.

2) Maior carga fiscal.

3) Menor poder de compra.

4) Pior qualidade de vida.

 

E para quê, afinal? Para que os Amorins, Azevedos, van Zelleres, Mellos, Balsemões e outros figurões não paguem impostos em condições.

 

Assim sendo, todo um século de vitórias conseguidas a ferro pelos povos foi definitivamente enterrado. Eis-nos, portanto, regressados ao século XIX. Um detalhe curioso, contudo: no século XIX os estados já estavam endividados. Aparentemente,já então, esta merda toda de nada mais serviu, serve ou servirá, do que a manutenção do status quo de um punhado de ricos. 

 

 

Sugiro que acordemos.  Dia 15 para a rua.


publicado por Harpad às 00:14
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Domingo, 27 de Março de 2011

afinal, para quê?

Para quê, afinal, eis a questão. Logo a seguir à telenovela do PEC IV, o PSD já assumiu perante a UE que o vai cumprir e que está disposto a adicionar mais medidas ainda. Foi para isto que, com a plácida (mas calculada) conivência dos partidos ditos "de esquerda" do parlamento, se deixou o país à mercê do FMI, do BCE e dos especuladores? Foi para isto que as agências de rating (que um dia gostaria que me explicassem exactamente quem são e a serviço de quem) nos pregaram mais um prego no caixão? Eu, e todos os que se deram a esse trabalho, ouvi o senhor Coelho a criticar o PEC IV pela abusiva austeridade que irá impôr aos portugueses. Pelos vistos, esse discurso durou até à demissão do governo. Antes, contudo, já tinha assistido à senhora Ferreira Leite dirigir-se ao Parlamento dizendo que "estas medidas" podem não ser más "nas mãos de outro governo" que "inspire mais confiança". Confiança a quem e porquê?

 

Parece-me que os portugueses não entenderam, ou não querem entender, o que realmente está em jogo. O laranjal quer o FMI. Quere-o porque é o pretexto perfeito para a aplicação das medidas que há muito almejam: extinguir os serviços públicos e transformá-los em negócios, aumentar ainda mais a precariedade dos trabalhadores em nome da competitividade (já se falou em contratos "orais", baixar o ordenado mínimo, acabar com o 13º mês, facilitar os despedimentos) e aumentar o IVA. Juntem-se mais algumas medidas inevitáveis a que o FMI nos vai obrigar, como por exemplo obrigar os bancos a dificultar o acesso ao crédito, em nome da saúde da banca (imagine-se o resultado para as pequenas é médias empresas e para o português comum).

 

A avaliar pelas sondagens com que o jornaleirismo sabujo prontamente nos prendou logo a seguir à demissão do PM, penso que pelo menos metade de nós ainda não percebeu que a qualidade de vida que ainda tem vai desaparecer dentro de um ano ou menos. A curto prazo, acabou-se o carrinho novo, o sofá a crédito e o T3 em Loures. Acabaram-se as feriazinhas na Caparica, o ecrã de plasma e a televisão por cabo com os suplementares canais de desporto. A médio prazo, acabou-se o pão na mesa. Talvez então entendamos.

 

A culpa é do Sócrates? Não, a culpa é nossa; principalmente dos que têm saudades de Salazar porque nesses tempos pouco se pensava, com o pretexto de que era proibido.


publicado por Harpad às 22:29
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Segunda-feira, 27 de Julho de 2009

XXI Ocidental - II

A História é cíclica. Parece repetir-se com um movimento pendular. O século XXI inicia-se em moldes semelhantes aos do século que lhe precedeu: a sociedade voltou ao falso puritanismo, ao conservadorismo, ao louvor da riqueza e da posse e até ao nacionalismo. Libertas do fardo da Guerra Fria e do inevitável debate "esquerda"/direita" que despoletou, as massas renegaram os ideais e tornaram-se sedentas de luxo. A sangria de riqueza dos mercados para os bolsos de poucos levaram milhões a endividar-se, afinal, numa tentativa de perseguir vã de perseguir o Grande Sonho Capitalista que lhes é prometido pelo menos desde a XX Grande Guerra. O resultado é uma Crise, aparentemente uma de entre muitas apregoadas como bandeiras de propaganda política (e como justificação da inépcia). Dir-se-iam consecutivas, embora esta pareça mais real e mais forte.

A abstenção aumenta em todos os países desenvolvidos. Por todo o lado despontam críticos mas não verdadeiros pensadores. Os novos meios de comunicação, ao invés de se tornarem veículos de ideais e ideais são refúgios solitários onde poucos escapam à regra do anonimato porque a tal luxo se podem dar. Existem represálias, sim. Casos não faltam, murmurados pelos cantos dos jornais. Anos antes seriam considerados verdadeiros escândalos, de momento ninguém se interessa. Agora não são necessárias polícias políticas mas apenas uma sociedade perfeitamente capaz de se auto-censurar com tenacidade. A liberdade perde valor, a democracia nada significa para muitos que dela usufruem. De bom grado ambas são trocadas pela ilusão do Grande Sonho.

Os verdadeiros valores foram esquecidos. Longe dos tempos de fome, os habitantes do mundo civilizado pouco se interessam pelo social, por tudo o que não seja imediatamente satisfatório, pelo vizinho. Não há líderes, apenas críticos e oportunistas. A política democrática, ao invés de estar nas mãos dos povos está entregue a um grupo de políticos profissionais que vieram substituir a aristocracia de tempos idos mas que representa, ainda e sempre, os interesses da burguesia. Longe dos tempos de fome? A história repete-se, convém lembrarmo-nos. Pela primeira vez em muito tempo existe uma geração de jovens trabalhadores de países desenvolvidos com menos qualidade de vida, e futuro, do que os seus pais. Crise? A História repete-se. E mesmo quando esta crise se encontra prevista desde 1847 .


publicado por Harpad às 01:56
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Domingo, 25 de Novembro de 2007

A atracção pelo capitalismo - I

Este fim–de–semana um homem aproximou–se de mim enquanto eu aproveitava os últimos raios de sol numa esplanada e pediu–me uma esmola. Explicou–me que só precisava do suficiente para um bilhete de comboio para voltar para casa. É romeno, tem quatro filhos e não tem trabalho. E é engenheiro agrário. Dei–lhe os poucos trocos que tinha e tudo o mais que pude fazer foi desejar–lhe boa sorte.
 
No mesmo fim–de–semana em que surgiram na imprensa novas notícias sobre a exploração de trabalhadores portugueses em países tão civilizados e tão europeus quanto a Holanda, é caso para perguntar o que, afinal, nós, mundo ocidental capitalista, dito civilizado e democrático, temos para oferecer. Aos cidadãos–comuns, àqueles que estão na trincheira das cidades, das empresas, postos públicos, nas filas de espera de centros de emprego, segurança social e hospitais não muito, na verdade. O que acenamos diante da prole é tudo aquilo que é irrisório parente a necessidade de um homem alimentar os seus quatro filhos, são os electrodomésticos, as roupas de marca, os leitores portáteis de mp3, os telemóveis de n–ésima geração e os automóveis velozes. E fazemo–lo confiantes de que isto é a verdadeira democracia. A democracia já não é o livre pensamento nem a livre escolha dos nossos governantes mas sim a livre escolha de produtos em escaparates de supermercados e similares.
 
Nós trocamos a vida dos nossos semelhantes pelo direito ao luxo e pela crença de que um dia teremos direito aos nossos quinze minutos de glória. Fazemo–lo porque o luxo não é compatível com um estado social: o mundo capitalista vive muito acima das suas capacidades, como se pode comprovar pelo aumento da inflação, do endividamento e da necessidade de se obter um crescimento económico apreciável para que ainda consigamos ser sustentáveis. Não abdicamos do luxo em prol do investimento, da criação de emprego nem da manutenção de um estado que consiga salvaguardar o bem–estar da maioria, incluindo o dos imigrantes de quem tanto dependemos.  Quanto muito, manifestamo–nos quando as filas dos hospitais são já incomportáveis, como se estivéssemos à espera que a riqueza necessária para manter os serviços públicos essenciais caísse das árvores. Para tal, há que pagar impostos e cobrar mais aos ricos, para quem muitas leis são feitas por corrupção e favorecimento, e que claramente preferem mudar de carro a empregar mais um trabalhador quando os lucros sopram de feição. No nosso país é flagrante como os empresários preferem lanças opazinhas uns aos outros a criar sucursais, investir no estrangeiro e a permitir carreiras de sucesso aos seus trabalhadores.
 
E nós, clamamos por justiça, ou no fundo invejamos aqueles a quem a injustiça social mais favorece?

publicado por Harpad às 18:20
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Domingo, 4 de Novembro de 2007

A destruissão do encino público

Estão de regresso novas polémicas e novas discussões públicas sobre o ensino público em Portugal, como costuma acontecer sempre que nossa ministra da educação e seu gangue mexe em algo fundamental no sistema de ensino. Para esta malta do induquês e afins, na sua grande maioria professores frustrados demasiado tempo afastados das verdadeiras fileiras do ensino público, é fácil teorizar e escrever imensos livros, normas e leis sobre um assunto que desconhecem inteiramente e cuja finalidade nunca entenderam completamente. Este, contudo, não é um problema exclusivamente nosso mas sim uma linha de pensamento comum à União Europeia e ao resto do mundo dito civilizado.

 

O ensino público existe para que toda a população tenha acesso integral à educação, logo, às mesmas hipóteses de integração no panorama intelectual e profissional, de todas as classes sociais, algo que, por motivos óbvios, o ensino privado jamais irá garantir, independentemente da qualidade. Não é, portanto, de estranhar, que se assanhem as trincheiras neo–liberais, cuja última coisa que pretendem é ver malta saída dos bairros e subúrbios mais desfavorecidos a lutar de igual para igual com os filhos e netos. Por outro lado, o ensino público, gratuito e uniforme em conteúdos e exigência deveria começar a inculcar uma cultura de mérito às gerações mais jovens, ou seja, a ideia de que por esforço e trabalho e não por direito de paternidade, riqueza e influência se pode chegar a qualquer lado. E ainda hoje não é isto que acontece: um miúdo de um meio pobre sair de casa dos pais iletrados que largaram a pele para que ele pudesse estudar em cada milhão de putos não é um bom resultado, por mais crónicas e propaganda que disso se faça, mas sim um outlier, estatisticamente falando.

 

O ensino público, ao contrário de tudo aquilo que defende esta nossa Europa liberal, não representa a percentagem de um défice, mas sim uma mais–valia colectável a médio e longo prazo (um conceito que o capitalismo absolutamente abomina) e uma mais–valia indispensável na manutenção na democracia e da superioridade do mundo democrático a todos os níveis – do científico e cultural ao económico e até militar. Com a destruição do ensino público estamos, portanto, a entregar os postos sociais de topo a uma elite que pode pagar o ensino privado e assim atiramos para o esquecimento todo o potencial da grande maioria da população que não tem pais ricos e que nem pode pedir dinheiro ao banco. E tudo isto enquanto vamos ficando dependente da mão–de–obra qualificada importada do estrangeiro, como fazem há muito os norte–americanos, o que representa uma estratégia bestial no que respeita a contenção de custos: os países pobres que invistam em cérebros que nós ficamos com eles para trabalharem por nós e para nós. País atrasado como somos, ainda estamos na fase de exportação de matéria cinzenta. Até ver.

 

O facilitismo que os ministérios da educação de sucessivos governos (sim, porque este problema já se arrasta há muito) pretendem entranhar no nosso ensino não passa de uma e, entenda–se, de apenas mais uma, tentativa de desacreditar, a pouco e pouco, todo e qualquer sistema de ensino público. Recentemente, o maior passo dado neste sentido até à data foi a ratificação do Tratado de Bolonha – e este a nível europeu o que prova até que ponto a União está interessada em desinvestir em políticas sociais de educação e de criar uma espécie de elite intelectual europeia na mão de algumas (poucas) universidades e escolas (e de países?). Paralelamente a esta questão segue a substituição e humilhação dos professores competentes e a destruição da sua, já de si complicada, carreira e a progressiva redução dos programas lectivos a uma espécie de cartilha maternal para mentecaptos cujo único objectivo é dar de forma barata, rápida e fácil diplomas aos europeus, preferencialmente aos brancos, indígenas e ricos.

 

Não é por acaso que a fidalguia neo–liberal se eriça contra tudo o que seja social, especialmente o ensino, e assim é por motivos mais viscerais do que simplesmente a desintegração do estado social em várias oportunidades de negócio: é que a Democracia, por definição, não se compadece com o alastramento da ignorância e da iliteracia (ainda que premiados por um diploma) nem o conhecimento com a tirania, incluindo a tirania do luxo que se tenta vender como Liberdade.


publicado por Harpad às 01:52
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